Home / Coronavírus

CORONAVÍRUS

A melodia da dor: histórias musicais de quem perdeu parentes para a covid-19

A pandemia de covid-19 deslocou a função social da música de volta à sua origem: a perda. Em outras palavras, a música tem aplacado o sofrimento de várias famílias, que perderam seus entes.

Ao som de acordes e melodias dramáticos, os músicos desta tragédia têm comovido primeiro os familiares; depois, quem recebe os vídeos viralizados.

Apesar de reduzidos, os funerais contam com celebrações de passagens emocionantes.

O som organizado, fúnebre ou não, arrefece a dor e acalma o choro desde tempos antigos.

Um dos vídeos virais que circula nas redes mostra o filho que toca violino para a mãe morta. É pura dor. O caso ocorreu no Cemitério de Messianópolis, distrito de Moiporá, em Goiás. Rafael Borges, 20, aparece com execução impecável até que começa a fraquejar pela dor da morte da mãe, exaurida pelo vírus em oito dias. Em um dado momento, no último domingo, 14, ele se coloca no chão e carrega todo sofrimento da família.

A cena causa arrepios e choro na maioria das pessoas.

A música instrumental é o hino da Congregação Cristã “Que bela herança”, uma das favoritas da mãe Selma Borges.

Outra história, também em Goiás, agora em Trindade, mostra Jhonny Cristian, emocionado com a morte do avô Humberto Batista.

Jhonny Cristiano perdeu o avô Humberto Batista

O neto aparece com seu violão e o celebra cantando. A música se chama “Ar”.

Medusa

Todos os músicos desta tragédia imitam a origem da música em sua base mais ancestral: o sofrimento de perder o que aprendemos a gostar.

A primeira procedência da música retorna à mitologia produzida há mais de 2.500 anos. Após a decapitação da personagem Medusa, violência realizada com apoio de Palas-Atena, teria ocorrido um fato comovente: as irmãs de Medusa mostraram um imenso sofrimento a ponto de sensibilizar Atena.

Assim, tocada, Palas-Atena cria nomos, as primeiras melodias que se separam dos sons da natureza. A música surge para ‘curar’ a dor.

Alguns teóricos da antropologia especulam que os cânticos tenham surgido logo em seguida ao ‘amor’, quando, possivelmente, o Homo ergaster, que viveu há 1.2 milhão, ou posteriores, passa a enterrar seus iguais e não deixá-los expostos para o ataque dos animais selvagens.

Era quando, após o enterro, lamentavam com profunda dor até seguirem para a jornada humana pela terra. Com uma proto-voz e sons de gestos, supõe se que ecoavam o desespero.

Mesmo com tantos pacotes tecnológicos, aparatos mecânicos, naves espaciais, é a melodia que acalma aqueles que ali foram se despedir nos cemitérios de Moiporá, Trindade e tantos outros.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias