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COTIDIANO

Política de emancipação do produtor de leite

Josias Luiz Guimarães Especial para  Opiniãopública

Tanto o leite como o feijão são alimentos indispensáveis à mesa do consumidor, o primeiro é produzido diariamente; uma constante na vida laboriosa do produtor, constitui receita vital, na manutenção da propriedade e da família; embora sua importância socioeconômica, o seu preço, em vez de negociado, entre as partes, compradores e vendedores, como é próprio do sistema democrático, é impositivo, unilateral. Por ser produto gravoso, altamente perecível, uma vez produzido, tem que ser beneficiado imediatamente, carece, pelo seu alto valor nutritivo, de política especial, como determina o artigo 187 da atual constituição, alínea II, “preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização”; mas, isto não acontece; o criador sofre toda sorte de vicissitudes, a negociação com o laticínio relembra, em muito, àquela do servo-senhor, praticada, há séculos, na era do rei figura divina, senhor feudal, ou, ainda a da fábula milenar de Sófocles: da corsa, com a raposa e o leão, onde a primeira pergunta, de longe: quais são meus direitos? Ao que respondem, em tom uníssono, mostre-nos seus dentes e lhe diremos quais são eles! Na realidade são presas inermes, nas garras prepotentes dos processadores do precioso alimento. Torna-se oportuno ressaltar que, a Lei Agrícola, nunca foi aprovada no seu todo; jaz insepulta, na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, até hoje. Já a cultura do feijão é sazonal, ocorria, antigamente, plantada, de forma empírica, em consorciação com o cultivo do milho; agora, com a agricultura moderna, é cultivado mecanicamente, no cerrado e irrigado, seu custo de produção é, portanto, alto, carece, dessa forma, também, de proteção da lei, como isso não acontece, leva muitos produtores à bancarrota, aí, eles param de plantar e os preços disparam, onerando o orçamento da sociedade consumidora, como na atual conjuntura. Todavia, o drama do produtor de leite é muito maior, vem se arrastando, ao longo de anos, carece de providencias dos governantes, contratados pelo voto, para exercitar a política, como a arte de promover o bem estar; quase todos os discursos do governo falam, em redistribuição de renda e, com razão, pois, o nosso país continua ocupar, segundo a ONU, o quinto lugar no ranking dos maiores concentradores de renda do planeta. A política, na pecuária leiteira, vem-se fazendo, às avessas, com milhares de produtores, entregando o leite aos laticínios, abaixo do custo, praticam, deste modo, redistribuição de renda invertida, melhor, concentrando renda, nas mãos dos grandalhões, cartel do leite. Enquanto os criadores enfrentam, como é próprio das lides do campo: lama, poeira, sol e chuva, preços aviltantes, os laticínios, vivem no asfalto, ar condicionado, sombra e água fresca. Em virtude dessa política de terra arrasada, Goiás que era o segundo maior produtor de leite do país, em vez de crescer, atingir o primeiro, o que seria natural, pela sua vocação singular, caiu para o quarto lugar; Minas, Rio Grande do Sul e Paraná, ocupam, graças aos investimentos feitos, os primeiros lugares. Há mais de 20 anos, o estado patina, na casa dos dois e meio a três bilhões de litros ano, em 2014, três bilhões e duzentos milhões, houvesse uma política Legal, ao longo desse tempo, estaria tirando, na atual conjuntura, mais do dobro da atual produção, para isto, precisaria de uma política de incentivo a industrialização e comercialização, pelo menos da metade da produção, nos municípios, campanha de estímulo ao consumo, pois, o atual é muito baixo, inferior ao padrão recomendado pela FAO, e, exportação, quem sabe, lá para a faminta Venezuela, trocando por petróleo, lá o preço ao consumidor é baratinho, o nosso custa o olho da cara, também, propinado, como se pode constatar, pelo escândalo corruptivo da Petrobras, creio, o maior do mundo. Segundo mesma fonte, a fome ronda o mundo. Esse beneficiamento poderia ser feito pelos próprios ruralistas do ramo, em associações ou cooperativas; médias e pequenas fábricas, consoante a produção regional, ou até local, capazes de agregar valor, qualidade, beneficiando milhões de criadores, agentes de produção, no entanto, marginalizados do lucro, renda de sua própria faina laboriosa. São, na realidade, vítimas da ação de sucessivas políticas velhacas, atreladas à corrente maquiavélica. O governo, em ação impensada, ludibriado, ao que parece, por assessoria estrábica, promoveu, o sucateamento da rede de extensão rural, organismo responsável pela assistência técnica, econômica e social aos ruralistas; logo ele, que poderia ter aprimorado-a bem mais, fazendo-a atuar, com força de progresso, como dantes, praticou o contrário, burocratizando toda a sua estrutura político administrativa. Logo os produtores leiteiros que já ensaiavam, por meio do associativismo, a comercialização, compra de insumos e venda da safra, em conjunto, por falta de continuidade do programa, tornaram-se presas inermes, nas garras das aves de rapina. Os cartéis pode ser alavanca motora do crescimento econômico, no entanto, como determina o próprio neoliberalismo, eles têm que ser controlados, disciplinados pelo estado, para não abusar de seu poder de pressão, de igual forma, os gestores públicos. Essa política de industrialização da matéria prima, na fonte produtora, pode ser financiada pelo o FCO, beneficiando a fonte produtora, descentralizando a aplicação de capital, oriundo dos impostos pagos por todos, passando, assim, a ocupar, mão de obra ociosa, no município, revertendo o fluxo migratório do interior para a capital, benevolente, e, ao mesmo tempo leniente com as metrópoles congestionadas, lesiva ao progresso das cidades interioranas, ao furtar delas, oportunidade de agregação de valores, serviços, impostos, progresso e bem estar.

(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em Filosofia Política pela PUC-GO, produtor rural)

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