A dor dos esquecidos
Diário da Manhã
Publicado em 6 de janeiro de 2016 às 19:58 | Atualizado há 4 meses
Uma dor imensurável. A voz fraca. Um suspiro de cansaço. O corpo cada dia mais debilitado. Três paradas cardíacas. É esse sofrimento que acompanha Jairo D’Arc, 56 anos, há mais de cinco meses. Ele busca internação para se recuperar de três cirurgias, além de vinte e sete dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa).
Ao receber a nossa equipe, Jairo explicou que a primeira cirurgia realizada foi de apendicite, em 05 de setembro do ano passado. Já no dia 19 de setembro passou por outra cirurgia por conta de um pequeno espaço entre os pontos que estava vazando fezes. Em outubro fez a terceira cirurgia para trocar o local da bolsa de colostomia – procedimento que consiste na exteriorização do intestino grosso, por meio da parede abdominal, para eliminação de gases ou fezes -, pois a mesma não estava aderindo a pele, além de lhe ferir.
“Depois disso fiquei vinte e sete dias na UTI, onde tive três paradas cardíacas. Depois fiquei na enfermaria até que recebi alta. Eles me mandavam para casa, eu tinha recaída e voltava para o hospital. Aconteceu isso mais de seis vezes. Eles alegam que é normal a bolsa não aderir a pele, mas você acha que isso é normal? Ficar queimando, saindo fezes durante todo o dia, de cinco em cinco minutos?”, conta Jairo com pausas durante a fala, se sentindo fraco.
“Está difícil a situação!”, ressalta. Sem a bolsa de colostomia que não está firmando na pele, Jairo explica que a dor é grande por conta da queimação. Agora, ele espera se recuperar para passar por outra cirurgia que é a reconstrução do intestino. Jairo pede encaminhamento a um hospital urgentemente para amenizar seu sofrimento.
Ele é pai de três filhos: Játima, Sairo e Fagner. Com ajuda deles e da ex-esposa, Maria de Fátima Correia, ele recebe os cuidados e todo amparo para que a dor seja amenizada. “Nós estamos percebendo que está havendo piora. Ele está enfraquecendo bastante cada dia mais. O que nós estamos buscando é uma internação digna para ele num hospital público, pois ele não tem plano de saúde e não temos condições de pagar”, explica Maria de Fátima.
Durante a internação de Jairo, Maria de Fátima contou que o filho fez um vídeo mostrando a situação do pai, alegando que estava tendo maus cuidados no Huapa. “Com isso, o pessoal do hospital conversou com meu filho. Houve melhora no atendimento em seguida, mas logo depois voltou a negligência por parte de alguns atendimentos realizados nele”, conta Fátima.
Ela conta que além desses complicações de saúde que está passando, Jairo também tem um cisto no rim e problema na próstata. Além disso ele passou por um processo infeccioso muito grave e ainda tem dificuldade para urinar.
Por meio de amigos, a família está recebendo ajuda com materiais usados para os cuidados com Jairo. “Pelos amigos estamos conseguindo ajuda, mas não está sendo fácil nem para a gente, e principalmente para ele”, explica a ex-esposa. De acordo com a família, o material gasto por dia é grande, cerca de sessenta gazes, um litro e meio de álcool, setenta luvas, além de medicamentos.
Amigo de Jairo, Rui Carlos Vieira de Almeida afirma que mesmo debilitado o amigo continua lutando pela sua vida, mas diz que não é fácil encontrá-lo nessa situação. “Ficamos tristes ao ver a situação do nosso amigo e com raiva por ver que ninguém toma providência para resolver o caso de Jairo. O poder público poderia estar resolvendo, mas existem várias deficiências na área da saúde”.
Para Jairo é nessas horas que descobrimos quem são os nossos amigos de verdade. “Graças a Deus estou vendo o quanto sou querido e amigos que tenho”, conta chorando de emoção com o apoio.
Por meio do grupo criado em rede social, titulado como “Amigos do Jairinho”, o filho Fagner agradece a ajuda que a família têm recebido. “Sabemos que que tudo que veio até hoje foi de coração. Como sabem, minha mãe, a Fátima, é divorciada de meu pai há muitos anos e, mesmo assim, não mediu esforços para nos ajudar a cuidar de meio pai. Ela gentilmente o recebeu em sua casa a fim de proporcionar o melhor tratamento possível, uma vez que o local em que ele reside atualmente é inapropriado para que seja realizado todos os cuidados necessários, pois demanda de muitos recursos, que variam desde a materiais a humanos”.
A ex-esposa, durante a entrevista comentou que não podia desamparar o pai dos seus filhos nesse momento de sofrimento. “A gente não podia desamparar, não tem como, é difícil! Não tem como deixar um ser humano por aí jogado no mundo, a gente tem que acudi. Nós temos que fazer o nosso papel”, conclui.
Nota do Huapa
Leia na íntegra a resposta do Hospital que atendeu Jairinho:
O Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) esclarece que, devido ao fato do paciente Jairo D’Arc, de 55 anos, ter passado por uma cirurgia intestinal e estar sob dieta hipercalórica e hiperprotéica, além de estar com uma bolsa de colostomia, existe a possibilidade de haver a liberação de uma grande quantidade de resíduos intestinais, o que pode ocasionar em maior evacuação e, consequentemente, extravasamento da bolsa, como mostrado no vídeo. É importante ressaltar que o paciente precisa ganhar peso para realizar uma cirurgia de reconstrução do intestino.
O hospital destaca que ofereceu toda assistência médica necessária, sendo o paciente acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e técnicos de enfermagem, durante o período em que esteve internado na enfermaria da Clínica Médica do hospital, entre os dias 4 de novembro a 20 de dezembro de 2015, e novamente entre os dias 24 de dezembro de 2015 e 2 de janeiro de 2016.
O Huapa ressalta que a situação do paciente não é mais um caso de urgência ou emergência – perfil de atendimento do hospital -, desta forma, necessita de acompanhamento da atenção básica de saúde ou médico domiciliar (home care), serviço que é de competência do município de Aparecida de Goiânia e não da unidade hospitalar. O hospital informa que os familiares do paciente podem procurar qualquer unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) no município para solicitar o home care, mas destaca que o Serviço Social do Huapa já contatou a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida para solicitar o acompanhamento.
Assessoria de Imprensa Huapa