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COTIDIANO

O surgimento do Martim Cererê

Por Walacy Neto

finalidade de um espaço vazio na cidade é multipla. No centro de Goiânia, na Avenida Goiás, existe um prédio de vários andares e nenhum morador. Ali poderia ser construído uma escola, talvez um parque para que idosos e crianças façam atividades físicas ou até mesmo pode se tornar um espaço cultural. De um espaço vazio, cheio de mato e não utilizado por anos surgiu o Martim Cererê, centro cultural da capital de Goiás. E do Martim Cererê surgiram diversas bandas, companhias de teatro e produtores, como uma verdadeira incubatória da cultura contemporânea deste Estado. Portanto, para comemorar o aniversário da cidade, resolvemos falar um pouco de cada espaço e seria um tanto quanto ignorante deixar de lado um dos mais importantes destes.

Em entrevista para o Diário da Manhã um dos responsáveis pela criação do espaço, Carlos Brandão, falou sobre os primeiros anos de Martim. Era o governo de Henrique Santilho, um dos políticos de Goiás que teve mais atenção ao lado cultural durante seu mandato. De acordo com Brandão, ele teria montado uma equipe de planejamento para área de cultura. O secretário da época, Kleber Adorno, designou Brandão, que era superintendente de ação cultural para olhar “umas caixas d’água que não estavam sendo utilizadas”. A intenção era que o superintendente bolasse alguma utilização para o espaço que, até então, não tinha nenhuma serventia.

Chegando no espaço apenas mato e algumas caixas d’agua. De acordo com Brandão, a Celg era quem tinha o direito sobre o espaço. Em abril de 1987, mesmo meio sem acreditar que dali poderia brotar qualquer coisa, o superintendente convidou o amigo, músico e arquiteto Gustavo Veiga para tentar bolar algum projeto para a utilização das caixas. A intenção da Celg era botar no chão todas as ruínas que sobraram e erguer um imenso prédio com 22 andares. Com o projeto pronto, restava agora conseguir apoio de algum órgão do governo que ajudasse o superintendente a peitar as dificuldades. Transformar duas caixas d’águas em um espaço cultural, convenhamos, não deve ser algo simples.

Novas águas

A busca por alguém que desse o veredicto para que o processo fosse realmente aceito demorou por um tempo. O nome utilizado por Brandão foi Novas Águas, fazendo uma relação entre as caixas d’água e o rio cultural que se pretendia instalar ali. A concretização do espaço veio por uma conversa ouvida com o pé do ouvido de Brandão. O ator Marcos Fayad estava procurando um lugar para começar seus ensaios e de acordo com o mesmo deveria ser um espaço “sólido”. Brandão interrompeu e falou que sabia muito bem onde Fayad poderia se instalar: as caixas d’água da Celg. Vendo o espaço Marcos constatou que era o lugar perfeito. Assim começou o Grupo de Teatro Martim Cererê e também a Biblioteca Martim Cererê, devido ao nome da peça que Fayad organizava na época. Mas ainda faltava o apoio político para transformar o espaço em um centro cultural de verdade

De acordo com Brandão, no começo da ocupação promovida por Fayad tudo era muito precário. O grupo ensaiava dentro das caixas d’água que foram aterradas, o piso de madeira foi inserido e nada mais. “Os ensaios eram feitos com gambiarra de luz eletríca que a gente arrumou. O projeto arquitetônico tava pronto, mas não tinha dinheiro pra fazer. Convidamos o Henrique Santilho para ver o espaço”, disse. Ao ver o que estava acontecendo, o governador de Goiás na época resolveu ceder para as manifestações da cultura. “Nessa batalha, a cultura ganhou”, declara Brandão.

Abre e fecha

ar das dificuldades de criar o espaço, após a inauguração em 1988, o Martim Cererê perdeu boa parte da importância logo em 1991. No ano de 2007, o espaço teria sua verdadeira representatividade, ou seja, seus anos de ouro. O responsável pela criação do espaço fora designado para “tocar” o Martim Cererê. Nesta época o centro se tornou o principal redulto do rock and roll goiano, dando espaço para uma veia cultural que até então parecia não existir em Goiânia. Foi o Martim Cererê o palco principal de uma verdadeira revolução que aconteceu, colocando a capital de Goiás como a “Seatle” brasileira, pelo fato de suportar tantas bandas com qualidade destacável.

As notícias sobre o Martim Cererê espalharam Brasil a fora e diversas figurinhas do rock e da música alternativa nacional vieram até aqui para conferir o que acontecia de tão grande. Era um cenário musical que nascia e boa parte dos participantes apenas imaginavam o que se daria ali. Por exemplo, os dois grandes festivais de música independente do Estado, o Bananada e o Vaca Amarela, tiveram suas primeiras edições no espaço. A banda Boogarins, que atualmente tem sucesso internacional, fez sua primeira apresentação no Martim, durante uma das edições do Vaca Amarela. Isso tirando todas as histórias pessoas que as paredes do Martim abrigam.

om a mudança de governo e muitas alterações na secretária de cultura o Martim Cererê foi fechado em 2012. Alguns frequentadores do espaço e produtores culturais iniciaram uma manifestação a favor da abertura do espaço: o 1 ano sem Martim Cererê. A intenção foi precionar a Secult para que o espaço fosse aberto e que os prazos para a suposta reforma fossem cumpridos de acordo com o que havia sido falado pelas entidades responsáveis. De fato, o Martim Cererê voltou a funcionar e recebe alguns eventos, não do mesmo jeito e nem pelo mesmo preço. Por um lado, sabemos que as coisas mudam e que a roda gira, portanto o Martim pode não voltar a ser o que era nos períodos de ouro. Porém, não é possível deixar de considerar toda sua valia.

Legenda:

Amanhã o Centro Cultural Martim Cererê recebe o VI Congresso de Ginástica e Dança do Cento-Oeste. A programação segue até o dia 24 deste mês e conta com palestras, apresentações de dança e ginástica, bem como oficinas para quem quiser participar. A comissão organizadora do evento é composta por professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Universidade Federal de Goiás (UFG) e secretaria Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE).

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