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ILPF triplica produtividade da pecuária brasileira

Graças ao sistema Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF), a produtividade da pecuária brasileira experimentou expressivo crescimento nos últimos anos. Recentes levantamentos indi­cam que, enquanto a produtivida­de média da pecuária convencional chega a oito arrobas por hectare, no sistema de produção ILPF, a média alcança até 28 arrobas por hectare, um aumento superior a três vezes.

Os dados foram analisados du­rante a palestra Agronegócio Bra­sileiro: Desafios e Oportunidades, proferida por Thiago Bernardino de Carvalho, economista agroindus­trial do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplica­da da Esalq) da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz duran­te a Campo Grande Expo, promovi­da em Campo Grande/MS.

Goiás tem exemplos marcan­tes de sucesso com a integração lavoura, pecuária e floresta. Na Fa­zenda Santa Brígida, em Ipameri, região da Estrada de Ferro, e em Cachoeira Dourada, região sul do Estado, os dias de campo são con­corridos. A iniciativa é da Embra­pa Cerrados. Meses atrás, produ­tores americanos conheceram o sistema ILPF de Cachoeira Doura­da. A delegação foi acompanhada por diretores, técnicos e jornalista da Emater-Goiás. Eles ficaram bo­quiabertos com o que viram.

“Só que, para se atingir esse pa­tamar de elevada produtividade, o produtor necessita alterar toda a gestão do seu negócio, pois nesse sistema tudo é diferente. Desde a parte financeira, passando pela for­ma de correção do solo até o pro­cesso de capacitação dos profissio­nais”, explicou o palestrante.

Para Carvalho, o País tem todas as condições de conseguir saltos de produtividade semelhantes aos al­cançados devido ao sistema ILPF também em outras culturas. “Cla­ro que temos grandes desafios pela frente: são gargalos na área de in­fraestrutura e logísticas, incertezas em questões jurídicas, além de uma visão equivocada por parte de um segmento da sociedade, em relação, por exemplo, aos defensivos agríco­las”, afirmou o palestrante.

Segundo Carvalho, dados da Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal) confirmam que, de 1960 até 2014, houve uma re­dução de 160 vezes nos níveis de toxicidades dos defensivos utiliza­dos na agricultura brasileira. “No entanto, o que se vê na discussão é uma campanha de desmereci­mento do produtor rural, que é classificado, por certo segmento da sociedade urbana, quase como um vilão”, concluiu o professor.

A Campo Grande Expo ocu­pou uma área total de 20 mil m2, 80 marcas e atraiu um público da ordem de 20 mil visitantes.

PRODUTIVIDADE

Se no passado a implantação de lavouras e pastagens praticamen­te em todo o País exigia desmata­mento desmedido, hoje a produção ocupa lugar através dos índices de produtividade. A medida exige do produtor menos área, mas ele terá, todavia, que utilizar métodos de correção de solo com a adubagem, sementes melhoradas, uso de dro­nes para evitar desperdícios de fer­tilizantes, água, recursos humanos mais habilitados, entre outros itens.

A eficiência dos brasileiros na produção de grãos e oleaginosas é considerada da maior relevância pelos agropecuaristas atualizados. E eles se disseminam rapidamen­te. Os produtores na atualidade têm uma abordagem específica. Os desafios e perspectivas do mer­cado de grãos para a cadeia pro­dutiva de suínos merecem de sua parte um capítulo especial.

A “eficiência” é didaticamente explicada pelos próprios empresá­rios rurais. Segundo Fernando Pe­reira, presidente da Agroceres, por exemplo, “os produtores de grãos não precisam crescer a área agrí­cola, mas apenas trabalhar os ín­dices de produtividade existentes”. A produção brasileira cresceu mais de 166%, índice considerado no­tável pelo líder do Grupo Agroce­res. Esses índices são obtidos com o uso da tecnologia, uso maior de insumos, entre eles sementes me­lhoradas, fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas.

As perspectivas brasileiras são positivas, o que ele atribui a al­guns fatores. Entre eles, o cres­cimento da renda da população nos países em fase de desenvol­vimento, maior consumo de ali­mentos, urbanização acelerada na China, onde ocorre forte migração do campo para as cidades. “São mais de 20 milhões de pessoas mi­grando a cada ano”, salienta.

Os fundos de investimentos em commodities agrícolas favorecem a cadeia do agronegócio do Brasil, “porque esses papéis interferem nos preços, constituem novidades no setor”, observa. O biocombustível e o petróleo ao apresentarem altera­ções os preços, o milho, entre outros grãos para biocombustíveis, sobem ou baixam, porque estão interliga­dos no contexto, esclarece. A explo­são demográfica é outro item que favorece a quem produz alimentos.

São poucas as áreas agricul­táveis disponíveis no mundo e o Brasil dispõe de mais de 400 mi­lhões de hectares disponíveis, além de áreas e pastagens não utilizáveis. Sem estabelecer eufo­ria, o perfil é positivo para a pro­dução agropecuária. Com relação ao milho, por exemplo, a produ­ção mundial é de 839,7 milhões de toneladas. Para a soja, a produção é de 267,6 milhões de toneladas.

O consumo mundial de milho é de 853,8 milhões de toneladas e de 261,0 milhões de toneladas para a soja.

Só que, para se atingir esse patamar de elevada produtividade, o produtor necessita alterar toda a gestão do seu negócio, pois nesse sistema tudo é diferente. Desde a parte financeira, passando pela forma de correção do solo até o processo de capacitação dos profissionais” Thiago Bernardino de Carvalho, economista agroindustrial e palestrante

Resíduo do gado na produção de fertilizantes e geração de energia

O reaproveitamento de dejetos da pecuária brasileira tem crescido significativamente em várias regiões do País. Diversos produtores inves­tem cada vez mais em sistemas de coleta e processamento de dejetos, com vistas a produzir biofertilizan­tes ou na geração de gás.

“Um exemplo é a grande adesão ao sistema de Compost Barn, um barracão que abriga os animais, mas que, ao mesmo tempo, serve para fazer a compostagem dos dejetos que são depositados sobre uma ca­mada de serragem de madeira”, ex­plicou Cleandro Pazinato Dias, vete­rinário e consultor durante palestra proferida na Campo Grande Expo.

O palestrante lembra que uma vaca leiteira, com peso na casa de 450 kg, gera aproximadamente 50kg de dejetos por dia, e ressalta as vá­rias opções que o pecuarista tem para transformar um problema para sua propriedade e para o ambiente, que são os dejetos, numa oportuni­dade de reduzir custo com compra de fertilizantes ou até gerar energia para consumo em sua propriedade. “Hoje, ele tem muitas maneiras de transformar em dinheiro o que nor­malmente é jogado fora”, afirmou.

Dias também mencionou vários exemplos espalhados pelo Brasil de produtores que estão gerando energia elétrica a partir do biogás produzido a partir dos resíduos e até de alguns pecuaristas, com grande rebanho, que estão até ge­rando energia excedente, vendidas para outros produtores por meio de um acordo com a concessioná­ria de energia local. “Tem também os casos daqueles pecuaristas que produzem biofertilizantes para seu próprio consumo ou para reven­der aos seus vizinhos. Há uma de­manda forte por parte de produto­res de hortaliças, principalmente”, comentou o consultor.

Em outra parte de sua palestra Tecnologia de Produção Mais Lim­pa na Pecuária Intensiva, o consul­tor destacou ainda a crescente uti­lização de sistemas de captação da água da chuva para uso na limpe­za e manutenção das instalações onde o gado fica. Informando que uma vaca que produz, diariamen­te, uma média de 36 litros de leite pode demandar entre 114 e 136 li­tros de água por dia, o palestrante comentou que muitos pecuaristas estão investindo na construção de telhados próprios para fazer essa captação. Segundo ele, um metro quadrado de telhado pode cole­tar um litro de água, considerando uma chuva de um milímetro.

De acordo com Dias, vários pro­jetos de captação de água de chuva em Santa Catarina avançam inclu­sive com a construção de cisternas para armazenamento da água que, precisa passar por um processo de filtragem antes de ser utilizada, além de ser obrigatório o descarte da pri­meira chuva, aquela que limpa os telhados. O palestrante também de­talhou outras formas de uso racio­nal de água, energia e também na forma de alimentar os animais para se ter um manejo mais limpo e me­nos prejudicial ao ambiente.

Prêmio Nobel aponta benefícios dos transgênicos

Presentes nas lavouras glo­bais há mais de 20 anos, os or­ganismos geneticamente modi­ficados (OGM) já são consenso para a comunidade científica. Di­versas sociedades acadêmicas de todo o mundo já vieram a público apontar os benefícios dos trans­gênicos. Essas entidades afirmam que os OGM atualmente planta­dos são tão seguros para alimen­tação humana, animal e para o meio ambiente quanto suas ver­sões convencionais.

Fazendo coro a esse vasto nú­mero de pesquisadores, está o bioquímico britânico Richard Ro­berts, Prêmio Nobel de Medici­na em 1993. Segundo ele, o uso de culturas geneticamente mo­dificadas (GM) na produção de alimentos é absolutamente ne­cessário. Ele ainda completa “os países em desenvolvimento são os que mais se beneficiam”.

Roberts afirma que qualquer organização que busque comba­ter a fome deve ser a favor do uso de tecnologias na agricultura. Es­sas técnicas e inovações incluem os transgênicos. O bioquímico li­dera uma campanha em favor da agricultura moderna que já conta com o apoio de mais de 130 lau­reados com Prêmio Nobel, a Su­pport Precision Agriculture.

Tratam-se de profissionais que conhecem profundamente diversas áreas do conhecimen­to científico e todos eles concor­dam que os OGM fazem podem ajudar a aumentar a sustentabi­lidade da agricultura. Essas de­clarações foram dadas durante a edição de 2018 do encontro anual dos Prêmio Nobel, realizado em Lindau, na Alemanha.

“Quem não reconhece os benefícios dos transgênicos está equivocado”

Para Roberts, a fome no mun­do deveria ser tratada com a mesma seriedade com que tra­tamos a saúde. “Não podemos medir esforços e nem obstruir vias para dar acesso aos alimen­tos. Há 800 milhões de pessoas com fome no mundo, para eles, a comida é como a medicina”, de­clarou. Roberts também é enfá­tico ao enumerar os benefícios dos transgênicos. “É equivoca­da a ideia de voltar a produzir ali­mentos como antigamente, sem usar culturas GM. É escolher um carro que faz 5 quilômetros por hora (km/h) ao invés de um que faz 50 km/h”, comparou.

A diretora-executiva do Con­selho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) e Ph.D em Ciências Biológicas, Adriana Brondani, concorda com o Prê­mio Nobel. “Ao longo de mais de 20 anos de adoção e consu­mo global de transgênicos, perío­do em que esses produtos foram rigorosamente testados, jamais houve registro de qualquer pre­juízo que esses alimentos te­nham causado à saúde huma­na, animal ou ao meio ambiente”.

Essa também é a posição da comunidade científica e de agências reguladoras. Elas re­conhecem que os alimentos melhorados pela biotecnologia são tão seguros quanto os de­senvolvidos por meio de outros métodos. O mais recente exem­plo disso é o da Academia Na­cional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Uni­dos. Em 2016, essa academia reafirmou que os transgênicos são seguros para a alimentação humana, animal e para o meio ambiente. (Redação CIB).

Não podemos medir esforços e nem obstruir vias para dar acesso aos alimentos. Há 800 milhões de pessoas com fome no mundo, para eles, a comida é como a medicina” Richard Robert, bioquímico

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