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A cada 11 minutos, um produtor de leite deixa a atividade

“A cada 11 minutos, um produtor de leite deixa a atividade. Não podemos deixar que essa situação continue”. A declaração é do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner. Ele fez a abertura oficial do 1º Encontro Estadual de Empreendedores do Leite, evento que ocorre em Goiânia e reúne mais de mil produtores, técnicos, estudantes e demais públicos que atuam com pecuária leiteira em Goiás. De acordo com Schreiner, a proposta do encontro é de, exatamente, discutir os rumos da pecuária leiteira, os desafios enfrentados pelos produtores e apontar as principais necessidades da cadeia.

Atualmente, o setor ocupa 10% da produção brasileira, posicionando-se como o 4º no ranking nacional. Está presente nos 246 municípios do Estado, somando 70 mil propriedades e gerando mais de 220 mil empregos diretos e indiretos. Por tudo isso, exerce grande importância para a economia goiana.

De acordo com especialistas presentes no evento, algumas preocupações insistem em permear a atividade, como desequilíbrio no crescimento harmônico dos elos da cadeia produtiva do leite, desestímulo do produtor e queda dos preços em mais de 40%, elevando os custos de produção.

Conflitos

José Mário confirma que o preço pago pelo leite é o principal motivo que tem desencadeado discussões no setor, envolvendo produtores e indústrias. “É preciso sinalizar uma margem para que o produtor possa trabalhar com mais segurança. Não podemos esganar a galinha dos ovos de ouro, que é o produtor”, enfatiza. Outro fator impactante é o aumento das importações, já que Goiás teve neste ano o maior volume importado nos últimos 16 anos, ou seja, 1,4 bilhão de litros. Para José Mário, a proposta do encontro é de discutir os rumos da pecuária leiteira.

O questionamento feito por empreendedores do setor leiteiro é, diante dessa situação, como investir sem perspectivas de médio e longo prazo. Sobre essa dúvida, o analista Victor Antônio Costa, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás) – parceira na realização do encontro -, considera que o momento para as discussões sobre o setor é oportuno. Para ele, a parceria só fortalece a atividade, com discussões em relação à área técnica e de gestão. “É importantíssima a participação do Sebrae em eventos como estes, principalmente por temos uma forte parceria com a Faeg e o Senar Goiás. Então, acredito que encontros assim só fortalecem a rotina de quem empreende e movimenta o setor de pecuária leiteira no Estado”, destacou.

Novo olhar

Palestrante no encontro, o presidente da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento da Atividade Leiteira (Cooperideal), Marcelo de Rezende, avalia que esses encontros são oportunidades para destacar o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos produtores e técnicos da área. “É necessário que os profissionais conheçam as metodologias aplicadas, mostrando resultados obtidos nas propriedades pelos produtores. É um momento de confraternização, troca de experiências e, principalmente, mostrar o que tem sido colhido”, reforça.

Ele informa ainda que, apesar da atividade leiteira ter seus altos e baixos, é necessário que o produtor se prepare mais. “Tem de buscar eficiência, inovação na produção. É preciso que ele seja mais organizado na fazenda e que trabalhe mais a gestão, por isso é importante que instituições como a Faeg e o Senar Goiás fortaleçam o setor, fazendo com que o produtor conquiste um ambiente mais próspero para produzir”, sinalizou.

A hora é agora, diz professor

Professor da Esalq-USP, Fernando Curi Peres considera o mercado do leite extremamente volátil, especialmente neste ano. “Os preços têm se comportado de uma forma atípica, considerando os 20 anos, porque tivemos altíssimos preços prevalecendo até junho a julho e agora estão bem baixo. Isso desorganiza a cadeia, trazendo custos complicados para a cadeia produtiva”, relata. Mas para ele, toda crise traz oportunidades. “Precisamos de soluções novas, de um novo funcionamento para a cadeia produtiva do leite, porque ele tem se tornado o ‘patinho feio’ do agronegócio, apesar de sua importância tremenda para as famílias rurais do Brasil”, relatou o especialista.

Zilderlei Nunes Ferreira, de 34 anos, herdou do pai a paixão pela produção de leite. Quando criança, na zona rural de Caçu, ele acompanhava o manejo do gado, os cuidados com os animais e até madrugava para ver a ordenha no curral. Por causa disso, criou toda uma história com a atividade leiteira. O resultado não poderia ter sido outro: hoje, ele é produtor de leite e conduz os negócios junto com a esposa, Poliene Nunes. Os dois são proprietários da Estância Reino Encantado, localizada a 25 quilômetros de Caçu. Na fazenda, são 41 animais da raça girolando, que produzem de 650 a 800 litros por dia.

A estrutura atual da propriedade não lembra nenhum pouco o local em anos anteriores. “A ordenha era feita de forma manual e a estrutura era precária. Tínhamos 20 animais, que produziam de 80 a 100 litros por dia. Mas crescemos, evoluímos, investimos em curral e ordena mecânica e até conseguimos construir nossa casa”, informa.

Um dos motivos para essa melhoria é a participação de Zilderlei no programa Goiás Mais Leite, desenvolvido pelo Senar Goiás e que segue a metodologia do Balde Cheio. “Antes, trabalhávamos no escuro. Eu não tinha noção de custo de produção e não fazia análise do solo Hoje, tenho controle zootécnico, faço pesagem dos animais desde recém-nascidos até matrizes, estruturei piquete rotacionado. Isso é resultado de assistência técnica oferecida pelo programa”, enfatiza.

Segundo o superintendente do Senar Goiás, Eurípedes Bassamurfo, a atividade leiteira é realmente complexa e demanda profissionais qualificados e preparados para conduzir seus negócios. Por isso, segundo ele, é importante levar conhecimento ao produtor rural sobre a atividade que desenvolve, envolvendo as áreas zootécnica, técnica e gerencial.

“Hoje, o Senar Goiás consegue oferecer isso, por meio de programas, cursos e treinamentos. E o programa Senar Mais chega com a proposta de oferecer e ampliar a assistência técnica e continuada, explorando com mais eficiência a atividade. O produtor tendo todo esse conhecimento, fecha-se um ciclo que pode resultar em rentabilidade, qualidade e lucratividade”, relata. Eurípedes acrescenta que a previsão é que mais de 2 mil produtores sejam atendidos em Goiás, em 2017, com o desenvolvimento do programa.

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