Cem anos com muita saúde
Redação DM
Publicado em 29 de novembro de 2016 às 00:50 | Atualizado há 8 anosChegar aos 100 anos de idade com inteira lucidez, esbanjando saúde e, mais ainda, dirigindo tranquilamente seu carro, com certeza, é o sonho da maioria das pessoas com a velhice. Esta pessoa existe, mora em Nerópolis. E o seu centenário está sendo preparado pelos oito filhos, 19 netos, 25 bisnetos e demais familiares. O aniversário é hoje, 29, mas a festa está prevista para 3 de dezembro. Vianello Coelho da Silva surpreendeu o repórter ao visitá-lo em sua casa, inteirinho, lembrando a resistência da aroeira, a árvore eterna. As comemorações constam no próximo sábado, às 20 horas, de uma missa em ação de graças na matriz de São Benedito, na cidade de Nerópolis. Após o ato religioso, está prevista uma confraternização no Salão Paroquial.
Se a pessoa tiver tempo para ouvir suas histórias e estórias, ficará um dia inteiro à sua disposição. E aprenderá muito. Ao repórter, confessou que do século de vida, a metade viveu em Guidoval, situada na Mata Atlântica de Minas Gerais. A outra metade foi entregue à cidade de Nerópolis, na Grande Goiânia. Radicou-se em Nerópolis em 1967. Sua vida tem um longo caminho e nem poderia ser diferente. Produtor rural, de pegar no cabo da enxada, arar a terra, carrear boi numa lida do amanhecer ao anoitecer. Nem por isso, reclama da vida. “O pinto não morde dentro do ovo”, diz, demonstrando conformismo com aquilo que não pode ser mudado. Talvez um dos segredos da longevidade seja a de viver mais despreocupado, no entanto, cumprindo seus deveres. Médico para si é raro, “não pego nem gripe”, ressalta. Não bebe, nem fuma. “Nunca fui de botequim, nem farrista”, assinala demonstrando um comportamento alheio a esses ambientes cotidianos.
Se ele passou grande parte trabalhando na roça, a certa altura, por 65 mil contos de réis, com o aval de seu pai, comprou um caminhão para os carretos. O contrato da revendedora era de doze prestações mensais. O novo trabalho deu certo. Tanto assim que ao vencer a nova prestação, quitou o veículo. Feliz como um garoto que ganha a primeira bola de futebol, avisou ao pai que “não devia mais nada”. Por falar em futebol, Vianello torce pelo Botafogo, do Rio de Janeiro. “Na minha época, o Botafogo papava todos os títulos que disputava”, diz, enaltecendo personagens como Garrincha, Jairzinho, Gerson e tantos outros.
Caminhoneiro que se preza, por onde passa, vai fazendo um círculo de amizades. Graças a esse comportamento, na morte de Getúlio Vargas, no dia 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, foi salvo de uma enrascada. Naquelas alturas, não se sabia ao certo se o presidente fora assassinado ou cometera suicídio. As saídas e entradas do Rio de Janeiro foram fechadas. Vianello precisava transportar uma mercadoria em seu caminhão para o interior de Minas. Ao se dirigir ao veículo, se deparou com um guarda, seu velho conhecido. Ao justificar que não poderia permanecer por mais tempo, respondeu à autoridade do trânsito: “Amigo, não fui eu quem matou o homem”. Ponderando a situação, o guarda disse que ia para um lado e ele deveria se dirigir para o outro.
Vianello faz questão de exibir a nova Carteira de Habilitação, que prevalecerá nos próximos anos.
CNH renovada
Vianello Coelho da Silva acaba de renovar sua carteira de habilitação. Já dirige há 70 anos. Ao exibir a habilitação nova, faz uma observação: “Sem óculos”. Ao passar por novos exames médicos, a confirmação de que poderia continuar sem as lentes. A renovação está prevista para o dia 12 de agosto de 2019. Os filhos, apesar de tudo, ficam atentos, reconhecendo que o “trânsito, atualmente, está caótico e todo mundo anda sem paciência”, conforme salienta Mávio, um dos seus filhos. Apesar desses cuidados, seu Vianello dobra seus filhos e realiza viagens inesperadas. E se sai bem, andando com calma, ao lado de dona Maria Magdala, de 71 anos, sua senhora atual e que conheceu em Nerópolis. A primeira mulher, Maria Coelho, com quem viveu 48 anos, faleceu há alguns anos.
Uma curiosidade. Apesar das suas frequentes viagens ao Rio de Janeiro, somente em Porto Seguro, na Bahia, tomou banho de mar. Interrogado por algumas pessoas porque não se aposentava, respondeu: “Depois que eu morrer terei muito tempo para descansar”. Em sua cidade natal, contribuiu para a instalação de sistema de energia elétrica sem recursos da prefeitura. A retribuição atual é que o talão de luz,emitido pela antiga Cia.de Força e Luz, hoje Energisa, referencia seu nome. Uma cópia ele guarda em seus arquivos pessoais e faz questão de apresentar ao repórter.
No final da década de 70, formou pelo MDB uma chapa com Milton Santana na cabeça à prefeitura. A dupla foi eleita. No pleito seguinte, encabeçou uma chapa, sem sucesso. A derrota não retirou o seu gosto pela política. Continua aceso e sempre ajudando com a sua simpatia e o seu trabalho os candidatos de sua preferência. Ele conta com a presença do Iris Rezende Machado, eleito prefeito de Goiânia, em seu aniversário. Ambos já pertenceram ao Movimento Democrático Brasileiro no regime militar.
Atualmente, Vianello Coelho atua na Secretaria de Obras do Município. As obras rurais têm o seu crivo e olhar. E não brinca em serviço. Toma café cedo e já se desloca para a prefeitura em seu dia a dia. Seu corpo é de quem pratica academia. Esbelto, empertigado, está atento ao seu redor. Responde às perguntas sem pestanejar.