Aliança Nacional LGBTI+ aciona Ministério Público para apurar crime em falas de André Valadão
Gregory Rodrigues
Publicado em 3 de julho de 2023 às 19:04 | Atualizado há 4 meses
Envolto
em uma grande nuvem de polêmicas causadas por seus por seus posicionamentos
controversos, o pastor da Igreja Batista da Lagoinha, André Valadão, foi
denunciado pela Aliança Nacional LGBTI+ ao Ministério Público Federal. A
entidade pede que o órgão investigue possível cometimento de crime de incitação
à violência contra a população LGBTI+ durante fala proferida no último domingo,
02 de julho.
O líder
religioso afirma durante trecho da pregação batizada de “Teoria da Conspiração”,
que o casamento entre pessoas do mesmo gênero “não é o fim”, mas “a porta que
foi aberta” e seria a causadora de “tudo isso que está acontecendo aí”, fazendo
menção aos avanços conquistados pela população LGBTI+ no tocante aos direitos,
tais como adoção de crianças, doação de sangue, e até mesmo a criminalização da
violência LGBTIfóbica.
No
entanto, o religioso radicaliza seu discurso, e afirma que não deve ser tratado
como normal aquilo que, segundo ele, a bíblia condena. Para Valadão, se Deus
pudesse “matava tudo e começava tudo de novo”, citando a passagem bíblica que
narra a aliança feita entre Deus e Noé após o dilúvio como justificativa. Ele
afirma que agora esta missão está com aqueles que “servem ao Senhor”.
“Essa porta foi aberta quando nós tratamos como normal aquilo que a Bíblia já condena. Agora é hora de tomar as cordas de volta e dizer: ‘não, pode parar, reseta’. Aí Deus fala, ‘não posso mais, já meti esse arco-íris, se eu pudesse, eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi para mim mesmo que não posso, então, agora está com vocês’. Você não pegou o que eu disse: agora está com você. Eu vou falar de novo: está com você”
André Valadão
Em entrevista à reportagem do Portal Diário da Manhã, o Diretor Presidente da Aliança Nacional
LGBTI+, o Pós Doutor em Educação, Professor Toni Reis, compara as estratégias
adotadas pelo religioso às mesmas adotadas por Adolf Hitler. Segundo Reis,
Valadão primeiro buscou desumanizar a população LGBTI+, para depois pregar o
seu enfrentamento.
Roque de Sá / Agência Senado
“É extremante grave a fala deste cidadão, ele está pregando o genocídio da população LGBTI+. Como ele vinha fazendo naquele processo de desumanizar nossa comunidade, agora ele já está para a solução final. Isso foi um processo inclusive feito por Adolf Hitler, ele primeiro desumanizou o povo Judeu e depois foi para a solução final, que foram os campos de concentração”
Toni Reis
Pós Doutor em Educação
Reis salienta
que o religioso terá de responder conforme as leis nacionais e internacionais,
tendo em vista seu local de residência.
“Ele terá que responder conforme as leis do Brasil e no âmbito internacional, tendo em vista que ele reside nos Estados Unidos. Nós vamos buscar justiça em todos os fóruns, inclusive nos fóruns internacionais”
Toni Reis
Pós Doutor em Educação
Toni
Reis que possui vasta história de luta pelos Direitos Humanos e Cidadania da
População LGBTI+, salienta que a entidade que representa defende a liberdade
religiosa, desde que esta não ataque a dignidade humana. Para ele, este discurso
vai incentivar que seguidores de Valadão possam cometer atos violentos contra pessoas
Sexodiversas.
“A Aliança Nacional LGBTI+ respeita incondicionalmente a liberdade religiosa e de expressão, desde que ela não fira a dignidade humana, e no caso em tela com absoluta certeza tais limites são extrapolados. Este discurso pode incentivar que seguidores deste senhor passem a espancar e matar pessoas LGBTI, se utilizando desta fala desastrosa como justificativa.” finalizou
Toni Reis
Pós Doutor em Educação
De acordo com os Coordenadores Adjuntos da Área Jurídica da Aliança Nacional LGBTI+, Dr. Mateus Cesar e Dr. Gabriel Dil, ainda que o discurso tenha sido proferido em solo Norte-Americano, a justiça brasileira prevê a possibilidade de apuração de responsabilidades, tendo em vista que o público alvo era o Brasileiro. Além disso, eles reforçam que tais afirmações tem grande potencial de gerar um clima de exclusão e marginalização da população LGBTI+.
Quando líderes religiosos propagam ideias de ódio e intolerância, essas afirmações têm o potencial de gerar um clima de exclusão, marginalização e rejeição, comprometendo substancialmente a viabilidade de participação plena dessas pessoas na sociedade. Além disso, tais discursos retroalimentam uma cultura cada vez mais distante dos valores de alteridade
Dr. Gabriel Dil
Apesar de proferidas durante um culto nos Estados Unidos, é evidente que os crimes praticados pelo pastor devem ser julgados pela lei brasileira. A justiça brasileira já tem assentada essa possibilidade. As falas criminosas, em português, obviamente se destinavam ao público brasileiro e o discurso foi transmitido ao vivo.
Dr. Mateus Cesar