Cotidiano

CNH traumática

Redação DM

Publicado em 22 de março de 2016 às 22:20 | Atualizado há 9 anos

 

Tirar a Carteira Nacional de Habilitação pode ser mais difícil do que se espera. O processo acaba traumatizando muitas pessoas, que reclamam da hostilidade dos instrutores que aplicam o exame final para obter a habilitação. Passar de primeira na prova do Detran de Goiânia não é tarefa fácil, o que acaba levando muitos candidatos a abrirem o processo para tirar carteira em cidades do interior, nas quais o processo parece ser menos doloroso.

Fernanda de Castro (nome fictício), 24 anos, estudante universitária, que já fez o teste para tirar a carteira de habilitação 7 vezes conta, em entrevista ao Diário da Manhã, que, quando foi tentar pela primeira vez, após pegar as aulas necessárias na auto escola escutou da instrutora que já estava preparada e que conseguiria passar de primeira ou no máximo de segunda. Ela se sentia confiante, mas no momento de fazer a prova no Detran, as coisas não aconteceram como o planejado. “Na hora que eu entrei no carro, acabei esquecendo alguns detalhes, mas nada que colocasse ninguém risco. Esqueci de descer o freio de mão na hora de sair, e acabei reprovando”, conta ela.

Antes de tentar novamente, Fernanda pegou mais aulas na auto escola, novamente ouviu que estava preparada e novamente estava confiante. “Mas na hora da prova sempre acontecia alguma coisa. Eu já fui eliminada umas 3 vezes porque a marcha fez barulho. Acho isso tão desnecessário! Que que tem fazer barulho, gente? Vamos focar no perigo de vida que é o que importa mesmo. Se eu estou estragando a marcha do meu carro, o problema é meu, não é?”, brinca Fernanda.

Em uma das tentativas, Fernanda conta que o carro estava com algum problema. Ela não conseguia sair do lugar, o carro sempre apagava. Por mais que tentasse, o carro não obedecia. Ela teve que entregar o carro para a instrutora. “Eu me sentindo horrível. Uma coisa é  não passar, outra coisa é entregar o carro pra examinadora. Completa incapacidade. Mas acontece que ela também não conseguia sair do lugar. O carro não ligava por mais que ela tentasse. Ela forçou até pegar e ficou esquentando o motor. Só então conseguiu estacionar. Então eu falei: ‘viu que está estranho?’, e ela respondeu: ‘Não. Está normalzinho’. Não entendo como aquele carro podia estar normal.”

Ela critica a severidade do exame, que muitas vezes reprova por motivos banais. “É nítido que algumas exigências são feitas pra reprovar mesmo. Acho que deveria ter pesos. Uma marcha fazer barulho não deveria ser motivo pra reprovar ninguém, afinal, o que que isso diz a respeito do meu real conhecimento de direção no trânsito? Esses pontos da marcha foram marcados durante a baliza. Eu fui reprovada porque durante a baliza na hora de por a ré, a marcha fez barulho, no entanto todas as minhas balizas foram perfeitas. Eu entrei e sai perfeito, mas fui eliminada. Quão justo é  esse teste?”, questiona Fernanda.

Ela explica que o fato de ter reprovado 7 vezes no teste para tirar a CNH mexeu bastante com seu psicológico. “Eu saia dos testes tão emocionalmente instável! eu comecei a fazer as sessões com a psicóloga porque eu me sentia totalmente incapaz, mesmo sabendo que eu sei dirigir. Cada reprovação me deixava mais insegura e isso é a receita perfeita pra fazer as pessoas desistirem de fazer os teste e futuramente terem que abrir de novo outro processo, pagar de novo todas as taxas, enfim”.

Examinador é educador

O exame do Detran, para tirar a Carteira Nacional de Habilitação, é de responsabilidade da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Nilo Celestino da Silva, 43 anos, Coordenador de Exames da UEG, explica ao Diário da Manhã que há um protocolo interno de comportamento para os instrutores que aplicam os testes. “Os critérios de avaliação dos Examinadores da UEG, credenciados pelo Detran, são pautados no Código de Trânsito Brasileiro, Resoluções do Contran vigentes e Manual de Normas e Procedimentos da Comissão Examinadora, publicado pelo Detran-GO (através da Portaria 561/2014) que tem como objetivo uniformizar e padronizar a forma como o examinador de trânsito avaliará o candidato à obtenção de Permissão para Dirigir, mudança e adição de categoria e Autorização para Conduzir Ciclomotor (ACC)”, defende ele.

Nilo nega que os instrutores se comportem de modo hostil durante a aplicação dos testes, o que, segundo ele, é comprovado pelas pesquisas de satisfação realizadas com os candidatos, “as quais revelam que mais de 90% deles aprovam o comportamento dos examinadores e os veem como educadores”.

Ele explica que há punição para os examinadores que venham a prejudicar algum candidato por erros de critério da avaliação ou por apresentar comportamento inadequado durante o exame. “Ele poderá responder administrativamente pelo seu ato, podendo até mesmo ser descredenciado da função”, afirma Nilo.

Questionado acerca do motivo do rigor do exame, e do foco em detalhes que não indicam se a pessoa realmente sabe dirigir, Nilo responde que o exame segue critérios pré-estabelecidos pelas legislações vigentes, sendo que o examinador cumpre o que a legislação impõe como correto para avaliar se o candidato está ou não habilitado a ser condutor.

Tratamento psicológico gratuito

Nilo afirma ainda que recentemente em uma atualização e avaliação com todos os examinadores e instrutores de trânsito do País a média obtida pelos examinadores de Goiás foi de 9,5 pontos, o que ele considera bastante satisfatório, e que caso algum candidato apresente problemas psicológicos em decorrência dos exames, há tratamento gratuito.

“Gostaríamos de ressaltar que a Universidade Estadual de Goiás – UEG, por meio do Programa Educando e Valorizando a Vida (EVV), disponibiliza, de forma totalmente gratuita, um serviço de atendimento psicológico destinado aos candidatos que apresentam dificuldades emocionais diante da situação de avaliação. O referido atendimento é uma atividade inovadora e pioneira de apoio individualizado ao candidato”, explica ele.


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