As araras-azuis não são azuis
Diário da Manhã
Publicado em 3 de agosto de 2018 às 00:37 | Atualizado há 7 anos
Diferentemente do que todos pensam, as araras e borboletas não são azuis. O que vemos é uma ilusão de ótica criada pela dispersão da luz nas penas entremeadas por bolsões de ar e nas asas esponjosas das borboletas.
ARARA-AZUL
A origem da cor azulada de uma arara tipicamente tropical está associada a evolução da estrutura de suas penas, de acordo com um estudo publicado na revista científica “PNAS”, da Academia Americana de Ciências.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, concluíram que o matiz lápis-lazuli encontrado nas penas das aracangas (Ara macao) tem relação com as mudanças na estrutura de queratina que forma a pena.
Nas penas de aves azuis, as moléculas de queratina são entremeadas por bolsões de ar. Essas estruturas dispersam radiações de outras cores que não o azul, cujo comprimento de onda é o único refratado. Deste modo, apenas a cor azul é refletida, enquanto a estrutura da ave, composta de outras cores, as dispersam. Em estruturas não alinhadas, o azul não brilha nem muda de tom de acordo com o ângulo de incidência da luz, como acontece com borboletas e pavões.
As análises mostraram que uma estrutura esponjosa encontrada nas penas contém uma rede 3D de hastes de queratina que dispersam a luz de forma uniforme em todas as direções e contribuem para que as penas reflitam essa cor.
BORBOLETA
Em contato com a luz branca, as microescamas alinhadas que formam as asas de espécies como a Morpho didius atuam como lentes. Elas anulam todas as frequências de onda visíveis, menos as do azul. Por isso, o pigmento azul, embora não presente, se apresenta aos nossos olhos, como se na sua constituição, a borboleta fosse azul. Não é.
Segundo os pesquisadores de Berkeley, o estudo oferece um olhar mais atento sobre a origem evolutiva das cores na natureza e pode inspirar a fabricação de dispositivos utilizados para manipular o fluxo de luz.
Por isso, é bom atentarmos para o fato de que nem sempre o que vemos é o que realmente é. Nosso sistema visual interpreta uma cena em mais de um modo, o que nos leva a ponderar que nada é absoluto. A mente muitas vezes nos engana através da visão. E isso é maravilhoso: viver em um mundo onde todas as formas e cores são disseminadas e acolhidas sem medo pela natureza.