A escolha certa da profissão
Diário da Manhã
Publicado em 26 de junho de 2018 às 01:03 | Atualizado há 4 meses
Sindy Queiroz Santos tem 26 anos e ainda não cursa uma faculdade. Não que não tenha sido aprovada em vestibulares. Ao contrário. A moça nunca conviveu com a dificuldade de aprovação, sendo muito dedicada aos estudos, tanto que já foi admitida nas faculdades de Nutrição e Direito. A última ela até começou a cursar, foi aí que bateu a dúvida…
Na mesma situação de Sindy estão muitos jovens e adolescentes. Principalmente, às vésperas da temporada de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), eles têm que decidir, sem muita análise e, principalmente, sem conhecer a realidade das profissões, qual o trabalho que precisará desenvolver o resto de suas vidas.
É uma roleta russa. A chance de dar errado é proporcional a de acerto. Isso porque, além do desconhecimento, pode haver uma inversão de valores, uma não adequação da profissão ao perfil e ao anseio de cada um e, ainda, a influência familiar.
Não ajuda o fato de o candidato em questão estar, quase sempre, na adolescência – e cada vez com menos idade – no momento de tão importante decisão. Nesse caso, contar com a maturidade e autoconhecimento acaba não sendo uma opção e a influência paterna ou da mídia acaba sendo mesmo o peso extra no prato da balança da escolha. O resultado dessa incerteza já está sendo contabilizado nos primeiros anos de universidade e da vida profissional dos jovens do País.
De acordo com pesquisa coordenada pelo Observatório Universitário–um núcleo de pesquisa dedicado ao estudo da educação de terceiro grau no Brasil -, cerca de 35% dos estudantes que conseguem chegar às universidades acabam por desistir do curso nos dois primeiros anos.
A situação daqueles que chegam a concluir as faculdades também não é animadora, visto que, no País, mais da metade dos formandos desistem de trabalhar na área de preparo acadêmico.
Sindy viveu na pele o drama dessa estatística. Chegou a ingressar no curso de Direito, mas passada a empolgação da conquista, se viu pouco disposta a absorver os conteúdos do curso. “Ficava sem vontade de pegar os livros, de estudar mesmo”, afirma a estudante.
Ao questionamento veio a decisão: ela resolveu adotar uma estratégia radical e parou o curso. Em seguida procurou ajuda profissional.
A jovem deu início a sessões com uma orientadora vocacional que a instruiu até mesmo sobre as profissões existentes. Sindy ainda está no processo de orientação, não escolheu o que quer fazer ainda, mas já evoluiu, pois descobriu que quer trabalhar com crianças – bem diferente do inicial curso de direito. Fechando o leque de opções ela chega a apostar em pedagogia ou psicologia, mas ainda continua sua análise sob a orientação de um profissional.
Ela conta que não tem pressa. Não quer perder mais tempo como o que aconteceu no curso de direito. Também deseja estabelecer prioridades; até acha que a remuneração profissional é importante, mas não tem que ser o foco principal. Agora ela se diz focada, sim, na felicidade, na satisfação que tal profissão pode dar. O resto seria mera consequência. “Um dia ainda vou segurar um diploma que realmente me deixou realizada”, afirma Sindy otimista.
Um dia ainda vou segurar um diploma que realmente me deixou realizada”Sindy, estudante
Decisão errada pode gerar frustração
De acordo com a psicóloga Máris Eliana Dietz, masmter coach, que atua na área de orientação vocacional, muita frustração pode advir de uma decisão errônea. Perda de tempo e material, já que há um investimento financeiro do próprio candidato e da família, são apenas a ponta do iceberg da problemática gerada a partir da má escolha de curso. Muitas vezes, revela ela, a desmotivação é tão grande que nem se chega a tentar uma nova opção de curso superior.
Máris é orientadora vocacional, área que resolveu investir após constatar o grande número de jovens que chegavam “perdidos” ao seu consultório, sem saber muito bem que caminho tomar profissionalmente e muitas das vezes sofrendo influências externas, da família e da própria sociedade sobre as chamadas profissões rentáveis.
Passou a adotar um olhar mais atento à questão e hoje recebe um grande volume de estudantes, no geral adolescentes, a quem orienta.
Casos como o de Sindy são cotidianos e, para cada um, ela busca chegar no cerne da dúvida com metodologia e muita análise (de si mesmos e das profissões), além das tradicionais técnicas usadas em sessões de consultórios. “Os resultados têm sido satisfatórios, embora cada um dos pacientes tenha um tempo próprio para descobrir o que realmente o motiva enquanto profissional”, esclarece a psicóloga.
Porém, orientação vocacional tem um preço e nem sempre o estudante ou suas famílias estão dispostas ou podem pagar. Sessões de orientação vocacional individual, em termos de investimento, seguem a mesma linha das terapias psicológicas e como tal são cobradas segundo tabela praticada pela categoria. O trabalho compensa? Sim, afirmam as duas partes do processo. Sindy se diz muito satisfeita com o investimento, sendo que só tem elogios ao profissional e à terapia.
Máris Eliana Dietz, enquanto profissional, até entende a dificuldade e diz que novas modalidades dessa terapia estão sendo oferecidas ultimamente. Ela cita casos de escolas, que buscam por iniciativa própria aplicar testes vocacionais – embora esclareça que estes são apenas uma das ferramentas para se auxiliar na escolha – e que até criam grupos de debates e discussões sobre o tema.
TERAPIA EM GRUPO
Para ela uma boa opção, ainda, são as terapias em grupo, nas quais há o mesmo tipo de discussões, mas em grupo, o que torna mais viável financeiramente.
Em Goiânia, alguns grupos já trabalham dessa forma, como acontece no Programa de Suporte e Crescimento Pessoal desenvolvimento pelo Instituto Gartrell, voltado para as ações da área de psicologia. “Nesses casos, embora mais pulverizado entre os participantes, existe a orientação efetiva e o que é melhor, resultados que é o que se quer e de preferência num tempo hábil”, afirma a psicóloga.
A psicóloga destaca, então, a importância de o jovem fazer um estudo mais aprofundado sobre a área em que julga querer atuar futuramente. A pesquisa pode ser feita através da própria internet, através de conversa e acompanhamento da rotina de profissionais que já trabalham na área pretendida e com muita leitura sobre a área em questão. Visitas a universidades, averiguação da grade curricular dos cursos e entrevistas com estudantes em formação também ajudam muito, acrescenta a orientadora.
Para Máris Dietz, uma decisão dessa magnitude deve ser tomada de forma centrada e embasada. Estudar a área é importante, assim como fazer uma avaliação sobre si mesmo, seus anseios, pretensões práticas e humanas para um futuro que nem está assim tão distante.
Ela acredita que quando se faz uma escolha, até certo ponto, fundamentada no autoconhecimento já é grande o risco de erro, porque são muitas mudanças da passagem da adolescência para a idade adulta. Para aqueles que entram já com sua bagagem de dúvidas, a equação pode ter resultados desastrosos a curto, médio e, com toda certeza, a longo prazo. “Estar mais próximo possível daquilo que se pretende para si como pessoa e trabalhador pode ser o diferencial entre ser um profissional de sucesso e alguém que, à cada jornada diária, é torturado pelo trabalho que escolheu.
A psicóloga destaca que é importante nessa escolha saber a diferença de hobby e do que se almeja profissionalmente e como ser mantenedor de um estilo de vida tido como ideal por cada um. Ela destaca que muitos jovens, até pela pouca idade, são incapazes de definir com qual área se sentem mais empáticos. Nesses casos, a orientação vocacional ajuda a desenhar um mapa mais aproximado do perfil que essa pessoa tem e terá futuramente.
Os chamados testes vocacionais, muito populares, podem ser de grande auxílio, ainda que devam ser encarados mais como uma ferramenta adicional do que resposta definitiva a uma dúvida. Ela explica que tais testes podem apresentar variações de acordo com a fase e idade de cada estudante, por isso só devem ser encarados como “palavra final” na escolha do curso.