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Crescimento com obstáculos

O cultivo do algodão encontrou ambiente favorável nos Cerrados de Goiás e demais Estados do Centro-Oeste do Brasil. No entanto, os produtores do ouro branco têm encontrado dificuldades ao longo do caminho. E para discutir e tentar resolver esses problemas, eles se reuniram com as cabeças pensantes do País no segmento e propuseram soluções.

Entre os problemas, mudanças climáticas, produtividade, preparação do solo, rentabilidade, mercado e sustentabilidade. Esses foram os termos mais discutidos no Simpósio Goiano do Algodão, realizado na última quinta-feira, em Rio Verde, pela Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) e pela Embrapa, com apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Fundação de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás (Fialgo) e Fundação Goiás.

O encontro reuniu produtores, engenheiros agrônomos, biólogos, técnicos e estudantes da região Sudoeste. O objetivo foi apresentar a situação econômica e climática pela qual passa a cotonicultura. O combate às principais pragas que afetam a produção algodoeira também teve espaço garantido.

“Desenvolvemos um ambiente mais propício ao aprendizado e aprofundamos os debates que realizamos durante o Dia do Algodão”. É o que explica o presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão, Luiz Renato Zapparoli, destacando que o foco deste ano é a sustentabilidade ambiental e social. Para o presidente da Agopa, a crise chegou, o crédito diminuiu e o dólar subiu. Mesmo com esse cenário pouco otimista, a previsão é que o setor recupere fôlego em uma ou duas safras. “Vamos entrar em um período melhor”, prevê.

O economista-chefe do Rabobank Brasil, Maurício Oreng, comandou a palestra “Perspectivas Macroeconômicas para o Brasil”, com um panorama da situação atual da economia brasileira e as previsões para o futuro. “A economia brasileira tem uma grande necessidade de promover as reformas estruturais, especialmente na parte fiscal, para poder voltar a crescer”, afirma.

Para o economista, o processo de ajuste nos juros nos Estados Unidos (‎e talvez nas condições monetárias em outros países avançados) aumenta o desafio. Todavia, Maurício vê um cenário construtivo à frente, dado que o setor financeiro acredita na aprovação de reformas que irão, com o tempo, equilibrar as tendências fiscais. “Vemos uma recuperação gradual da economia à frente, além de uma queda estrutural na taxa de juros. Para a taxa de câmbio, antevemos um dólar bem comportado nos próximos anos, apesar de uma provável depreciação em função do aumento do juro americano”, pontua.

Bicudo: maior praga do algodão

O bicudo é a maior praga do algodão. Surgiu em 1983 e causou um deslocamento da produção no Brasil. A afirmação é de Wanderley Oishi, da Quality Cotton Consultoria. Para ele, “é preciso começar uma safra com a menor população da praga, e isso se dá com o controle da soqueira e outras medidas preliminares”. Oishi afirma ainda que Goiás é pioneiro no Programa de Manejo de Bicudo para 2017. “Hoje, tentamos trazer o produtor para entender que o controle da praga só funciona com envolvimento e participação de todos: produtores, Agrodefesa e Fundação Goiás”, enumera.

“O sucesso do programa começa agora na entressafra, com a destruição das soqueiras e aplicações logo quando o bicudo aparecer na lavoura. Quanto mais postergarmos sua entrada na lavoura, melhor”, diz Oishi. Para o consultor, quando a praga chega na lavoura e começa a se alimentar, em 4 ou 5 dias ela começa a se reproduzir. Desta forma, é necessário aplicar o defensivo no máximo a cada 5 dias, para evitar a reprodução do bicudo. Por isso, é importante retardar a entrada do bicudo na plantação.

Conforme apresentou o consultor, a média goiana é de 16 aplicações de defensivos. O objetivo é reduzir esse número em 30% na próxima safra. “Há fazendas em que chegamos a reduzir em até 70% as aplicações. Dessa forma, podemos pensar em sustentabilidade. O foco tem que ser total no manejo, do contrário só restará o aumento de aplicações, um modelo insustentável”, alerta.

O produtor José Eduardo de Macedo, da Fazenda Capuaba (MT), defende o manejo integrado de culturas. Ele aprova a rotação e variação de culturas, o que mantém uma quantidade boa de nutrientes no solo, reduz custos com adubação, fertilizantes e herbicidas, aumenta a biodiversidade e a biomassa. "Se tivéssemos prestado atenção na agricultura sustentável nos anos 70 e 80, teríamos mudado a realidade da agricultura no Centro-Oeste”, concluiu.

 Mudanças climáticas

Marcia Thaís é pesquisadora da Embrapa. Sua apresentação no painel sobre mudanças climáticas mostrou que a concentração de dióxido de carbono está diretamente ligada ao aumento da temperatura. “Se as emissões globais continuarem aumentando, a temperatura invariavelmente vai aumentar”, simplificou. Conforme estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, em inglês), os fatores determinantes são o aumento da população; economia; inovação; fontes de energia e a agricultura. As variações de cada um desses aspectos podem agravar ou diminuir as mudanças climáticas.

O impacto das temperaturas mais altas sobre a cultura do algodão pode reduzir a área agricultável de 4.1 milhões de km2 para 3.8 milhões de km2. No Brasil, aponta, a agricultura corresponde por 34% das emissões de dióxido de carbono. O Cerrado contribui com 62% dessas emissões. “Mesmo com forte diminuição a partir de 2009, as queimadas e desmatamento no Brasil são emissões de gases de efeito estufa (GEE) que tiveram grande participação das emissões totais brasileiras”, alerta.

Outro pesquisador da Embrapa, Alexandre Bryan, apresentou dados de 52 estações de medição de chuvas. O estudo não apresentou tendência na redução da precipitação pluvial, porém, supõe-se que a distribuição da precipitação mude devido aos fenômenos climáticos (La Niña: maior número de dias com precipitação. El Niño: maior número de dias sem precipitação). Eduardo Kawakami, da Fundação MT, diz que o grande problema hídrico do algodão é a distribuição das chuvas. O estresse hídrico mediano afeta a fotossíntese e agrava o fechamento do estômato da flor. “A falta de água dificulta para o algodão florear e aumenta as raízes para buscar mais água. Acima de 35 graus, a fotossíntese do algodão despenca e diminui a polinização, entre outras consequências”, finaliza.

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