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Retirada de ovários não garante fim de pesadelo do câncer

Beto Silva

A saúde da mulher importa inúmeras características  que a diferencia do homem. A começar da preocupação institucional. Não é à toa, por exemplo, que existam inúmeras campanhas para tratamento da saúde feminina. E especializações cada vez mais concentradas em ações destinadas a este público.

Os riscos também são maiores. E igualmente as decisões de coragem diante dos desafios de saúde. Que o diga a atriz e cineasta Angelina Jolie. Depois de realizar a mastectomia dos seios, há dois anos, ela retirou agora os ovários e trompas de falópio.

A atitude de Jolie coloca em debate duas correntes: os médicos que defendem a ação com ardor e aqueles que apresentam ressalvas. Das duas, uma: quase sempre existem perdas. A atriz símbolo sexual de Hollywood é hoje uma mulher mutilada.

O caso de Angelina Jolie a aproxima do drama de qualquer mulher. Estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) estima que pelo menos uma mulher ao dia receba a notícia de que que carrega o gene BRCA1 com mutações – que provoca a doença fatal.

A salpingo-ooforectomia bilateral laparoscópica, intervenção que a atriz realizou e divulgou ontem, acelera o processo de menopausa e  provoca evidentemente a esterilidade da mulher.

As chamadas cirurgias preventivas visam arrancar o mal pela raiz. O caso de Jolie é clássico: existe um histórico na família de luta contra a doença. Mãe, avó e tia morreram com a variação do tumor provocada pelo BRCA1.

Conforme pesquisas na área médica, a mutação no gene BRCA1 representa um risco de 87% para o desenvolvimento do câncer de mama e 50% para o câncer de ovário.

Em artigo, o médico Ruffo Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e também médico na Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que uma pesquisa da UFG constatou que 22% dos casos de câncer de mama no Brasil ocorrem com mulheres entre 40 e 49 anos.

Atitude drástica

A luta contra a doença obriga, assim, a tomada de atitudes no auge da vida sexual e profissional. O dilema de Jolie, logo, é o dilema de grande parte das mulheres. Aos 39 anos, ela está praticamente na idade de risco apontada pela pesquisa divulgada por Ruffo Freitas Júnior como.

Marcelo A. Calil, diretor-médico do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), reconhece a gravidade da presença do BRCA1. Mas apresenta questionamentos: primeiro, mesmo com a retirada dos ovários a paciente pode desenvolver a doença.

Calil explica que uma mulher na situação de Jolie terá que realiza reposição homronal para que não venha a ter problemas cardíacos e osteoporose.  É possível ainda que ocorra uma alteração da pele da atriz.

O caso do câncer de ovário, agora evitado por Jolie ao menos na teoria, tem uma grande incidência. Estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de apenas no ano passado o País tenha registrado 5.680 novos casos.

Jesus Paula Carvalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é mais incisivo na necessidade da atriz – e de mulheres em sua situação – realizarem a cirurgia. “Trata-se de doença fatal. O fato é que o câncer de ovário é ainda mais grave. Já o de mama é curável. O de ovários não”, explica o médico que ressalta o caráter grave da cirurgia, mas necessário em casos mais drásticos de históricos familiares com presença da mutação.

O dilema de Angelina Jolie

  •    A atriz já havia feito a mastectomia preventiva, quando retirou os seios, para evitar que tenha o câncer de mama
  •   Angelina Jolie é portadora do gene BRAC1. Ela optou por retirar as trompas de falópio e os ovários, mas manteve o útero

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