Cassinos: Brasil a um passo da liberação
Diário da Manhã
Publicado em 25 de dezembro de 2017 às 23:00 | Atualizado há 4 meses
Um projeto de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI) pretende liberar os jogos em território nacional com regulamentação em lei e taxação específica para financiar setores específicos como segurança pública. A proposta está tramitando no Senado e é considerada uma das mais bem elaboradas sobre o tema até hoje, desde que os jogos foram proibidos durante o governo de Eurico Gaspar Dutra em abril de 1946.
De acordo com a redação do Projeto de Lei 186 ficam liberados os cassinos, além de bingos, apostas online, caça-níqueis, apostas esportivas e não esportivas e cassinos online ou em complexos de lazer integrados e jogo do bicho, tudo para entretenimento de quem gosta de jogar e para arrecadação de tributos pelo aparelho estatal sem que seja aumentada a carga tributária. Estudos desenvolvidos pela assessoria do senador piauiense, que é presidente nacional do PP, indicam que a arrecadação anual pode ficar na faixa de R$ 20 bilhões, uma fortuna que pode ser mensurada levando-se em conta que o Sistema Único de Saúde gasta a metade disso a cada década na recuperação de dependentes químicos.
Em entrevista à revista Isto É o senador destrinchou o que seria seu pensamento sobre a liberação dos jogos e adiantou propostas que podem ser implantadas com o andamento do processo. “Vou ser muito franco: não aprovo o jogo. Nunca apostei. Vou a Las Vegas, mas nunca joguei. Mas, se nós tivéssemos opção de termos ou não o jogo, eu seria radicalmente contra. Só que o Brasil não tem mais essa opção. E talvez seja um dos países onde mais se joga no mundo. Porém, o País hoje só tem os malefícios advindos do jogo: proteção policial, corrupção, caixa dois, lavagem de dinheiro, entre outros tipos de crimes. Os benefícios nós não temos, como a arrecadação de impostos. Hoje tem mais caça-níqueis funcionado no Brasil que nos Estados Unidos. Só que as máquinas de lá devolvem ao apostador americano 95% do que ele apostou. Já as daqui, não estornam nem 5%. No mundo, só há dois países que ainda não regulamentaram essa questão: o Brasil e o Japão. Mas o Japão já está regulamentando”, explicou.
EMPREGOS
A geração de empregos e renda também é outro fator citado como beneficiado com a liberação de jogos, segundo o senador, porque os jogos já são uma realidade, porém sem regulamentação. “Isso virá dar segurança jurídica para quem presta serviços para o setor”, garante. O senador Edison Lobão (PMDB-MA), presidente da Comissão de Constituição e Justiça afirma que o país já está maduro para prosseguir com esse debate e legalizar a atividade. “Estamos prontos para receber cassinos e jogos que estimulem e fomentem o turismo. Todos os países da América do Sul têm. Nos EUA, não há atividade empresarial mais fiscalizada e correta que os cassinos”, disse Lobão.
A proposta tem a simpatia até mesmo do presidente interino Michel Temer que vê as cifras desse movimento no orçamento do governo. Já foi criada até uma tal Frente pela Legalização dos Jogos em Brasília, com liderança firme do deputado Nelson Marquezelli, do PTB paulista. Esse defensor ferrenho dos jogos de azar é o mesmo que afirmou que “quem não tem dinheiro não faz universidade”. Ele já antecipou uma ação em favor dos jogos visando anular o Decreto que considera jogos uma contravenção penal, primeiro passo para a regulamentação.
ENTREVISTA
Por e-mail, o senador Ciro Nogueira esclareceu mais pontos de seu projeto para a reportagem do Diário da Manhã:
DM – Os jogos seriam liberados para todo o território nacional ou para locais estrategicamente selecionados?
Ciro Nogueira – A proposta prevê diferentes regras de acordo com a modalidade de exploração dos jogos. A regra vale para todo o país. Dessa forma, o órgão do Poder Executivo Federal responsável deverá considerar a existência de patrimônio turístico a ser valorizado e o potencial para o desenvolvimento econômico e social da região onde será instalado o estabelecimento. Por exemplo, os cassinos funcionarão em complexos turísticos, junto com hotéis, restaurantes, centros de lazer e convenções, em municípios maiores. Já as casas de bingo poderão ser instaladas em municípios menores, de modo que, para cada caso existem normas específicas que levam em conta o tipo de serviço prestado. Em qualquer que seja a modalidade de jogo a ser oferecida, certamente o impacto na sociedade será positivo, beneficiando a região, promovendo o crescimento do turismo, a geração de empregos, melhorias na infraestrutura e maior desenvolvimento econômico na região.
DM – Os impostos advindos com a exploração dos jogos teriam destinação prioritária?
Ciro Nogueira – Sim, um percentual dos valores arrecadados será destinado à seguridade social, segundo prevê o texto. Também defendemos que seja criado um Fundo com esses recursos, para serem investidos na área de Segurança pública.
DM – Qual seria a divisão dos recursos oriundos dos impostos sobre os jogos?
Ciro Nogueira – A divisão varia de acordo com o tipo de jogo a ser considerado, de modo que estão previstos percentuais diferentes que deverão ser divididos entre o pagamento da premiação, a pessoa jurídica que explora a atividade e a unidade da federação onde o estabelecimento está situado.
DM – Qual a expectativa de geração de postos de empregos e de movimentação financeira com cassinos?
Ciro Nogueira – Diversos benefícios serão gerados para o país quando os jogos de azar forem legais. Na prática, o jogo já existe, só que na clandestinidade, sem pagamento de impostos, sem ganhos para a coletividade. O regulamento legal permitirá justamente trazer essa realidade para o controle dos cidadãos. Uma vantagem importante é manter a riqueza gerada por esse segmento dentro de nossas fronteiras. Estima-se que, com a legalização, o Brasil possa arrecadar cerca de R$ 15 bilhões por ano. Ainda, a regulamentação vai fortalecer o turismo, a economia e a política de desenvolvimento do país, aumentando a atividade econômica nas regiões. Calcula-se que serão gerados por volta de 600 mil empregos diretos onde esses estabelecimentos forem instalados.
DM – O senhor disse que a volta dos jogos no Brasil é quase uma realidade. Em quanto tempo o senhor estima essa liberação?
Ciro Nogueira – A legalização dos jogos no Brasil é um assunto que se arrasta há quase 20 anos no Congresso. Após tantos anos de discussão, acho que está na hora de o Senado dar uma resposta à população sobre essa matéria. Está sendo discutido e analisado de forma profunda e, após aprovação no Senado, a matéria ainda segue para a Câmara dos Deputados. A partir disso, uma serie de adequações legais terá que ser realizada, como por exemplo a criação de sistemas de fiscalização, controle e punição específicos para as atividades relacionadas aos jogos.
DM – O senhor não considera a possibilidade de um embate com segmentos religiosos contrários a esse projeto?
Ciro Nogueira – Esses segmentos não têm se manifestado sobre o assunto.
DM – Quem exerceria a função de controle externo dessa atividade? MP, polícias, ou outro organismo?
Ciro Nogueira – Pela proposta, caberá ao governo federal o controle e a fiscalização dos cassinos e dos jogos explorados sob a modalidade online. Já estados e municípios e o Distrito Federal serão os responsáveis por fiscalizar os estabelecimentos credenciados para a exploração dos jogos de azar no âmbito dos seus respectivos territórios.
Em qualquer que seja a modalidade de jogo a ser oferecida, certamente o impacto na sociedade será positivo, beneficiando a região, promovendo o crescimento do turismo, a geração de empregos, melhorias na infraestrutura e maior desenvolvimento econômico na região”