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Falta de infraestrutura castiga o agronegócio

Anualmente, o Brasil perde aproximadamente 34 milhões de toneladas de grãos por falta de uma estrutura adequada de armazena­gem em todas as etapas da cadeia produtiva do agronegócio. O cál­culo é do especialista em logísti­ca, Renato Pavan, e foi detalhado em palestra no seminário Infraes­trutura de Transportes e Logísti­ca: Visão dos Usuários, promovi­do, ontem, em São Paulo, pela Abag (Associação Brasileira do Agrone­gócio), Abiove (Associação Brasi­leira das Indústrias de Óleos Ve­getais), Anut (Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Car­gas), e Sindicom (Sindicato Nacio­nal das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes).

“O ponto mais crítico da fal­ta de armazéns está nas fazen­das, uma vez que hoje apenas 14% da produção agrícola brasileira é armazenada nelas, enquanto nos Estados Unidos esse percen­tual chega a 65%”, ressalta Pavan, salientando que isso gera ainda mais ineficiência na economia brasileira, já tão prejudicada por conta dos elevados custos causa­dos pelas condições inadequa­das das rodovias, ferrovias e por­tos. “Hoje, o custo da tonelada de grãos transportada de Sorriso, no Mato Grosso, até o porto de San­tos é de US$ 102, enquanto nos Estados Unidos não passa de US$ 51, e na Argentina sai por US$ 79. Em Goiás, Estado essencialmente agropecuário também, a Comigo (Cooperativa Mista dos Produto­res do Sudoeste Goiano), baseada em Rio Verde, Antônio Chavaglia, presidente, ressalta que “a condi­ção é a mesma”.

ARGENTINA

Especificamente no caso da Ar­gentina, Pavan chamou a atenção para planos futuros daquele país em reduzir ainda mais seus custos logísticos para escoamento da sa­fra de grãos. “Está em negociação pelo governo argentino a constru­ção de uma ferrovia de 1.200 qui­lômetros ligando as regiões pro­dutoras de grãos com os portos no Chile, que deve aumentar a com­petitividade dos grãos argentinos, além de facilitar o acesso aos mer­cados asiáticos, pela facilidade de navegação pelo Pacífico. Com isso, a Argentina deve ultrapassar o Bra­sil em termos de ações para redu­zir os custos logísticos, benefician­do, sobretudo, a sua produção de grãos”, afirmou, salientando ainda que, como o mercado interno ar­gentino é menor, sobra mais pro­dutos para exportação.

Cláudio Graeff, presidente do Comitê de Logística e Competiti­vidade da Abag, concorda com a avaliação de Pavan sobre a ques­tão da armazenagem. “Hoje, sem dúvida nenhuma, a falta de arma­zéns é a principal deficiência da cadeia produtiva do agronegócio”, analisou. Para Graeff, no entanto, é na armazenagem que está também a melhor possibilidade de se equa­cionar o problema. “Ao contrário da deficiência em rodovias, ferro­vias e portos, que demanda eleva­dos investimentos, no caso de ar­mazém, a necessidade de recurso é menor e os investimentos podem ser feitos pelo próprio produtor ru­ral. Penso que essa saída é provisó­ria para atenuar o problema, en­quanto não se resolve a forma de financiar os grandes empreendi­mentos de transportes”, ponderou.

ECONOMIA DE MERCADO

No encontro também foi feita uma avaliação econômica e jurídi­ca sobre vários projetos de lei que tramitam no Legislativo e que in­terferem nos preços dos fretes do transporte de cargas, estabelecendo uma política de preços fixos. “Todas as propostas em análise geram dú­vidas quanto a sua constituciona­lidade e são claras ameaças à livre iniciativa, livre negociação e tam­bém ao regime de concorrência, fatores essenciais para o funciona­mento da economia de mercado”, afirmou Leonardo Zilio, gerente de Relações Setoriais do Sindicom. Se­gundo cálculos da entidade, se es­sas propostas forem transforma­das em lei, no curto prazo, teremos um aumento de até 9% nos custos do frete. No longo prazo, podemos chegar a uma elevação de até 30%.

Para Andréa Häggsträm Rodri­gues, advogada da área de Assun­tos Legislativos da CNI (Confe­deração Nacional da Indústria), que também proferiu palestra no evento, as propostas são “tão absurdas que é difícil até anali­sar seus méritos”. Apesar disso, ela informa que os projetos estão ten­do tramitação acelerada na Câma­ra dos Deputados. “Caso sejam aprovadas, as propostas devem prejudicar, sobretudo, as peque­nas indústrias. Participaram tam­bém das discussões legais relativas ao frete: Daniel Amaral, gerente de Economia da Abiove; e Thiago Bastos Rosa, da Anut.

INFRAESTRUTURA

Ao final do seminário, foi assi­nado um documento de princí­pios que enfatiza a deficiência na infraestrutura de transporte, com malha rodoviária em más condi­ções, ferrovias, hidrovias e cabo­tagem insuficientes, sem contar o agravante da baixa capacidade de armazenagem. “A logística nacional padece com uma competitivida­de inadequada, que há muito tem­po tem sido um entrave ao desen­volvimento econômico e social do País”, afirma o documento, que foi lido por Daniel Amaral, da Abiove.

O texto destaca que o futuro depende de uma reviravolta, com fortes investimentos públicos e privados para uma infraestrutu­ra de transporte compatível com as necessidades do País. “O trans­porte de cargas, nos seus diversos modais, é indutor de maior rique­za, melhoria social, sustentabili­dade, inovação e tecnologia. Por­tanto, merece redobrada atenção para ser uma política de Estado, não de governo, com planejamen­to e metas verificadas e reavalia­das periodicamente. As entida­des de usuários clamam por um novo olhar para a logística”, con­clui o documento.

LOGÍSTICA DOS TRANSPORTES

O presidente da Comigo, Antô­nio Chavaglia, tem batido ao lon­go dos anos na necessidade do go­verno brasileiro priorizar a logística nos transportes. Em sua opinião, é de vital importância o escoamen­to dos grãos, carnes e insumos bá­sicos num sistema que envolva a integração ferroviária, hidroviária e rodoviária. “Não esquecendo dos portos estratégicos”, lembra.

Para Chavaglia é importante o trabalho iniciado pelo governo de São Paulo relativo à hidrovia Tietê – Paranaíba. Essa iniciativa bene­ficia os municípios como Itumbia­ra, na região sul goiana, Rio Verde e Jataí, no sudoeste goiano.

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