Cotidiano

A carestia do ensino

Diário da Manhã

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 01:32 | Atualizado há 7 anos

Segundo a nossa Constituição Federal, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incen­tivada com a colaboração da socie­dade, visando ao pleno desenvolvi­mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qua­lificação para o trabalho (art.205).

Embora assentado no papel e garantido em bom tom, a realida­de assusta pais e mães aflitos, que, com o orçamento apertado, não conseguem acompanhar o preço da educação particular no Brasil.

A sociedade brasileira não dis­põe de uma educação pública de qualidade por não ser esta uma prioridade do poder público. Por outro lado, o poder público não a prioriza, talvez por ser uma deman­da envolta em cartéis.

Cartel é uma associação infor­mal entre empresas do mesmo ramo para controlar o mercado e impedir a concorrência e manipu­lar os preços para o consumidor.

A investigação baseia-se na pos­sibilidade de que haja em Goiás um cartel de escolas privadas que este­jam sendo beneficiadas por um sis­tema ineficiente de educação nos moldes previstos na constituição.

Também, a investigação passa pelo papel do Conselho Estadual de Educação em promover o desenvol­vimento educacional do Estado nos moldes previstos na constituição, ou se ele está eivado de representantes de escolas privadas, que com braço forte, controlam o desenvolvimen­to tanto público quanto privado do ensino do Estado, em nível de ensi­no fundamental, médio e superior.

O campo é vasto e passa por vá­rias nuances, como o papel da es­cola pública e as iniciativas do po­der público que busca integrar áreas como a saúde como pré-requisito de uma educação pública de qua­lidade, em um país em desenvol­vimento e com alto custo de vida.

O poder público e a escola pú­blica deixaram de ser o foco das entidades públicas de fiscalização da educação, que preferem pautar assuntos relativos a pautas da esco­la privada como material de estu­do daquela entidade, dando vazão à valorização de fatos irrelevantes do cotidiano escolar que em nada contribuem para o desenvolvimen­to e avanço do ensino público, tal­vez com o único objetivo de pro­mover o avanço do ensino privado.

Infelizmente, para os gestores públicos, a educação de qualidade ainda parece longe de fazer parte de suas prioridades, ficando à mercê de um sem-número de problemas, tais como a tradicional descontinui­dade das iniciativas educacionais, a superlotação das salas de aula, a de­ficiência na formação do professor, o descaso com a saúde do aluno e a do professor, entre outros.

O setor privado – cada vez mais exigente em relação à qualificação da mão de obra e recentemente de­mandando também características como criatividade e bom relacio­namento interpessoal – demons­tra preocupação com os resultados que estão sendo obtidos na educa­ção pública e se organiza para coo­perar e reivindicar mudanças, na tentativa de desmonte do ensino público brasileiro.

O custo da educação privada no Brasil é cada dia mais eleva­do, um verdadeiro encargo às fa­mílias brasileiras, que tem seu pa­drão de vida comprometido.

O Procon Goiás divulgou no fi­nal do ano passado pesquisa de preços de mensalidades escolares para 2018. O levantamento foi rea­lizado entre os dias 4 e 22 de no­vembro de 2017 em 38 escolas par­ticulares em diferentes regiões da capital e encontrou diferença de até 300% nos valores cobrados.

Para o ano de 2018, o custo foi de 9,64% a mais com a educação dos filhos.

Os dados foram divididos por categoria, do Maternal 1 até o En­sino Médio (3ª série).

De acordo com o relatório do Procon Goiás, a maior variação foi no Ensino Médio (3ª série), com uma diferença de 294,50%. A mensalidade mais baixa en­contrada foi de R$ 545,00 no Co­légio Época e mais alta no Colé­gio WR, R$ 2.150,00.

SUBSÍDIOS

Não há que se falar em assis­tencialismo em termos de sub­sídios à educação. A ineficiência de políticas públicas e o desco­nhecimento da escola pelos ges­tores públicos são evidências do descaso do Estado para o desen­volvimento de uma escola de qua­lidade, sendo esses alguns dos de­terminantes do descumprimento do papel da instituição escola.

A desvalorização do professor pode ser uma estratégia de pri­vatização do ensino, pois a clas­se, em se sentido cada vez mais impotente, desvalorizada e des­motivada, pela educação públi­ca, busca no caminho do ensino privado sua escapatória.

Cabe à sociedade assumir sua responsabilidade diante do en­sino público e ao poder público cabe não só compreender, mas, principalmente vivenciar a esco­la estabelecendo um diálogo ver­dadeiro e profundo com o pro­fessor, buscando, por meio da educação pública e gratuita uma transformação social sustentá­vel baseada em valores humanos mais éticos e mais justos.

 


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