Cartilha com direitos
Redação DM
Publicado em 2 de março de 2018 às 01:15 | Atualizado há 7 anos
No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, a Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas de Goiás (Abracrim-GO), por iniciativa das advogadas Lorena Ayres (presidente da Comissão de Proteção aos Direitos Humanos), Luciana Valle (ouvidora) e Márcia Póvoa (presidente Comissão de Direitos e Prerrogativas), promove o lançamento da cartilha “Direitos da mulher X feridas que afloram conquistas”, com a realização de uma mesa redonda para discutir a aplicação da Lei Maria da Penha (11.340/2006). O evento acontece hoje às 16 horas no Salão Solon Amaral, na Assembleia Legislativa, em Goiânia.
As advogadas reforçam que para a confecção e distribuição da cartilha receberam apoio de diversos parceiros e destacam que a palestra de hoje terá a participação de representantes do Poder Judiciário, advogadas e advogados enquanto OAB, Promotoria, Delegacia da Mulher e Patrulha Maria da Penha.
Em entrevista ao Diário da Manhã, as advogadas destacam a importância do manual criado e ressaltam como as mulheres em situação de violência podem buscar por ajuda. “Vamos colocar as cartilhas na comunidade, em delegacias. A Lei Maria da Penha tem alguns artigos que são novos e as mulheres precisam saber dos direitos que elas têm. Quando pensamos em fazer essa cartilha e começamos a pesquisar o tema foi pelas inúmeras mulheres vítimas de violência doméstica que nos procuram”, explicou Lorena Ayres.
Para Márcia Póvoa, as mulheres que sofrem algum tipo de violência ainda não sabem o procedimento legal para que possam se sentirem mais seguras e a cartilha traz passos do que fazer. A advogada acrescenta a mensagem que o manual transmite às mulheres: “A mensagem que a gente tentar colocar é para que a mulher veja que, apesar dela ter sido vítima de uma violência, ela pode praticar com isso a resiliência, que é pegar da dor e de tudo o que passou para a vitória dela. Tanto que é o nosso tema: ‘Direitos da mulher X feridas que afloram conquistas’. Podemos tirar dessas feridas grandes conquistas, isso também é o que gostaríamos de mostrar para as mulheres”, ressaltou.
De acordo com Lorena, a cartilha tem uma apresentação falando da conscientização, não só das mulheres, mas também das famílias, além de alguns pontos mais importantes da Lei Maria da Penha que a mulher precisa saber e finaliza com alguns roteiros durante o mês de março, com relação de municípios que serão visitados e receberão esse benefício para as mulheres. “A sensação que teremos quando essas cartilhas estiverem impressas e sendo distribuídas é de dever cumprido com a sociedade. Estamos praticando cidadania e colaborando com as nossas mulheres goianas”, acredita Lorena.
Para a advogada Luciana Valle, a existência da cartilha é justamente levar o conhecimento para a pessoa que está sofrendo algum tipo de violência doméstica de que ela tem direitos. “Então ela vai poder identificar em qual daqueles direitos está sendo lesionada”. Luciana ainda reforça que o intuito da cartilha é prevenir. “Como advogadas, não queremos chegar depois do fato ocorrido para socorrer um direito. Com a cartilha vamos poder esplanar para a sociedade dos direitos que as mulheres têm, para que possam ter o conhecimento e levar para qualquer situação”.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Márcia explicita que a violência doméstica contra a mulher não é apenas física, mas pode ser psicológica, patrimonial, sexual, entre outras. O homem xingar, diminuir a mulher, retirar bens materiais, também são considerados uma violência. “A violência psicológica é a que mais esconde, a que ninguém entende, não precisa do agressor bater, mas se esquece que as feridas são da alma. Por exemplo, diminuir a mulher, fazer com que ela não tenha mais coragem de sair a rua porque a chama de feia ou gorda. Se ela for uma profissional, falar que ela não tem talento, isso é psicológico”, esclarece Márcia e continua: “A violência psicológica também pode ser caracterizada do agressor do qual ela depende financeiramente, por exemplo, ele começar a retirar as coisas dela, dizer que não vai dar dinheiro para ela comer. Muitas vezes a mulher se priva de ir à delegacia por causa dos filhos, por medo”, ressalta.
Lorena lembra que, geralmente, as mulheres só buscam por ajuda jurídica e legal quando a situação chega em um ápice. “A maioria das mulheres procura ajuda jurídica quando já existe agressão física, já apanhou e está com o olho roxo”, revela. A advogada também destaca que a mulher procura um advogado para saber se tem coerência, se realmente está sendo vítima de agressão. “A cartilha traz que não podemos deixar que o medo, a insegurança, a tristeza, a dependência econômica entre outras situações deixe a mulher ficar calada diante à violência vivida. Como viver e baixar a cabeça para violência dentro da sua própria casa?”, questiona a advogada.
Em sua vivência na área, Márcia ressalta que muitas vezes a mulher está sofrendo um terrorismo psicológico e não admite, justificando as ações do agressor. “Fala que o agressor faz isso porque está nervoso, porque bebeu. A mulher se sente culpada. É muito difícil fazer com que a cliente entenda que aquilo, que por pequeno que seja, foi uma agressão e ela precisa ter uma postura para que não ocorra novamente, mas infelizmente só volta a nos procurar depois que apanhou”.