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COTIDIANO

É Sexta, vamos tomar uma

Hoje é sexta-feira, depois das seis da tarde começa oficialmente a alforra do trabalhador brasileiro. Depois de uma semana intensa de trabalho, patrão pegando no pé, ônibus lotado, marmita fria, o bom cidadão que carrega o país nas costas só quer extravasar. Tudo bem que alguns vão escolher ver a novela sossegado e depois um filminho do Charles Bronson, mas a maior parte quer tomar uma gelada e comer uma porção de moela.

A condição financeira da maioria dos trabalhadores não permite que ele frequente os luxuosos bares dos setores abastados de Goiânia. Somado a isso o“busão”para de passar meia-noite, o certo é beber perto de casa. Os bares underground também não são a melhor opção porquê apesar da pretensa falta de sofisticação, cervejas que tem nome de banda de rock não são lá muito baratas. E outro fator é a música, como relaxar sem pagode ou algum clássico do disco “Canto, bebo e choro”?

Qual a opção que resta ao proletário sedento de cerveja gelada, os queridos e disseminados “copo-sujo”. Primeiro vamos estabelecer um conceito, um “copo-sujo” segue critérios pra merecer esse título. Primeira coisa, a cerveja necessariamente tem que ser barata e de preferência litrão (rende mais). Nenhum tipo de sofisticação é aceitável, cervejas alemãs ou de trigo com notas de manjericão não estão no menu de um bar assim.

Segundo critério, a comida que é vendida. O local deve oferecer ao menos uma das seguintes refeições: Torresmo, Salsicha com molho, disco de carne, coxinha, asinha frita, almôndegas ou porções de moela. Afinal é fim de semana e esse tipo de alimento já pode assumir status de refeição, está liberado.Temos ciência que a maioria das pessoas, que apreciam o ato de beber e falar bobagens com os amigos, tem o seu“botecão”de preferência. E esse é outro aspecto interessante dos “copos-sujo”, ninguém vai a um lugar assim mostrar a roupa nova, fazer média, mostrar status, a ideia é relaxar e conversar sobre futebol, política, filosofia, contar piadas ruins, esse tipo de papo.

Nesse fim de semana um site goiano fez uma lista de bares pretensiosamente“copos-sujo”mas era obviamente uma lista publicitária comprada. A lista mostra bares muito estilosos e caros da capital, todos localizados em bairros centrais da cidade. Não que isso seja motivo de indignação, mas dá vontade de explicar que não se tratam de bares“pé sujo”.

Como não se trata de publicidade vamos listar alguns bares copo sujo de Goiânia, mas não direi nomes corretos ou localizações exatas, entendam a abstração. Quem conhece, conhece, caso contrário é porquê não precisa conhecer.Na zona norte da cidade na Vila Itatia, onde fica o campus II da universidade federal existe um bar cujo nome popular é “Bar da 12”, esse é o número da rua onde ele se encontra. Tem torresmo, jukebox (aquela máquina de música onde você pode colocar um Raça Negra), o disco de carne é uma atração a parte. E tem sinuca, onde você pode apostar seu décimo terceiro nesse final de ano.

Falando em“botecões” próximos a universidades como o“Bar do Chinelo”, próximo ao IFG. Esse não é o nome real do local, mas ninguém sabe o nome de verdade então pouco importa. Lá tem porções de moela e mesas de sinuca. O diferencial do lugar é uma churrasqueira que você pode alugar, dá pra chamar os amigos pra assar um cupim no fim de semana, sem deixar bagunça na sua casa.

Uma outra característica marcante de “copo-sujo” é o nome, geralmente se chamam “bar do seu…”seguido de algum nome de tiozão como Juca, Tião, Raimundo. No quesito bares com nome de tiozão existe um no criméia leste que vende um salcichão cortado em rodela que é um primor. Lá é um ótimo lugar pra ver o Campeonato Brasileiro e o Goianão, se você tiver sorte pode ter discussões fervorosas de futebol entre mesas diversas.

Agora se o seu objetivo é apenas injetar altas doses de álcool na corrente sanguínea e comer um churrasquinho pra não desmaiar, existe a amada Praça da Cirrose. Tem mais de um bar nesse templo da boêmia goiana e se você for vegetariano tem espetinho de queijo coalho. A diversidade é muita e o espaço pouco, no mais escolha seu“copo-sujo”

 predileto, tem sempre um pertinho de você e um fim de semana memorável.

(Ludimila Mendonça é jornalista, boêmia e gosta de dias de sol e cerveja estupidamente gelada)

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