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Chocolate terapêutico é saudável

Divania Rodrigues Da editoria de Cidades

Pessoas que não podem comer chocolate nessa época, em que mais se consome o doce, podem se sentir excluídas ou constrangidas ao ganharem presentes que não poderão comer. Porém, diabéticos, intolerantes à lactose ou ao glúten podem comer um tipo de chocolate conhecido como terapêutico. Quem está de dieta ou crianças com dificuldade de ingerir remédios em cápsulas também podem se beneficiar com o doce.

O chocolate terapêutico é produzido com alto teor de cacau orgânico em pó e não possui a adição de gorduras, açúcar, glúten e nem lactose. Ele é adoçado com sucralose – adoçante sem calorias, feito a partir do açúcar – e tem somente 23 quilocalorias (kcal) por unidade.

O doce é vendido em dosagens individuais de cinco gramas em farmácias de manipulação. Por causa do alto teor de cacau (54%) tem sabor um pouco mais amargo do que o chocolate ao leite comum. Também podem ser encontrados saborizados com café, menta, cereja e morango.

Mocinho ou

vilão?

Muitas pesquisas dizem que o chocolate é vilão, porém, no mundo acadêmico estas são encaradas de forma cética já que outros estudos mostram que o doce pode favorecer a saúde. Os especialistas, então, de maneira geral e sem avaliar o caso específico de cada pessoa, aconselham que o consumo seja feito de forma moderada – em baixas quantidades por dia – e que se dê preferência aos com gosto mais amargos que tem mais teor de cacau e menos adição de gorduras e açúcares.

A farmacêutica Andréia Pimentel, da Farmácia Artesanal, explica que o chocolate é considerado bom para a saúde, pois é rico em flavonoides que agem como antioxidantes, que são capazes de retardar o envelhecimento das células. O doce também é capaz de proporcionar sensações associadas ao bem-estar, de acordo com especialistas por aumentar a produção de endorfina e da dopamina.

Doce remédio

Como a fórmula do doce é manipulável permite a adição de outros determinados ativos. A farmacêutica explica que muitos podem manipular o chocolate e transformá-lo em um remédio. Dependendo da fórmula, podem auxiliar na redução de peso, dando saciedade ou no controle da compulsão por doces.

Andréia explica que, nesses casos, a fórmula é indicada por médicos e nutricionistas e tem doses diárias definidas em receita médica. Em casos que não há a adição de princípios ativos, o chocolate terapêutico pode-se consumir até três unidades ao dia, por causa do baixo teor calórico. Outro diferencial é que a forma farmacêutica pode ser tornar atrativa para crianças ou pessoas que têm problemas em deglutir cápsulas e ingerir certos medicamentos.

Seguindo a tendência do aumento de vendas, a procura pelo chocolate terapêutico também aumentou nas semanas que antecedem a Páscoa, sinal de que

muitos estão preocupados com a própria saúde e de presentear amigos e familiares, mesmo que estes possuam problemas ao consumir o doce mais comum.

Cacauicultores e pesquisadores que participaram de debate na semana passada, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) manifestaram apoio ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 93/2015, que prevê percentual mínimo de 35% de cacau puro nos chocolates comercializados no país. Já a indústria de chocolate caseiro pede cautela na mudança de legislação, para não inviabilizar pequenos fabricantes.
De autoria da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), o projeto torna obrigatória a informação do percentual total de cacau nos rótulos dos produtos e prevê punições a fabricantes ou importadores que desrespeitarem as normas. Determina ainda que a nova lei entrará em vigor 180 dias após ser publicada.
A senadora argumenta que o aumento da quantidade de cacau no chocolate ampliará o espaço do produto brasileiro no mercado e alinhará a lei brasileira a padrões já adotados na Europa e nos Estados Unidos. Ela ressalta, no entanto, que pretende ampliar o debate para que o projeto contribua com todos os integrantes da cadeia produtiva.
“Não temos pressa em aprovar a matéria.Temos compromisso em realizar um debate sério. Buscamos, também, que os produtores de chocolate tenham uma política de valorização do produto. Temos que sair da situação de sermos um País exportador de commodities para sermos um país que possa agregar valor a seus produtos”, disse Lídice.

è Ingrediente básico
José Schneider, presidente da Associação da Indústria e Comércio de Chocolates Caseiros de Gramado, apontou dificuldades na obtenção da massa ou liquor, ingrediente básico para a fabricação de chocolate, feito a partir do esmagamento da amêndoa do cacau.
Como explicou, as grandes fábricas fazem o esmagamento da amêndoa, mas as pequenas indústrias dependem das três esmagadoras existentes no país, que impõem um produto muitas vezes de baixa qualidade, não havendo fiscalização que garanta a proporção de cacau.
Ele é a favor de se prever na legislação o mínimo de 35% de cacau para que o produto seja considerado chocolate, mas diz não haver espaço nas embalagens para explicitar mais essa informação sobre a proporção. Schneider defende que a informação no rótulo seja obrigatória para produtos que não atendam esse mínimo e não são considerados chocolate.
“Aquele que não compõe o chocolate conforme a lei será obrigado a escrever uma pequena frase, dizendo que não é chocolate. Outro problema é a fiscalização. A Anvisa não fiscaliza, o povo brasileiro come e não sabe que não é chocolate”, disse Schneider.
E ele ressalta, ainda, que o consumo médio no Brasil, de três quilos per capita, é ainda muito pequeno em relação à média na Europa, de nove quilos per capita, ou ao mercado alemão, de 11 quilos per capita. Afirma ainda que o consumidor brasileiro não estaria disposto a pagar um valor maior por um produto de melhor qualidade. Ele também pediu mais tempo para que as novas regras entrem em vigor, depois da publicação da lei.
Henrique Almeida, da Associação dos Produtores de Cacau da Bahia, concorda que as esmagadoras misturam na massa um cacau de baixa qualidade, como o importado da Indonésia, mas afirma que as medidas previstas no PLS 93/2015 irão dinamizar a cultura, explorada predominantemente pelo agricultor familiar, e toda a cadeia produtiva do chocolate. ”O projeto vem atender um sonho histórico e está em sintonia com o mercado europeu e norte-americano”, disse, ao destacar a exigência do mercado consumidor europeu em termos de qualidade e percentual de cacau nos produtos.
O mesmo sentido, Guilherme Moura, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Cacau, defendeu a mudança na legislação brasileira e disse que a produção nacional é capaz de suprir o incremento de demanda.

è Baixa rentabilidade
A produção brasileira para 2014 está estimada em 279 mil toneladas, conforme informou Helinton José Rocha, diretor da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), e está concentrada na Bahia (63%) e no Pará (35%), com participação ainda pequena de Rondônia, Amazonas, Espírito Santo e Mato Grosso.
A atividade já superou a crise causada pela praga conhecida como vassoura de bruxa e hoje já movimenta US$ 13 bilhões por ano. No entanto, disse Helinton Rocha, a expansão da cultura enfrenta o desinteresse dos jovens em permanecer no campo e continuar a atividade dos pais, pela baixa rentabilidade e a falta de serviços, em especial educação e saúde.
Conforme relatou, o produtor de cacau recebe cerca de 3% do valor obtido com a venda de chocolate, menos que os 5% que o governo arrecada do setor. As esmagadoras ficam com 7%, as transportadoras com 12%, os fabricantes de chocolate ficam com 20%, o marketing com 10% e a maior fatia, 43%, com os supermercados.

è Proteção ambiental e saúde
Assim como na Bahia, também no Pará a produção está concentrada em unidades familiares de produção, como informou Luiz Pinto de Oliveira, representante governo do Pará. Uma das vantagens da cultura no estado, disse, é a recomposição do passivo ambiental, a partir da cacauicultura integrada à floresta.
Ao elogiar o projeto, Oliveira destacou que a proposta incentiva o consumo de chocolate de qualidade e seus efeitos benéficos à saúde da população. “Mostra à sociedade que o chocolate faz bem à saúde da população, o que faz mal à saúde é o açúcar. Esse projeto empurra o açúcar para fora do chocolate e impõe o quantitativo de cacau necessário à melhoria de funções vitais do ser humano. Estou falando em chocolate bom, estou falando de chocolate que tenha acima de 35% de cacau, como está colocado no projeto”, destacou.
No debate, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) elogiou Lídice da Mata pela iniciativa de apresentação do projeto e contou que em breve será instalada em seu estado uma indústria de chocolate. ”Já produzimos no Pará uma amêndoa de altíssima quantidade e precisamos aproveitar para agregar valor ao produto”, frisou.

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