Cotidiano

Ciclovia em São Conrado

Redação DM

Publicado em 17 de janeiro de 2016 às 04:05 | Atualizado há 9 anos

RIO — Apesar de não ter sido alguém lá muito afeito à prática de esportes, se estivesse vivo, Tim Maia certamente tomaria “um guaraná” para brindar à ciclovia da Avenida Niemeyer, que será inaugurada neste domingo e leva seu nome. A pista, que liga o Leblon a São Conrado e tem 3,9km, já vinha sendo “testada” por cariocas e turistas nas últimas semanas, mesmo em meio à finalização das obras.

– A ansiedade do público é um sinal de que a ciclovia vai dar certo. Era uma demanda reprimida – observou o ciclista Ricardo Martins, que já rodou seis países da América do Sul de bicicleta e se prepara para dar a volta ao mundo pedalando.

Na última quarta-feira, Ricardo acompanhou O GLOBO num passeio pela nova ciclovia, que tem largura média de 2,5 metros e foi construída sobre o costão de pedra, com vista privilegiada para o mar, o que a torna ainda mais especial. Apesar dos elogios, quem costuma circular pela cidade sobre duas rodas faz algumas ressalvas.

– Sinto falta de uma sinalização vertical indicando a velocidade máxima permitida e que a prioridade é do pedestre – diz ele, que se deparou, num ponto diante da subida do Morro do Vidigal, com um poste mais largo do que os demais no meio do caminho, reduzindo a pista para 1,62 metro. – Este poste está fora do padrão. A redução do espaço exige que os ciclistas passem por aqui com mais atenção e em velocidade reduzida.

A Secretaria secretaria municipal de Obras, responsável pela construção da ciclovia, informou que a sinalização estava em vias de implantação e que solicitou à Light a retirada do poste, serviço que na sexta-feira já havia sido concluído.

Outra questão, esta levantada pelo presidente da Comissão de Segurança no Ciclismo na Cidade do Rio, Raphael Pazos, é o uso da pista por jovens empinando pipas:

– Pipa e bicicleta não combinam. Uma linha com cerol pode decepar a cabeça de um ciclista. É importante que seja feito um trabalho de conscientização.

Mesmo com alguns reveses, o clima entre os ciclistas era de contentamento. Um dos que comemoravam era o designer Júlio Cavalleiro, que mora em São Conrado e trabalha no Leblon:

– Geralmente, eu gastava meia hora no trânsito para chegar ao trabalho e mais 20 minutos procurando vaga. Agora que eu posso ir pedalando, em 15 minutos estou no escritório.

Além da praticidade, a vista para o mar também motivava elogios.

– A ciclovia está maravilhosa, impressionante – destacou o desembargador Marcos Cavalcante.

O que agradou aos ciclistas chegou a ser motivo de queixa entre motoristas, que, com a construção da pista paralela à Niemeyer, foram privados da visão do mar.

– Mas o motorista tem que olhar para frente e não para o lado – destacou Ricardo.

A ciclovia se liga à pista que vai do Leme ao Leblon, com 8km, e futuramente se conectará com a do novo Elevado do Joá, com 3,1km. Esta, que ligará São Conrado à Barra, se juntará aos 24,8km já existentes entre Barrinha e Grumari. No total, os ciclistas terão à sua disposição, entre as zonas Sul e Oeste, 39,8km de pistas exclusivas beirando a orla. Quando toda a extensão estiver pronta, será possível pedalar do Aeroporto Santos Dumont até o Recreio do Bandeirantes.

Mesmo com o Joá ainda em obras, o Rio é a cidade com maior malha cicloviária da América Latina, afirma a Secretaria municipal de Meio Ambiente: somando o trecho da Niemeyer, são 438,9km. O plano da prefeitura é alcançar 450km este ano.

A pista da Niemeyer não é só bem-vinda entre ciclistas, como também entre os praticantes de corrida. É o caso da apresentadora de TV e nutricionista Cynthia Howlett, que mora em São Conrado e costuma correr até o Arpoador e voltar. Ela diz que a obra vai mudar a vida de muitos como ela:

– Corro pela Niemeyer há muitos anos, pelo cantinho, com os carros ao lado. Para evitar acidentes, acabei criando algumas técnicas. Quando dá 10h15m, mudam a mão da avenida. Aproveitava os dez minutos em que ela fica fechada para chegar ao Vidigal e pegar a ciclovia. Também costumava correr nas horários de rush, quando o trânsito fica parado – conta.

Nos últimos dias, Cynthia não resistiu e checou a nova pista:

– Está linda e tem um visual absurdo. Você corre ou pedala por cima do mar. Não tem igual no Brasil. A ciclovia também vai aliviar o trânsito. Mas a minha preocupação é sempre com a segurança. Ela é toda cercada de grades e tem poucas saídas. Há trechos longos onde você fica encurralada.

O ator Eduardo Moscovis, marido de Cynthia e que já testou a ciclovia, também se preocupa:

– Há partes muito grandes sem saída. Além da questão da segurança, há o risco de alguém furar o pneu ou passar mal ali e não ter como sair – diz ele, que sugere a instalação de banheiro químico e de um ponto de apoio para os ciclistas em caso de imprevistos, como uma bicicleta com pneu furado.

A ciclovia da Niemeyer levou um ano e meio para ficar pronta e demandou um investimento de R$ 44,7 milhões.

PISTA PARA BICICLETAS NO JOÁ DEVE SAIR ESTE SEMESTRE

Após a inauguração da ciclovia da Niemeyer, a prefeitura promete concentrar suas atenções no término da pista do Elevado do Joá, que está sendo duplicado. Segundo a Secretaria municipal de Obras, 89% de todo o projeto, que inclui mais duas faixas de rolamento paralelas às já existentes, estão concluídos. Todos os pilares de sustentação estão prontos e a estrutura metálica, instalada. A pista para bicicletas, que terá 3,1km de extensão, está sendo construída ao lado do elevado. Em visita às obras, a equipe do GLOBO identificou que a largura da ciclovia, de mão dupla, é de 1,62 metro, o que pode parecer estreito, mas, de acordo com o presidente da Federação de Ciclistas do Estado do Rio, Claudio Santos, a medida está dentro dos padrões:

— Perigo sempre vai existir, porque o ciclista usa um veículo que não tem proteção, como o para-choque e o para-brisa de um carro. Uma ciclovia mais larga do que essa diminuiria o risco de contato, mas 81 centímetros para cada ciclista passar é perfeitamente razoável.

Presidente da Comissão de Segurança no Ciclismo da Cidade, Raphael Pazos disse que o ideal para ciclovias de mão dupla é ter 2,5 metros de largura, mas que 1,62 metro é uma medida boa, porque obriga os ciclistas a pedalarem com mais atenção.

As obras do Joá começaram há um ano e meio, a um custo de R$ 457,9 milhões. A conclusão está prevista para o primeiro semestre deste ano.

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias