Angústia na escolha do diploma
Diário da Manhã
Publicado em 25 de agosto de 2016 às 02:09 | Atualizado há 4 mesesÉ chegada a hora da decisão, mas como saber se você escolheu a profissão certa? Especialista dá dicas
Gigriolli Karoline Rodrigues Lima, 18 anos, carrega em sua bagagem inúmeros sonhos. A estudante está no terceiro ano do Ensino Médio, faz cursinho de redação todos os sábados e concilia os estudos com outro cursinho pré-vestibular online. Ela busca, antes de qualquer coisa, uma profissão com a qual realmente se identifique e que lhe traga felicidade no dia a dia. Das várias opções que já passaram pela sua cabeça, Gigriolli está decidida, será uma chefe de cozinha.
“Desde pequena tinha alma de cozinheira, gostava de assistir programas de culinária e sempre fui fascinada por livros de receitas, principalmente os antigos. Tudo que eu lia colocava em prática, fazia uma bagunça na cozinha, muitas vezes dava certo, outras não”, brinca a jovem.
Mas a escolha da profissão para Gigriolli Karoline não foi tão fácil como parece. O cardápio variado de cursos superiores acaba se transformando em pesadelo na busca pela futura profissão. Muitas vezes, este momento, que exige cabeça fria, reflexão, conhecimento, principalmente porque as linhas que dividem as áreas do conhecimento tornam-se, a cada dia, mais tênues, gera muita angústia nos estudantes.
“Eu sempre quis fazer Gastronomia, mas com medo do mercado de trabalho, dos salários, e até mesmo por falta de apoio na família mudei de ideia várias vezes, até pensei em fazer Medicina, por fim decidi que Gastronomia é mesmo o que eu quero”, diz Gigriolli.
Orientação
Para o psicólogo Danilo Suassuna, os jovens, principalmente, devem deixar de agir por impulso e refletir mais sobre suas decisões. “É um mito a crença de que tudo na vida deve ser decidido rapidamente caso contrário as chances serão perdidas”, alerta o especialista.
Ele aconselha que o primeiro passo na hora de decidir a profissão é analisar as habilidades. “Avaliar o que você tem de melhor e não ficar se culpando ou tentando encontrar talentos que outros amigos têm ou mesmo que deseja ter. O foco na falta não trará nada de positivo. É precisa reconhecer em que é melhor e, então, lembrar que talvez fará isso para o resto de sua vida”, afirma.
Conforme o especialista, é interessante o aluno antes de decidir a profissão fazer uma entrevista com um profissional bem-sucedido na área. “Buscar neste diálogo compreender o que poderá realmente fazer e o que não irá fazer de modo algum. Retirar todas as fantasias do lado bom ou ruim da profissão. Descobrir quais as maiores dificuldades que este profissional teve para chegar até onde chegou. Perguntar ainda o futuro da profissão, ver qual a perspectiva e se isso se enquadra nos anseios do aluno”, explicou Danilo Suassuna.
Ouvir os pais é a outra dica do psicólogo Danilo Suassuna. Ele ressalta que escutar pai e mãe não significa que você deverá fazer o que eles pedem ou que será um espelho do que eles querem, mas apenas ouvir.
“Eles são mais velhos, experientes e entendem como o mercado de trabalho funciona em diversas áreas. Desprezar tamanho conhecimento e vivência seria um desperdício. Se os pais já estão na área em que o filho deseja, atentar para o fato de que a escolha pode ou não estar contaminada por eles. Seguir a linhagem não aponta nada de errado, interrompê-la também não”, esclarece.
Pressão
Ao lado da angústia da escolha, a pressão pelo sucesso no Enem e nos vestibulares, aparece como um outro fantasma que assombra os dias e as noites dos estudantes. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2016 teve 8,647 milhões de inscrições confirmadas, de acordo com o Ministério da Educação (MEC).
Na Universidade Federal de Goiás (UFG), Medicina é o curso com maior nota de corte, conforme a última parcial do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2016. Em seguida, aparecem Direito e Engenharia Civil.
Os inscritos precisam fazer pelo menos 773,57 pontos para ficar entre os potencialmente selecionados para Medicina na capital. Já no campus de Jataí a nota mínima é de 762,85.
Ana Beatriz Batista Cabral, 27 anos, é formada em Direito, contudo ela optou em voltar para o cursinho pré-vestibular para ir atrás do seu sonho. “Cheguei a trabalhar na área. Mas acho que o que me motivou a mudar de ideia foi o fato de eu pensar no meu futuro e não me enxergar como advogada ou num concurso público. Acho que a gente tem que decidir o que quer pra vida toda muito jovem, e quando eu saí do Ensino Médio isso não estava claro pra mim”, falou.
A jovem voltou para a rotina dos estudos com o intuito de se tornar médica e cuidar de crianças. “Sempre tive um carinho maior por crianças, faço trabalho voluntário há seis anos e mais voltado pra elas, então decidi abandonar a área jurídica e fazer Medicina”, revela.
Confira algumas dicas que ajudam no processo de decisão
Autoconhecimento + informação profissional + reflexão = escolha consciente e responsável
Busque o autoconhecimento, isto é, tenha clareza das suas habilidades, interesses, gostos e preferências pessoais e profissionais.
Ao escolher uma profissão, é importante diferenciar aquilo que você gosta por interesse próprio ou hobby daquilo que gosta e se imagina atuando enquanto profissional no futuro.
Procure se informar sobre as profissões — o que faz, com o que trabalha, áreas de atuação, onde pode trabalhar, entre outras informações — em guias de profissões, na Internet, em visitas a universidades e conversas com profissionais da área/profissão de interesse.
Cuidado com os estereótipos: preconceitos e modismos em relação às profissões. Procure sempre a informação correta e adequada.
Converse com pais, professores, amigos e profissionais sobre sua escolha profissional, as dúvidas, as angústias e os medos que surgem nesse momento. Converse também sobre as profissões, o mercado de trabalho e as suas expectativas futuras.
Diferencie aquilo que você quer daquilo que os outros esperam ou desejam pra você, principalmente em relação à família. Reflita sobre isso.
Lembre-se: a escolha de uma profissão é sua, ninguém melhor que você para dizer o que quer ser e fazer no futuro. E ainda, você está fazendo a melhor escolha possível dentre as possibilidades disponíveis nesse momento. Esta escolha poderá sofrer mudanças um dia.
Pondere todos os aspectos que estão influenciando a tua escolha profissional. Não deixe que somente, por exemplo, o ganho salarial, o status, o campo de atuação, o desejo da família, a insegurança em sua capacidade, entre outros aspectos, determinem a sua escolha.
Escolher uma profissão envolve muito mais que escolher um curso — é um projeto de futuro, envolve planejamento.
Caso, ainda assim, estiver com dificuldades, procure um orientador profissional. – Comece desde já a pensar sobre sua escolha profissional, não deixe para os dias de inscrição nas provas. É interessante que os estudantes de 1º e 2º anos já comecem a pensar no assunto.
Tenha em mente que a sua decisão não precisa ser definitiva. Mudar de ideia no futuro é comum. Errar é importante e faz parte da vida.
Para os seus pais lerem
Conversem com seus filhos sobre a escolha profissional que pretendem fazer e como estão se sentindo nesse momento
Procurem ajudá-los a refletir sobre suas habilidades, interesses, gostos e preferências pessoais e profissionais
Conversem também sobre as profissões, o mercado de trabalho, e auxilie seu filho na busca por informações. Vocês podem solicitar a colegas de trabalho, amigos e rede de contatos que se disponham a falar sobre sua profissão, se for necessário
Evitem comparações um filho e outro ou entre seu filho e colegas. Reforce as habilidades e potencialidades de seu filho e ajude em suas dificuldades. Ele precisa sentir-se confiante e seguro para tomar as decisões
Não imponham, mas também não fiquem ausentes. Relatem sua própria experiência com escolha e trajetória profissional
Pressionar nesse momento não favorece uma escolha clara, consciente e segura. É preciso de diálogo constante, compreensão e apoio
Preste atenção em seus argumentos e colocações ao conversar com o seu filho. Reflita você também a respeito de suas concepções de trabalho e das profissões no momento atual. Você verá que não é somente seu filho que tem dúvidas sobre o assunto
A sua opinião, por mais que seu filho não demonstre, é muito importante pra ele. Ela é sim considerada
Caso, ainda assim, as dificuldades permanecerem, não fique se culpando, busque ajuda com um orientador profissional e/ou psicólogo
Fontes: Diário Catarinense