Atingidos pela lama, moradores tiveram minutos para deixar Paracatu
Diário da Manhã
Publicado em 6 de novembro de 2015 às 10:45 | Atualizado há 10 anosMARIANA (MG) — Os 200 moradores do distrito de Paracatu, a cerca de 70 quilômetros do lugar da barragem que se rompeu nesta quinta-feira, em Minas Gerais, tiveram minutos para fugir da lama que seguia em sua direção. Paracatu foi arrasado, segundo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), mas ninguém morreu. Equipes de resgate conseguiram chegar antes da tsunami de detritos e esvaziar o lugar. O rio de lama chegou lá menos de uma hora após o rompimento.
— Corremos literalmente contra o rio de lama para retirar as pessoas a tempo. Nunca vi tamanha desgraça. A lama levou tudo, arrastou casas, carros, não há nada que a detenha. Não encontro qualquer palavra forte o suficiente para descrever o que vi — disse o prefeito.
Já os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, passaram a manhã no local da tragédia aguardando notícias de parentes e amigos e calculando os danos causados pelo rompimento de duas barragens de rejeitos.
Patricia Paula Alves da Silva, de 38 anos, terminava de conversar com uma vizinha quando recebeu a ligação do irmão, que trabalhava perto das barragens.
— Ele gritou “uma bomba!”, e a ligação caiu. Achei que ele tivesse sido demitido, mas depois ele conseguiu ligar de novo e falou “A barragem rompeu”. Eu fiquei louca. Peguei minha menina (a filha Maria Eliza, de 9 anos) e saí correndo e gritando. Quando cheguei na igreja lá do alto, olhei pra trás e não tinha mais nada.
Motorista de ônibus, Altieres Caetano, de 33 anos, estava no Centro de Mariana quando soube da tragédia. Uma hora depois do acidente ele já estava no local ajudando a resgatar familiares e amigos.
— Nem eu sei mais o que to fazendo aqui. Acho que é por acreditar que ainda tem gente aí nessa mata que não foi encontrada. Não houve resgate noturno. Muita gente passou a noite com dor e frio — protestou por volta das 10h, ainda com o uniforme e o sapato social sujos de lama. — Da casa do meu pai, sobrou só o banheiro. Sou nascido e criado aqui.
Ambulâncias, policias militares e equipes de resgate também permaneciam na área, dando apoio à retirada de vítimas que passaram a noite em um ponto alto onde procuraram abrigo. Elas puderam sair do local apenas depois de uma retroescavadeira ter retirado parte de lama que desceu na enxurrada. De acordo com um policial militar que estava no local e pediu para não ser identificado, ao menos 250 pessoas foram retiradas até 11h.