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As novas pirâmides

A relação de consumo existente entre quem vende, compra e consome produtos através dos processos de marketing de rede, ou multinível como estão sendo chamados ultimamente, está longe de entrar em harmonia. Marcas popularizadas como Herbalife, Hinode, Tupperwere, Mary Kay e outras estão na mira de órgãos de defesa do consumidor e de direito econômico.

A estrela desse processo é a Herbalife, que fabrica e comercializa produtos para bem-estar e emagrecimento, principalmente, e que já entrou em rota de punições severas em outras partes do mundo. A principal suspeita que recai sobre essas marcas e a forma como se dá sua comercialização é a similaridade que existe com as famosas pirâmides financeiras que já provocaram a riqueza de poucos e a ruína de tantos.

As pirâmides funcionam com a promessa de enriquecimento rápido e fácil com o lucro surgindo através da indicação para pessoas comporem o grupo abaixo de suas posições. Enquanto a base da pirâmide se expande quem está acima lucra, mas quando para de agregar novos participantes o esquema rui e desmonta todo o fluxo de dinheiro, ficando o prejuízo todo na mão de quem entrou por último na ciranda. Sempre que surgem denúncias de que pirâmides estão sendo formadas os órgãos de defesa do consumidor agem com rapidez para punir os organizadores porque os prejuízos são inevitáveis e certos.

Na verdade a prática do marketing multinível ou de rede, ou de relacionamento como é outra denominação, é legal e encontra amparo na legislação. Entretanto, a observação mais acurada das práticas revela semelhança inevitável com as pirâmides, o que aumenta a preocupação dos órgãos oficiais como Polícia Civil, Procon e Ministério Público. Em outros países já ocorreram punições severas e correção de rumos para evitar a classificação de pirâmides em marcas conhecidas.

Corrente

As marcas com maior presença no mercado brasileiro através desse marketing multinível são conhecidas. Dentre as mais ativas figuram Avon, Herbalife, Mary Kay, Natura, Tupperware e as cifras movimentadas por elas impressionam. A Hinode, por exemplo, faturou em 2016 a bagatela de R$ 525 milhões, ainda pequeno se comparada às gigantes.

Mas isso não elide a suspeição que pesa sobre as demais. Todas atuando da mesma forma agressiva junto aos representantes e vendedores e os argumentos também não variam, compondo uma cantinela idêntica para os que se arriscam a vender esses produtos: “quanto mais você investe mais você lucra”. E nesse sentido vão legiões que compram produtos e ficam com o mico nas mãos depois, sem vender, sem ter para quem devolver e com as dívidas nas costas.

Foi o que aconteceu com Pedro (nome fictício), que comprou uma gama de produtos da Herbalife, não vendeu tudo e as dívidas no cartão de crédito chegam a R$ 20 mil. “Acreditei que seria um bom negócio e me dei mal. Me induziram a comprar e encontrar outros para vender comigo e entrei pelos canos”, lamenta.

Assim como ele, a gama de incautos que se aventuraram em dívidas e caíram no conto do vigário é enorme. Nos Estados Unidos, onde a Herbalife tem uma presença ostensiva e muito forte, por conta da epidemia de obesidade que remonta aos anos de 1980, a empresa teve de rebolar gostoso para se livrar das ações efetivas do governo e das agências reguladoras. No ano passado a Herbalife aceitou pagar uma multa de US$ 200 milhões – cerca de R$ 670 milhões – para encerrar uma investigação que poderia ter fechado as portas da gigante na terra do Tio Sam. A empresa aceitou até reformular sua forma de atender o varejo e mudar a maneira de captar novos vendedores, tudo para se livrar da pecha de ser algo parecido com uma pirâmide financeira.

Defesa

Mas há quem se declare favorável ao que se pratica nessas empresas de marketing multinível, como o empresário Rafael Umeno. Ele lembra que montou uma pequena empresa para ele e a namorada explorarem e que investiu cerca de R$ 45 mil. “Tive um retorno de R$ 70 mil e não posso reclamar de nada. Foi positivo, mesmo que algumas pessoas reclamem depois de entrarem”, explica.

A advogada Eliane Faria frisa que para não haver decepções com o tipo de atividade escolhida basta uma pesquisa sobre o perfil da empresa de marketing multinível e uma avaliação primária sobre o que se espera ganhar com a atividade. “Não existe milagre de ficar rico em pouco tempo com um negócio que não seja bem conhecido e transparente. Pesquisar e avaliar é a única forma de não se dar mal”, finaliza.

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