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FIM DE SEMANA

Mananciais pedem socorro

Com a proximidade do Dia da Água - na próxima quarta-feira (22) - DM mostra como está a qualidade dos principais rios riachos e córregos de Goiânia

Rio Meia Ponte é o único rio da cidade e possui uma enorme importância, já que juntamente com o Ribeirão João Leite (RJL), é responsável pelo abastecimento da capital

Reservatório do Ribeirão João Leite fornece água para mais de um milhão de pessoas ( Foto: Semad)

Rariana Pinheiro

Como já disse Leonardo da Vinci, a água é o veículo da natureza”. É em torno dela que surgiram grandes civilizações que, por sinal, não cuidam de seus recursos naturais de forma sustentável. A bacia hidrográfica de Goiânia, por exemplo, ajudou a determinar a escolha desta região para que se construísse esta capital. Ela abastece a cidade, movimenta o ecossistema e faz a vida acontecer. Porém, é preciso também dizer que os cursos de água da cidade vêm sendo - literalmente - engolidos pelo “progresso”.

A devastação ambiental tem atingido este recurso natural e as consequências já podem ser sentidas cada dia mais através de alagamentos, deslizamentos e secas rigorosas. Logo com a aproximação do Dia da Água - que é celebrado nesta quarta-feira (22), vale a pena a discussão de como estão sendo cuidados os rios que cortam o município.

Goiana possui ao todo cinco mananciais catalogados pela Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA). São quatro ribeirões: João Leite Capivara e Anicuns e Dourados e existem ainda 80 córregos. O Meia Ponte é o único rio e possui uma enorme importância, já que juntamente com Ribeirão João Leite (RJL), é responsável pelo abastecimento da capital.

As águas do Meia Ponte para uso da população não são retiradas no curso que o rio faz na cidade. Pois, a poluição polui o rio que em alguns pontos exala mau cheiro. Por este motivo é o curso de água mais problemático da cidade, afirma o presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto.

“Na verdade, nenhum rio de Goiânia pode-se tomar banhos ou beber água. Nem nas nascentes, porque os lençóis também estão poluídos. Mas o Meia Ponte melhorou bastante. Antigamente, se jogava o esgoto in natura. Hoje a estação de esgoto trata em torno de 70% das águas ", explica Gerson Neto.

Para despoluir os rios da cidade, ele acredita que a população precisa se aproximar deles, além de medidas do poder público. “Teria que punir esgotos clandestinos e fazer uma campanha de educação para não poluir ruas, já que a poluição chega também pelas bocas de lobo. A mata ciliar em torno de rios também ajudaria na despoluição e poderia evitar acidentes, como o do rapaz que foi levado pela enxurrada do Córrego Cascavel”, sugere.

Gerson Neto, Presidente da ARCA: Para despoluir rios seria necessário punir esgotos clandestinos, entre outras medidas (Foto: Arquivo pessoal)

Desequilíbrio

Além da poluição, outro problema atinge os cursos de água na capital. Conforme medições via satélites, realizadas pela organização MapBiomas, responsável por monitorar as mudanças ambientais no país de 1985 a 2020, os cursos naturais de água na capital deixaram de cobrir 56 hectares de superfície, uma redução de 77%.

Outro estudo feito, pela mesma organização, constatou que cerca de 130 hectares de APPs hídricas da capital possuem construções ou obras de infraestrutura. O número representa 6% da área total das Apps ao longo dos rios.

Para o presidente da Arca, Gerson Neto, o desrespeito às Áreas de Preservação Permanente (Apps), as construções irregulares - ou até autorizadas pela Prefeitura - são os principais fatores que destroem os rios da capital.

“Essas áreas de APPS são áreas de várzeas dos rios, que enchem quando ocorrem as chuvas torrenciais. Por isso, é preciso atentar para o fato de que os rios, além de berço de vida e biodiversidade, são a drenagem natural do território das águas da chuva ", diz ele, ressaltando que ao construir nessas áreas, há consequências para a sociedade e natureza.

Isso porque, ele explica que os rios não estão em determinados locais por acaso e, sim, por conta de milhões de anos de evolução geológica do terreno. Por isso, explica que altera o seu curso, a tendência é que o rio volte para aquele ponto por causa da lei da gravidade.

"Não há como fazer a água desaparecer do nada ou aparecer água onde não tem. A água obedece às leis da física. Não deve haver obras de engenharia para corrigir o curso dos rios como a retificação como aconteceu no Córrego Botafogo”.

Ele conta que no Botafogo foi feito uma correção para deixar o córrego - que naturalmente tem curvas - reto e, assim, foi construída a Marginal Botafogo em suas margens. Para ele, foi um tremendo erro.

“As águas continuam passando por baixo e mexendo o aterro do lugar. Por isso, ano sim, ano não temos que fazer obras de correção por causa da instabilidade de terreno. Essa área não deveria ter uma marginal e, sim, ser um ambiente preservado para obedecer a drenagem natural do terreno e não sofrer risco de deslizamentos e inundações em caso de chuvas torrenciais”


		Mananciais pedem socorro
Rariana Pinheiro

Em vários pontos do Meia Ponte são encontrados objetos, descartados pela população, que poluem o rio Martine Perret/ONU Meio Ambiente

Áreas de risco próximas a córregos da cidade

Outros locais em que houve construções em APPs, segundo Gerson Neto, se multiplicam na cidade. “Na região do Córrego Caveirinha construíram um shopping praticamente dentro dele, no Córrego Palmito, na região do Jardim Novo Mundo há muitas áreas de risco de desmoronamento. A Vila Roriz foi construída na várzea do rio”, aponta.

Já o Córrego Buritis, ele acredita que seja um dos mais agredidos da capital. Sua nascente oficial está localizada no Clube dos Oficiais e, segundo ele, recentemente, um lote naquela área foi leiloado pelo Governo Federal por uma empresa que quer construir ali um supermercado. “Será mais uma área que temos o risco de perder para ocupação irresponsável", lamenta.

Proteção?

Uma das vantagens da formação da capital que o presidente da Arca aponta é a de ter nascentes de córregos protegidas por parques, como acontece com o Capim Puba, cuja nascente está no Parque Zoológico, e o Córrego Vaca Brava no parque de mesmo nome. Porém, acrescenta que há um agravante.

“Comogrande parte das nascentes são difusas e também se concentram em diversos locais, foram construídos prédios ao redor dos parques. Vendiam parques como quintais pressionando a nascente e fazendo com que perdessem sua vitalidade, tanto na questão biológica, como de drenagem”

Bacia hidrográfica pesou na escolha da região de Goiana?

Para o historiador Lúcius Jacob, este foi um dos fatos que pesou na decisão, tendo em vista que, na cidade de Goiás os Rios do Bacalhau da Carioca, na estiagem, ficavam com pouca água. Mas ele argumenta que outras questões foram ainda mais decisivas na mudança.

Ele conta que o fato da antiga capital, a Cidade de Goiás estar ligada às oligarquias que travavam o desenvolvimento, a Marcha Para Oeste, além de outras questões, foram fundamentais.

“Acabaram escolhendo essa região, não necessariamente pela bacia hidrográfica, mas também pelo suporte econômico de Campinas. Mas os córregos e Rios e ribeirões foram uma questão importante na transferência e planejamento”.

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