Auxiliares da vida
Redação DM
Publicado em 31 de outubro de 2015 às 20:49 | Atualizado há 5 mesesA atuação de doulas em partos no Brasil começa a ser incluída na pauta de obstetras, planos de saúde e autoridades, ainda que de forma tímida. O real é que surgem os primeiros grupos organizados de doulas e o trabalho delas quebra paradigmas, rompe barreiras e seus benefícios são difundidos.
Doulas, termo originário do grego, significa a rigor “mulher que serve outra mulher” e a designação mais difundida na história é que as doulas são mulheres com experiência em parir que agem antes, durante e depois dos partos como ajudantes das parturientes. Nada que diga respeito à obstetrícia, como parteiras ou atividade médica propriamente dita.
“Nós mulheres sabemos parir, gostamos de parir e ajudamos aquelas que querem parir, porque o parto não é apenas o instante em que a criança vem à luz”, define a fisioterapeuta e doula Fernanda Pinheiro. Ela participa com outras amigas e também doulas de um grupo que troca experiências, traça projetos de difusão de seus ideais e se socorre quando precisam de ajuda.
A principal barreira enfrentada pelas mulheres é a má-vontade de alguns obstetras que consideram que sua ação possa se confundir com um “ato médico” [providência exclusiva de profissionais da medicina] ou mesmo porque não gostam da ideia de que os partos de suas pacientes grávidas seguem o curso normal e que será preciso esperar o dia e hora em que a mulher entre em trabalho de parto. A objeção de muitos médicos é que eles terminantemente se recusam a esperar o trabalho de parto evoluir para um parto natural e recomendam partos cesáreos com brevidade.
Uma mulher que teve sua primeira filha narrou a experiência com seu obstetra com a condição de não ter sua identidade revelada. “Na primeira consulta após confirmada minha gravidez e com a ultrassonografia nas mãos o médico pegou sua tabela e disse que a minha cesariana seria tal dia. Assim, direto, já decretando que seria um parto cirúrgico”, narra.
Quando ela perguntou se não seria melhor esperar a evolução para ver se o parto não poderia ser normal a resposta foi uma ducha de água fria na futura mamãe: “você vai querer me fazer acordar de madrugada para fazer seu parto?”, sentenciou ele. Ela desistiu dos trabalhos do médico ali mesmo e procurou outro profissional que não a assustasse logo de cara com uma cirurgia e que concebesse a possibilidade de respeitar a natureza da mulher de parir.
A postura desse médico é um reflexo do que existe no Brasil e que algumas legiões tentam combater bravamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitável um índice de cesarianas da ordem de 15% no máximo. O normal é realizar partos naturais na esmagadora maioria dos nascimentos. O problema é que no Brasil isso é invertido e o percentual de partos cesáreos chega a 84% nos hospitais particulares e a 40% na rede pública. Os médicos simplesmente não gostam da ideia de esperar indefinidamente pelo parto normal e gostam mesmo é de abreviar o trabalho com um bisturi na mão.
Em uma cirurgia de parto são ocupados o obstetra, seu auxiliar, um pediatra e o anestesista, além do staff de enfermeiras. Além disso, há a internação, medicamentos e honorários substancialmente maiores. No parto normal o trabalho é limitado a poucos profissionais e os planos de saúde remuneram um limite de horas do obstetra. A cooperativa de trabalho médico Unimed Goiânia, por exemplo paga até seis horas de acompanhamento médico do trabalho de parto, com honorários médicos girando em torno de R$ 3.000,00.
Renascimento de uma tradição
Mas, o que as doulas consideram que está em curso é o renascimento dos partos normais e naturais, com uma conscientização de obstetras da necessidade de inverter essa pirâmide. O trabalho é de formiguinha, como consideram as doulas, mas tem terreno fértil entre mulheres e médicos obstetras.
Alessandra Amorim é formada em educação física com especialização em terapia corporal e uma das mais experientes doulas em ação em Goiás, com mais de 200 partos no currículo nos últimos 12 anos. Ela conheceu o trabalho de uma doula na Inglaterra, quando estudava lá e em seu parto fez questão de ser normal e assistido por uma doula. “A doula significa para uma mulher em trabalho de parto uma luz, pois através do toque, do olhar e da presença aliviamos a dor, o medo e encorajamos através de apoio físico e emocional”, explica ela.
Ela frisa que a atuação das doulas deve ser no sentido de acreditar na mulher e na sua capacidade para parir. Alessandra filosofa sobre o papel que ela e suas companheiras de missão desempenham e considera que isto é “um dom de doar amor e cuidado” com o próximo. “Defendemos nascimentos respeitados, amorosos, com liberdade e cuidado, pois acreditamos que este seja o caminho para uma vida mais plena e saudável”.
O trabalho das doulas é sentido nas maternidades que conhecem suas ações com a redução dos índices de cesarianas e intercorrências de partos. Em hospitais que aceitam as doulas como auxiliares de parturientes e obstetras que respeitam suas ações o índice de cesarianas teve uma redução de metade dos casos e a duração dos trabalhos de parto foi reduzida em 25%. As estatísticas confirmam a importância dessa atuação.
Há outra estatística que diminuiu substancialmente com a atuação das doulas. Analgesia de parto é um procedimento em que a mulher em trabalho de parto continua com o processo para parir naturalmente, mas um anestesista lhe injeta um medicamento no espaço peridural (medula espinhal) e lhe bloqueia as dores do parto. Ela vai parir normalmente, porém sem sentir as temíveis dores. Pois, com a ação das doulas esse procedimento foi reduzido em 60%.
“Há prazer em sentir a dor do parto”, frisa Alessandra, secundada por Kelly Souza outra doula dedicada e muito procurada. Há quem diga até (e não são poucas) que a mulher sinta prazer sexual e até atinja orgasmo durante o parto. “A doula ajuda a mulher a enfrentar o desconhecido e atravessar o medo da dor e do parto. Temos a missão de devolver o parto para as mulheres, orientar que o parto é algo natural é fisiológico e a dor não é maior que ela”, observa.
Kelly Souza, que também teve parto normal, considera que o parto é um instante de resgate da mulher com sua condição feminina no ponto máximo. “A doula mostra para a mulher que ela é capaz de entrar em trabalho de parto e colocar seu filho no mundo. Ela é a pessoa que segura a mão da mulher e diz: eu estou aqui, entendo o que você está passando e vou contigo até o final”. A doula é a primeira a chegar à cena do parto e a última a sair e dissocia parto de sofrimento. Uma mulher que teve um parto bem assistido e com sucesso a última coisa que ela se lembrará será a dor.
O trabalho de formiguinhas está dando outros resultados. A médica ginecologista e obstetra Valéria Câmara concorda que o número de cesarianas é absurdamente exagerado no Brasil e que é preciso reverter esse quadro. Ela é das que aceitam as doulas e recomenda para quem puder ter essas auxiliares. Experiente, médica há 21 anos, ela conheceu o trabalho das doulas há 10 e se encantou com seu trabalho. “O trabalho das doulas facilita o trabalho dos obstetras e quem o conhece classifica como importante e facilitador”.
Contratar uma doula não é nada exorbitante. Gira em torno de R$ 800,00 a R$ 1.200,00 para acompanhamento pré-parto, durante o parto a qualquer hora do dia ou da noite – seja sábado, domingo ou feriado – e após o parto no cuidado com o bebê. Em Goiânia são aproximadamente 22 doulas que atendem em clínicas e consultórios e que podem ser contactadas através de obstetras. Há um trabalho para ter seu trabalho reconhecido e garantido por lei.
O que as doulas fazem, em síntese, é ajudar as mulheres a realizar a mágica atividade de colocar no mundo novas vidas. Aliás, as mulheres são as grandes protagonistas da vida. “Somos mulheres privilegiadas, porque participamos do momento mais importante da vida de uma mulher. Humanizamos não só o parto, mas a nós mesmas, pois acessamos a via do amor e toda a sociedade se beneficia disto”, finaliza Alessandra.
Oração de uma doula
Pai, eu quero te pedir em Nome de Jesus que toda mulher entenda e saiba que ela é capaz sim de trazer seus filhos ao mundo de uma forma totalmente natural, sem intervenções desnecessárias, que o corpo delas foi preparado para isso, aliás foi o Senhor quem criou e tudo que o Senhor faz é perfeito.
Que na hora do parto ela se sinta segura e confiante, que ela sinta a sua Presença trazendo todo o consolo e conforto necessários que só um Pai de Amor pode nos dar, que suas Mãos estejam estendidas sobre a vida dela e de seu bebê, que mesmo em meio à dor ela se sinta poderosa e consciente do que acontece com seu corpo, que seja um momento de pura alegria e satisfação para ela, seu marido e sua família.
Que ela amamente seu bebê, tendo a certeza que o leite materno é o melhor e mais completo alimento e que nada neste mundo pode substituir este grande ato de amor, que ela saiba que a cumplicidade e a intimidade criadas no momento da amamentação são eternas, e que apesar do primeiro momento que pode causar alguma dor e desconforto, valerá a pena quando ela sentir a mãozinha do seu bebê segurando no seu peito e olhando para os seus olhos de uma forma única e indescritível, que faz com que o seu coração chegue a doer de tanta felicidade e um amor que ela nunca imaginou existir.
Que a equipe médica seja verdadeira, que não haja mentiras e enganos, que ela seja tratada de uma forma humanizada, que ela tenha todo o apoio necessário, que não seja privado o acompanhante de sua escolha e Senhor dá uma forcinha aí de cima para que sua doula esteja junto …rsrs… que naquele momento ela se sinta única e saiba que estão fazendo o melhor para ela e seu bebê (SIC).
Te peço também Meu Deus que se for realmente preciso uma cesárea ou qualquer outra intervenção, que elas fiquem tranquilas e não se sintam desvalorizadas sabendo que foi feita a Sua Vontade que é boa, perfeita e agradável e que ela tenha a certeza tudo vai ficar bem!
E também quero aproveitar para te agradecer por este verdadeiro milagre da vida, presente tão maravilhoso que o Senhor nos deu, que é ser Mãe !
Carla Bichara
, 38 anos, casada, mãe de dois filhos, blogueira, doula e massoterapeuta)
nascimentos devem ser respeitados e amorosos