A força das mais de 600 Goiânias
Diário da Manhã
Publicado em 26 de novembro de 2015 às 22:47 | Atualizado há 9 anosNa tarde de sexta-feira da última semana, mais de dez líderes comunitários visitaram a Redação do Diário da Manhã. Por quase duas horas conversaram com o editor Geral, Batista Custódio, sobre os problemas que afligem suas respectivas comunidades. O movimento comunitário ressurge com força, depois de décadas de aparente desenção.
O Diário da Manhã, ao longo de sua existência, tem sido uma tribuna de onde autênticos líderes comunitários fazem soar a voz dos bairros, de onde cobram das autoridades as necessárias providências aos muitos problemas que os afetam. Os líderes reconhecem no DM uma publicação que se identifica com o cidadão goianiense e que sempre o amparou com sua solidariedade.
As queixas contra a ação das autoridades muncipais é amarga. Para Roberto Ladislau, liderança do Jardim Dom Fernando, região leste, “Goiânia virou um lixão a céu aberto, porque a prefeitura quer colocar na cabeça das lideranças e da própria comunidade que o lixo é problema do povo”.
Goiânia já foi cidade limpa. “Atualmente, está uma vergonha”, protesta o líder. Ele denúncia que muitos espaços públicos vem servindo de depósitos de lixo. Antes, a Comurg recolhia quantidade irrisória de entulho, de 15 em 15 dias, “mas, agora, nem isso”. Ladislau exige a retomada regular da coleta de lixo. “Goiânia virou um lixão a céu aberto, porque a prefeitura quer colocar na cabeça das lideranças e da própria comunidade que o lixo é problema do povo”, indigna-se o líder.
Valdemir dos Santos, do conselho de segurança do Recanto das Minas Gerais, conta que o problema da inconstância na coleta de lixo é o mais atual. Mas, segundo afirma, “faltam incentivos aos esportes, se bem que precisamos também de maior efetividade da polícia nas comunidades e atendimento mais humanizado nos postos de saúde” afirma. “Nossas demandas são raríssimas vezes atendidas pelas autoridades competentes”.
Por isso, acredita ele, a intervenção do DM, abrindo espaços ao movimento comunitário, “será a esperança de que nossas reivindicações serão atendidas”, diz. De acordo com Ulisses Sousa, da Vila União, região sudoeste, contar com um jornal amplificando a voz da comunidade representa um avanço em termos de maior participação da população.
Conforme os líderes de bairro, o engajamento do Diário da Manhã fortalece o “incansável movimento comunitário, pois, com certeza, agora teremos um instrumento de cobrança junto às autoridades, acredita a conselheira de saúde Ednamar Oliveira, do Recanto das Minas Gerais.
A voz das ruas
Com 85 de existência, Goiânia extrapolou as expectativas de seus projetistas. A cidade cresceu horizontal e verticalmente. Trinta anos atrás, o grosso da população viva na área central. Hoje, entre os 15 bairros mais populosos da cidade, alguns estão situados na periferia: Jardim Curitiba, Jardim Guanabara, Balneário Meia Ponte. Porem os mais populosos, por serem densamente povoados, continuam sendo o Jardim América e o Setor Bueno, os dois juntos com mais de 90 mil habitantes.
Esses 15 bairros de Goiânia abrigam 26,8% da população da capital, segundo dados do Derpartamento de Pesquisa, Estatística e Estudos Econômicos da Secretaria de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura de Goiânia. Os números relacionados aos 15 bairros mais populosos (348,4 mil habitantes, segundo o IBGE) impressionam pelo fato de Goiânia contar 641 bairros, abrigando uma população recenceada de 1,3 milhão.
Essas comunidades, que a tradição mandou chamar de “bairros”, na prática são verdadeiras cidades, com uma vida própria e um sentido próprio de vizinhança. Os de existência mais recente, são os mais carentes. Lá, a presença do poder público é mais escassa. É isto que gera protestos e mobiliza a população em torno de reivindicações básicas. É daí que renasce o movimento comunitário e suas incipientes organizações militantes.