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As escolas mais tradicionais de Goiânia

As escolas mais antigas de Goiânia têm suas origens na educação devocional que predominava em Goiás no século 19. Até mesmo colégios que se originaram dentro do conceito moderno de Estado, caso do Lyceu de Goiânia, tinham forte influência cristã.  

Santos, orações e fé foram o eixo central do início da educação na Capital, que recebeu inúmeras denominações católicas e posteriormente protestantes e espíritas. Das dez escolas mais antigas em atividade, seis são religiosas. A tradição educacional do município reside no controle das lideranças religiosas que planejaram aulas, eventos e influenciaram as famílias.   

Colégio Santa Clara, de 1921: construção imponente de Campinas antecede a criação de Goiânia

Além da fé, a exportação das experiências de ensino da Cidade de Goiás trouxe para a nova cidade um formato pronto de aprendizado profissionalizante e clássico – a chegada do Lyceu (1846), Escola de Aprendizes e Artífices da cidade de Goiás (1909) e Instituto de Educação de Goiás (IEG) marcam este momento logo após a fundação de Goiânia, em 24 de outubro de 1933.

Conforme pesquisa de doutorado de Alessandra Oliveira Santos, defendida na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), existia influência da religiosidade no exercício do ofício de professor no Lyceu de Goyaz (1847-1888). Mas a resistência ao excesso de religião era também perceptível em “professores avessos aos princípios cristãos e que não aceitavam interferências religiosas”.

Lyceu de Goiânia: escola ‘importada’ da Cidade de Goiás trouxe tradição e história para a Capital

Antes de Goiânia, no interior goiano, existia um filtro perpetrado pelo Estado que cobrava idoneidade e moralidade para o exercício da profissão de professor, aspectos mensurados no diapasão das igrejas. “Ao observar o número de professores do clero, podemos constatar, e quase afirmar, que os mesmos eram reconhecidos como detentores de saberes que não se resumiam somente ao latim, cadeira de uma possível exclusividade da igreja”, diz o estudo.

Da mesma forma que o Lyceu e outras unidades “importadas” da Cidade de Goiás, Goiânia passou a contar, por decreto, com a 'transferência'

do Colégio Santa Clara, fundado em 1921 na Campininha das Flores - a cidade que serviu de base para a construção de Goiânia.

Depois da instalação do prédio do Lyceu de Goiânia, criado pelo urbanista Attilio Correia Lima, a primeira escola a surgir na nova Capital, de fato, é o Colégio Santo Agostinho, que data de 1937. Antes de ocupar a atual sede, suas aulas foram lecionadas em uma casa da Faculdade de Direito e no próprio prédio do Lyceu, que data do mesmo ano, mas teve sua estrutura finalizada primeiro.

A história é semelhante a outras jornadas: quatro agostinianas chegaram de Catalão para auxiliarem nos trabalhos da Santa Casa de Misericórdia, ainda em construção. Como missão correlata, deveriam fundar uma escola, cujo propósito seria atrair novos olhares para a nova cidade.

O teatro Madre Teresa Garrido, do colégio, palco de vários espetáculos na atualidade, leva o nome de uma destas pioneiras e a que primeiro dirigiu o Santo Agostinho, escola “que não nasceu ontem”, como muitos costumam sublinhar com orgulho.

Colégio Santo Agostinho: primeira escola católica de Goiânia, depois do Santa Clara, é uma das unidades mais tradicionais da Capital

O tradicional Ateneu Dom Bosco surgiu em 1942, com a matrícula de 60 alunos. Mas os planejamentos para sua criação datam do início da capital, em 1937, quando o bispo de Goiás, Emanoel Gomes de Oliveira, escalou três padres para criarem uma escola agrícola na nova capital.

Escola Técnica

A Escola Técnica de Goiânia, que já foi Escola Técnica Federal de Goiás (ETFG) e hoje atende como Instituto Federal de Goiás (IFG), surgiu em 1942, quando transferiu a estrutura da Escola de Aprendizes e Artífices da cidade de Goiás para a Capital. Sua figura imponente é uma das centrais na determinação da imaginabilidade do Centro.

Em 1947 surge o Ginásio Estadual de Campinas, que será rebatizado de Colégio Pedro Gomes. Enquanto o Lyceu de Goiânia teve apoio político para sua transferência, o colégio de Campinas sofreu pressão justamente para que não fosse criado. Opositores do governador Coimbra Bueno (UDN) justificavam ser perda de recursos investir em Campinas – diga-se, cidade-bairro sabotada pelos agentes públicos e elites do Estado desde a criação de Goiânia.

Colégio Pedro Gomes, antes Ginásio Estadual de Campinas: disputa política para sua construção   

Pedro Ludovico (PSD) ignorou Campinas. E desapontou ao congelar os sonhos dos moradores de acesso à modernidade através do aguardado “segundo grau”. Não fosse promessa de campanha eleitoral de Coimbra Bueno - adversário de Pedro - o colégio não teria sido instituído.

Tradicional Ateneu Dom Bosco surgiu em 1942: escola formou gerações de políticos, jornalistas, desembargadores e médicos da Capital  

As escolas mais antigas de Goiânia

Lista segue critério de construção de unidades e prédios na nova Capital, que surgiu em outubro de 1933. Colégio Santa Clara, 1921, é fundado antes de Goiânia. É a primeira construção educacional no território do município, mas não aparece na lista para efeito das "novas edificações" da Capital

1 – Lyceu de Goiânia – 1937 (Já existia desde 1846 na Cidade de Goiás)

2 – Colégio Santo Agostinho – 1937

3 – Ateneu Dom Bosco – 1942

4 – Escola Técnica Federal de Goiás (Atual IFG) – 1942 (Já existia desde 1909 na Cidade de Goiás)

5 – Ginásio Estadual de Campinas (atual Colégio Pedro Gomes) – 1947

6 – Externato São José – 1948

7 – Instituto Presbiteriano de Educação (IPE) – 1951

8 - Colégio Estadual Damiana da Cunha – 1952

9 - Instituto Maria Auxiliadora – 1956 (o Instituto de Educação de Goiás, chamado IEG, hoje sede da Secretaria de Educação surge em 1929, na Cidade de Goiás e se muda em 1956 para Goiânia) 

10 - Instituto Educacional Espírita Emmanuel - 1957

A chegada dos protestantes e espíritas na educação da Capital

Criado em 1948, em uma casa no Centro, na rua 23 com a 5, o Externato São José se mudou para a sede definitiva, no setor Oeste, em 1963. Fortaleceu o conceito de educação cristã, atraindo moradores mais distantes do Santo Agostinho e Ateneu Dom Bosco.

Fundado em 1951, o Instituto Presbiteriano de Educação (IPE), da Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil(IPB), é pioneiro no ensino evangélico. Teve início a partir da iniciativa de três educadoras – Sebastiana Machado, Martha Rocha e Gilda Pimenta. Instituiu importante contraponto ao catolicismo e inspira outras entidades religiosas a investirem na educação.

Na mesma época, para homenagear a imponente índia caiapó, ocorre a construção do Colégio Estadual Damiana da Cunha, que surgiu em 24 de novembro de 1952, na antiga Vila Operária.

O Instituto Maria Auxiliadora começou a funcionar em Goiânia na avenida Tocantins, em 1956, através da iniciativa de irmãs salesianas que chegaram de Belo Horizonte. Apenas em 1957 é que as novas professoras se mudaram para a atual sede, atendendo cerca de 270 alunos naquele ano.

Espiritismo

No mesmo ano, surge na capital goiana o Instituto Educacional Emmanuel. Fundado pela Tenda do Caminho, entidade de caráter assistencial que depois passaria a se chamar Irradiação Espírita Cristã, o colégio é um dos primeiros a professar a educação espírita no Estado.

Batizado em 1962 de Ginásio Marista, o tradicional colégio da capital integra uma rede de unidades espalhadas pelo pais que surgiu com grande expectativa de mudanças e crescimento da cidade, tornando-se alternativa ao já instituído Externato São José.

Escola tradicional do setor Aeroporto, o Colégio Agostiniano tem início em 1964. Todavia, uma década antes já era uma das missões dos padres agostinianos que fundaram a Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Anos 70

Com a chegada do fim da década e início dos anos 70, já existia grande efervescência de unidades educacionais no Estado. A maioria das escolas que surgiu antes, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, suportou os efeitos do tempo. Por sua vez, as que apareceram nos anos finais das décadas de 1970 e 1980, principalmente as particulares, mais comprometidas com a comercialização do ensino, acabam tragadas por crises econômicas, concorrências e a força centrífuga dos vestibulares.

Em 1968, Campinas ganhou o Colégio Castelo Branco, uma unidade hoje considerada tradicional na região. Era uma das últimas unidades desse primeiro momento da educacao de Goias.

Na sequência, aparecem experiências educacionais aparentemente inovadoras - como Colégio Carlos Chagas, Objetivo e Colégio Professor Pardal. Entretanto, eles todos foram descontinuados nas décadas seguintes, marcando o fim de uma líquida do ensino na Capital.

As escolas mortas de Goiânia

Fundado originalmente fora da nova Capital, na Cidade de Goiás, em 1929, o Instituto de Educação de Goiás (IEG) – hoje sede da Secretaria de Educação do Estado de Goiás – guarda em seus pátios ecos de inúmeras experiências educacionais da Capital que se espalharam para unidades menos religiosas. bandas de música, encontros de violões, namoros, inúmeras narrativas de vida estão dispersas no local que hoje serve à administração pública. O IEG teve a avenida Anhanguera como sede a partir de 1956.

Outra escola determinante na história da capital é o Grupo Escolar Modelo, fundado em 27 de novembro de 1937, através de decreto do Estado Novo.

Passou a funcionar na rua 3, Centro, com dois nomes – além da denominação Modelo, a turma noturna se identificava como Colégio 5 de Julho. Antes chamava-se Ginásio Estadual Brasil Central. O batismo mais recente da unidade data de 1974, quando surgiu o Colégio José Carlos Almeida – homenagem a um brilhante ex-aluno.

Foi desmontado em 2016, pouco depois de ser palco de um dos maiores protestos educacionais da história do Estado, em que alunos lutaram contra a instalação das Organizações Sociais (OSs) na educação pública.

O Instituto Araguaia, localizado nas proximidades do parque Mutirama, escola icônica para várias gerações, hoje deativado, fez parte da história de vida da juventude que buscava concluir a madureza e depois o secundário.

Todas estas unidaes são hoje escolas desativadas, mortas para as novas gerações.

Origem do Colégio Pedro Gomes

De acordo com o pesquisador Vinícius Felipe Leal, que realizou estudo sobre a criação do Colégio Pedro Gomes, Pedro Ludovico, em seu primeiro governo, criou em Campinas, em 1936, o Grupo Escolar Pedro Ludovico.

A unidade foi orientada para atender o público primário. Mas conforme a dissertação de mestrado defendida há dois anos na Faculdade de História, da Universidade Federal de Goiás (UFG), a população de Campinas esperava algo nos moldes do Lyceu, já que sacrificou sua paz, saúde e rotina para a construção da nova Capital.

Campinas, todavia, só receberia a promessa de um colégio neste sentido durante o período eleitoral advindo da abertura democrática: “A saída de Pedro Ludovico, e a abertura democrática em 1945, abriu a possibilidade de que disputas travadas nas urnas pudessem brindar a população de eleitores com embates que confrontavam, em discurso, diferentes projetos de modernização”, diz. Neste cenário, o então candidato Coimbra Bueno prometeu e cumpriu, criando o Ginásio Estadual de Campinas, colocado em efetivo funcionamento em 1950.

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