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Goiás: um reduto das tradições gaúchas

Os gaúchos são conhecidos pela grande afeição ao seu estado. Não seria por menos, em 20 de setembro de 1835, e então província de São Pedro do Rio Grande do Sul chegou a se tornar um país, chamado de República Rio-Grandense, que durou até março de 1845.

A cultura do chimarrão, o churrasco e as danças típicas do estado se fazem presentes nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) espalhados por todo o território sul-rio-grandense. Além disso, o gaúcho tem forte participação na agropecuária brasileira, sendo a soja o principal produto agrícola do estado.

A migração para o Centro-Oeste

Com as terras férteis no Centro-Oeste, muitos gaúchos enxergaram aqui uma oportunidade para exercer as atividades agropecuárias. A chegada deles em Goiás começou pela região sudoeste do estado na metade da década de 1970.

As terras da região custavam na época, cerca de 20 sacos de soja por hectare. Hoje, uma propriedade bem situada pode valer até 500 sacos de soja por hectare.

As cidades da região com forte presença sul-rio-grandense são Jataí, Rio Verde, Mineiros, Chapadão Gaúcho e Montividiu. Dessas, Jataí e Rio Verde são as que mais concentram famílias gaúchas.

O clima mais ameno do sudoeste goiano, que chega a marcar temperaturas próximas a 0ºC no inverno, faz com que a paisagem se assemelhe ainda mais ao clima frio dos pampas do Rio Grande do Sul.

Sem falar nos CTGs, que são lugares onde a saudade se materializa em danças, como a vanera e o maçanico, as comidas típicas, como o carreteiro e o galeto na brasa, e claro, o sotaque, que muitos fazem questão de manter, mesmo morando em Goiás há muito tempo.

Em Goiânia, as tradições são comemoradas no CTG Saudade dos Pampas e na Feira Gaúcha FenaSul, a maior feira gaúcha do país.

Denise Flesch, 24, e o marido Samuel Leonhardt, 28, são dois dentre vários gaúchos que vieram para o cerrado em busca de melhor qualidade de vida. Denise e a família vieram de Santa Cruz do Sul (RS) para a Goiânia há três anos. Ela diz que em Goiás há mais oportunidades de emprego e o custo de vida é mais barato.

"Depois que chegamos, dentro de um mês eu e meu namorado estávamos empregados. Minha mãe veio transferida de uma empresa, depois saiu e logo abriu um negócio em Goiânia, e tem dado tudo certo até hoje", afirmou Denise.

"Tanto eu quanto meu marido começamos nossa faculdade no Sul, mas acabamos trasnferindo pra cá e formamos aqui. E acho que um ponto interessante de ressaltar é o quanto que a faculdade aqui é mais em conta, mesmo ele [marido] indo estudar em uma das faculdades mais caras da cidade, ainda assim o curso dele é literalmente metade do preço do que ele pagava lá no Rio Grande do Sul", continuou.

Diferenças culturais

Denise afirma que houve um choque cultural quando chegou em Goiânia.

"Não sei exatamente se dá pra chamar de choque cultural, mas o que me chamou muito a atenção foi o trânsito. Eu era acostumada a ir à Porto Alegre para fazer um tratamento na Santa Casa e o trânsito lá é doido, mas não existe um trânsito no Brasil que seja tão desorganizado como o de Goiânia", disse.

Porém, apesar dessa diferença cultural no trânsito, Denise ressalta que os goianos são muito receptivos e calorosos e que isso é um diferencial da região.

"Depois que tu estabelece o primeiro contato com um goiano, a pessoa está ali pro que tu precisar, diferentemente do Sul, onde as pessoas são mais fechadas", continuou.

Preservando tradições

Denise e o marido cultivam costumes que praticavam na terra natal, como escutar as músicas gaúchas tradicionais em momentos de descontração, no final do dia preparam uma cuca, que é um bolo de tabuleiro, além do famoso chimarrão, marca registrada do gaúcho.

Denise mora em Goiânia há três anos

"A gente costmava frequentar muito o CTG Saudade dos Pampas, até porque lá eles fazem a maionese caseira, que é algo que a gente gosta muito de fazer com uma galinhada, que é bem característico do Sul. O arroz carreteiro de linguiça é outra receita que a gente ama fazer. Porém, devido à distância da nossa casa pro CTG, a gente cultiva agora as tradições em família mesmo", disse.

A saudade, é claro, bate forte quando Denise lembra do Sul, mas diz que não tem vontade de voltar, pois já construíram vínculos com as pessoas e com a própria cidade, que os recebeu de braços abertos e que o carinho é recíproco.

O legado gaúcho em Goiás

Já se passaram quase 50 anos desde que os primeiros migrantes gaúchos chegaram em Goiás, parece que foi ontem, mas é só olhar com mais atenção e conversar com as pessoas, que é possível ver o quanto esse povo se espalhou pelos campos e cidades daqui, e perceber também que alguns lugares chegam a parecer que estamos em terras sul-rio-grandenses, é como se as primeiras vozes daqueles que chegaram aqui ecoassem no ar, levando a tradição através de suas gerações.

Embora Goiás e Rio Grande do Sul sejam estados distantes, a migração permitiu que o elo entre ambos se encurtasse, e hoje, com a forte presença dos gaúchos no estado, a impressão que se tem é de que só precisamos atravessar uma ponte que já estamos na terra natal de muitos que vieram para o cerrado em busca novas oportunidades, além de cultivar uma cultura que se expressa através não só das danças, das comidas e dos costumes, mas também através do olhar e do sorriso de cada um que, mesmo com a saudade, se sentem bem acolhidos por Goiás.

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