Cotidiano

A África dos milionários e a desigualdade social

Redação DM

Publicado em 5 de agosto de 2015 às 00:43 | Atualizado há 10 anos

Da Opera Mundi

Há cerca de 160 mil pessoas residentes no continente africano com fortunas acima de um milhão de dólares (cerca de 3,4 milhões de reais). Esta é uma das conclusões de um relatório de uma empresa sul-africana de pesquisas de mercado sobre a riqueza na África.

O número de milionários no continente mais que dobrou desde 2000, crescendo 145% nos últimos 14 anos. O índice africano supera a taxa global (73%), mas ainda é pouco mais da metade da taxa da América Latina, que quase quadriplicou o número de pessoas com mais de um milhão de dólares, com índice de aumento de 278% neste período, segundo o relatório.

De acordo com o relatório da New World Wealth, a soma das fortunas milionárias africanas chegou a 660 bilhões de dólares em 2014, e o número de milionários no continente deve chegar a 234 mil até 2024.

A bonança milionária, entretanto, não foi acompanhada por uma proporcional distribuição de renda entre toda a população africana. O número de pessoas no continente que vivem com menos de US$ 1,25 por dia (cerca de 4,30 reais por dia ou 130 reais por mês) aumentou de 411,3 milhões em 2010 para 415,8 milhões em 2011, segundo o Banco Mundial.

Para Nick Dearden, diretor da organização Global Justice Now, o relatório da empresa sul-africana mostra o aprofundamento da desigualdade no continente. “Não surpreende que pessoas ricas na África estejam ficando mais ricas, já que estamos vendo um tipo de desenvolvimento que beneficia amplamente os ricos e piora ainda mais as vidas das pessoas pobres”, declarou Dearden ao jornal britânico The Guardian. “Ajuda assistencial, acordos de comércio e ‘investimento’ empresarial patrocinado pelo Reino Unido estão aprisionando os países em um tipo de crescimento que consiste em tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.”

Segundo o relatório, as ilhas Maurício abrigam as pessoas mais ricas na África, com a renda per capita estimada em US$ 21.470, enquanto a República Democrática do Congo é o país mais pobre, com renda per capita de 230 dólares. A renda per capita global está estimada em US$ 27.600.

O Zimbábue é o país com a pior performance no ranking da empresa sul-africana. A renda per capita zimbabuense passou de 630 dólares em 2000 para 550 dólares em 2014. O relatório destaca que, diferentemente de países como Líbia e Tunísia, afetados por instabilidade política e social, o Zimbábue continua sob a mesma liderança, o presidente Robert Mugabe, no poder desde 31 de dezembro de 1987.

Angola é o país onde a renda per capita mais cresceu nos últimos 14 anos: de 620 dólares em 2000 para 3.920 dólares em 2014. Já a África do Sul é o país com mais milionários no continente: 46.800 pessoas. O Egito vem em segundo, com mais de 20 mil milionários, e a Nigéria em terceiro.

Para Andrew Amoils, chefe de pesquisa da New World Wealth, empresa que produziu o relatório, cidadãos ricos beneficiam as economias africanas: “Muitas destas pessoas mantêm a riqueza delas na região. Então há muitas vantagens, porque muitas delas são empresárias e muitas iniciam empreendimentos”, declarou ao The Guardian.

Dearden discorda: “Desde Nigéria até Moçambique, você pode ver a pobreza aumentando, assim como um rápido crescimento econômico. O que isso significa? A riqueza está sendo apropriada pelos super-ricos e pelo capital transnacional. E isso significa que pessoas comuns, em comparação, ficam ainda mais pobres.”

“Isso tudo poderia ser diferente: com investimento governamental decente em serviços públicos, taxação progressiva, regulação da transferência de capitais e relações econômicas regionais para os países africanos se livrarem da dependência dos mercados ocidentais”, conclui.

 

 

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