Elas doaram a vida em prol da fé e da caridade. Resolveram viver em comunidade, rezar, seguir uma rotina rígida e servir. Assim é a vida das mulheres que optaram pela vida religiosa. Para saber um pouco sobre o cotidiano de quem vive essa opção, conversamos com três freiras da Congregação das Irmãs Franciscanas da Mãe Dolorosas. Elas contaram um pouco de sua rotina e da paixão maior que possuem em comum: servir a Deus e aos pobres.
Irmã Lucilda Borges é a superiora da comunidade. Ela também é responsável pela pastoral vocacional da congregação e assistente social. Mato-grossense de Nova Xavantina, ela chegou ao convento ainda adolescente, há 20 anos. Desde então, a cada dia reafirma a sua escolha.
“As irmãs da Mãe Dolorosa serviam nas paróquias da minha cidade. E uma delas foi minha catequista e algo me chamava para viver esse caminho. Depois de um tempo convivendo com as irmãs e participando da rotina, decidi que aqui era meu lugar e aqui estou até hoje”, conta Irmã Lucilda, que atualmente também ajuda outras mulheres que querem trilhar o caminho de entrega da vida religiosa.
Para ser freira, ela explica que a interessada não pode ser casada (ou divorciada) e nem ter filhos com idade inferior a 18 anos. O primeiro passo é buscar o que é chamado de discernimento vocacional, que pode ser um acompanhamento personalizado ou em grupo.
“A partir do discernimento vocacional, a jovem é chamada para estar no convento durante um fim de semana para participar da vida das irmãs, rezando ajudando no nosso trabalho. Assim começa a perceber se é isso o que quer”, esclarece.
Se optar em continuar no convento, Irmã Lucilda explica que a próxima fase é o chamado postulado em que a “aprendiz” de freira mora com as irmãs, tem uma vestimenta mais apropriada – que ainda não é um hábito - e também uma rotina de oração e estudos sobre alguns documentos da igreja e liturgia oração.
“Depois de um caminho de mais ou menos dois anos, se continuar com o mesmo propósito, vem a segunda fase da formação que é o noviciado um tempo mais particular”, detalha.
O noviciado é dividido em dois anos em que a noviça vive um momento de reflexão da vida e também inicia o trabalho junto às comunidades. Logo após vem o juniorato no qual a jovem já é uma religiosa, porque faz os votos simples: professa os votos de pobreza, castidade e obediência que podem ser renovados de dois em dois anos, em um processo dura de 6 a 8 anos.
“Após este período a jovem decide fazer os votos solenes no qual se tornará uma irmã de votos perpétuos em que sela seu compromisso com Deus, com uma aliança”, explica.
Rotina
Hoje, a Congregação das Irmãs Franciscanas da Mãe Dolorosa possui quatro religiosas que vivem uma rotina movimentada. Elas acordam às 5h30, rezam, tomam café e partem para o trabalho. Irmã Lucilda conta que cada uma delas tem um cargo nos dois programas da congregação, o Centro de Educação Infantil Mãe Dolorosa, que atende crianças de 0 a 5 anos e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que atende crianças de 6 a 15 anos.
Às 11h45 se encontram novamente na capela para rezar, almoçam e voltam para as atividades. Às 18h, retornam à congregação para um momento de adoração do santíssimo e oração das vésperas. Após o jantar cada dia elas fazem uma atividade diferente. Tem dia que embarcam no trabalho manual, outros que fazem partilha ou reservam o espaço para recreação.
“A nossa rotina nos ajuda a crescer humanamente e espiritualmente. Unidas ao Senhor e às nossas irmãs estamos sempre ouvindo a necessidade do outro. Somos religiosas para isso”, revela.

Amor sem servir
A freira italiana radicada no Brasil, Irmã Maria, conta que foi essa possibilidade de servir o outro que a motivou a entrar para a carreira religiosa. “Senti no coração após a primeira eucaristia, que eu precisava me doar ao outro. Só que eu não sabia como. Aos 15 anos queria ir para as missões, mas o senhor me chamou nessa congregação”, explica.
Irmã Maria conta que sentiu fascinada pela história da fundadora da congregação, Madre Francisca Schervier, que, de acordo com ela, procurava servir os mais pobres e fazer a vontade de Deus.
Convicta do caminho que seguiria desde os 15 anos, a Irmã Ana Maria, também italiana, por viver em um lar de ateus, pôde se dedicar à vida religiosa aos 19 anos. “Tentei sempre responder à vontade de Deus”.
Desde então se sente confortável e feliz com a decisão. Não tem problemas em vestir diariamente o hábito, muito menos em véu, que segundo ela representa o sagrado. De acordo com ela isso a faz sentir bem e pertencente de Deus.
“Quando andamos na rua, muitas vezes nos reconhecem como irmãs da Mãe Dolorosa. Isso nos faz pertencedoras de um grupo de mulheres que decidiram doar a vida a Deus. O que é muito satisfatório”, conta.