Cotidiano

Com taxa de juros em 19%, modelo tradicional de pecuária extensiva perde competitividade e empurra produtores ao endividamento, alerta especialista

DM Redação

Publicado em 14 de outubro de 2025 às 12:54 | Atualizado há 4 horas

Diferença entre juros e rentabilidade ameaça sustentabilidade da pecuária extensiva, aponta Fabiano Tavares

A atual taxa de juros no Brasil, próxima dos 19%, tem provocado forte desequilíbrio financeiro entre produtores de gado de corte que ainda operam em modelos tradicionais de pecuária extensiva. O alerta é do consultor financeiro e zootecnista Fabiano Tavares, que analisa o impacto da diferença entre o custo do capital e a rentabilidade média da atividade, hoje estimada em 13% ao ano.

Segundo o especialista, a pecuária de corte a pasto, sem uso de confinamento ou técnicas de intensificação, já foi uma atividade de alta margem. “Na década de 60 e 70, o produtor conseguia margens de 40% a 45% ao ano. Hoje, essa realidade mudou. As margens máximas giram em torno de 13%, e isso não cobre o custo do dinheiro disponível no mercado, que está próximo de 19% a 19,5%”, explica Tavares.

A conta, segundo ele, não fecha. “Se você capta a 19% e tem retorno de 13%, é impossível sustentar a operação. É o que estamos vendo: produtores endividados, propriedades à venda e aumento nos pedidos de recuperação judicial”, comenta.

Para reverter esse cenário, Fabiano Tavares defende a intensificação produtiva e o uso estratégico de ciclos de recria e terminação. “É preciso aumentar a geração de caixa. Uma saída é trabalhar a recria e terminação durante o período das águas, quando o capim está verde, e transferir os animais para confinamento ou sistemas de engorda intensiva na seca”, orienta.

Com esse planejamento, explica o consultor, o produtor pode ampliar sua rentabilidade de forma significativa. “Mantendo 13% de margem nas águas e fazendo dois giros de confinamento com 10% cada, é possível alcançar entre 33% e 36% ao ano. A diferença está em planejar o uso do capital e entender que o modelo extensivo puro, nos moldes de décadas passadas, não é mais sustentável”, conclui.

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