Comerciantes inflacionam mercado
Diário da Manhã
Publicado em 29 de maio de 2018 às 01:20 | Atualizado há 7 anos
O abastecimento está cada vez mais comprometido em Goiânia e cidades do interior ante a falta de combustíveis em decorrência da greve dos caminhoneiros. E o pior, os comerciantes aproveitadores estão inflacionando vendas de produtos básicos no varejo. A gasolina já chegou a ser vendida a R$14,00 o litro em Itumbiara, cidade do sul do Estado. A Ceasa-Goiás, principal entreposto de verduras, hortaliças e frutas do Centro-Oeste, registra carência de alguns produtos. José Lopes, gerente técnico, relata que os estoques “suportam até quinta-feira no máximo”. Segundo ele, o tomate por ser altamente perecível já está perdendo dentro das caixas.
Curioso no episódio, já registrado na edição de sábado do Diário da Manhã, grande parte da população aplaude o movimento dos caminheiros, apesar da ameaça de desabastecimento. A ótica desse apoio tem base no processo de corrupção, na carga tributária, considerada pesada demais, e na suposta inércia governamental. Em várias cidades goianas têm ocorrido adesões, inclusive carreatas, em prol dos caminhoneiros.
SINDIPOSTO REPUDIA ABUSO
Em Goiânia, ontem, uma carreata saiu da Praça do Trabalhador, condenando os políticos em geral pela corrupção reinante nas esferas dos poderes, com ênfase para os executivos e legislativos. Márcio Andrade, presidente do Sindiposto, (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Goiás), repudia o aumento do preço dos combustíveis praticado por alguns revendedores que, segundo ele, mancha a imagem dos bons empresários do setor.
Ele vê, no entanto, riscos de desabastecimento porque o movimento está impedindo a saída de caminhões tanques do terminal de Senador Canedo. Em nota oficial, na sexta-feira o Sindiposto se pronunciou pela legalidade da greve. “Nada fora da lei”, esclareceu.
Na Federação da Agricultura, que congrega mais de 120 sindicatos rurais, o presidente José Mário Schreiner, aponta a adesão dos produtores rurais aos caminhoneiros por causa da carga tributária. “Não é possível uma cota de 34% no diesel”, reage, observando que “esses tributos inconseqüentes é que fazem a população sofrer”. O repórter ao abastecer o seu carro, pagou R$110,45 pela gasolina. Conferiu a nota fiscal: R$32,26 eram de tributos.
O dirigente classista salienta que “o nosso transporte é feito em sua quase totalidade em carroçaria de caminhões”. Em sua visão, a bacia hidrográfica brasileira é rica, mas o transporte de barcos é pouco utilizado. A Ferrovia Norte-Sul, iniciada no governo Sarney, está há mais de 30 anos por terminar, lembra.
ANIMAIS DA PECUÁRIA
Na SGPA, o presidente Tasso Jayme viu a 73ª Exposição Agropecuária de Goiás encerrar no domingo, mas uns mil animais permanecem no Parque de Exposições, em Nova Vila. Os bois, cavalos, suínos e aves permanecerão por mais tempo, porque não tem como retirar os animais das baias e pavilhões e retornaram às fazendas.
Diante da paralisação dos Caminhoneiros que está fechando as principais estradas do País, a Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) montou uma comissão de Gerenciamento de Crise para estabelecer as condutas a serem tomadas a partir da meia noite desta ontem após o encerramento da 73ª Exposição Agropecuária do Estado. Eis a nota da entidade.
“Cerca de mil animais, que por força contratual após o término da exposição deveriam começar a sair à meia noite desta segunda-feira, 28, continuarão no parque em caso de pedido do expositor para que não corram riscos ou maus tratos nos bloqueios.
A SGPA providenciou mais de 36 toneladas de suprimentos para atender até 15 dias de alimentação dos animais (bovinos, suínos, equinos, capriovinos e outros).
Plantão da equipe veterinária 24 horas.
Manteremos o restaurante que atende aos tratadores e colaboradores do Parque de Exposições de Goiânia em pleno funcionamento, como também os alojamentos (quarto/banheiro) para hospedar os mesmos.
A limpeza com a coleta diária e segurança, serão mantidos dentro do Parque nos próximos dias.
A SGPA se preocupa com a situação atual e não abandonará seus expositores ou os animais que tanto abrilhantaram a 73² Exposição”.
LEITE DERRAMADO
Na área do leite, a crise persiste com a impossibilidade de entregar o leite nas unidades de laticínios. Os criadores estão optando por jogar o leite fora, embora seja simpático à doação. Mas, há dificuldades. Primeiro, o criador tem que retirar o leite do úbere das vacas, sob pena do animal sofrer uma mastite e até morrer. Segundo, é vedada a distribuição de leite cru, devido às normas de segurança alimentar.
Os produtores, no entanto, vivem dificuldades no momento, estando no vermelho. Por isso, muitos estão deixando a atividade ou encerrando investimentos com matrizes de genética mais aprimorada. O produtor mostra-se simpático ao movimento dos caminhoneiros, sob o prisma de que “também consomem muito diesel nas propriedades e a conta de uma propriedade pequena pode chegar aos R45 mil”.
COTONICULTURA POUCA AFETADA
A cotonicultura goiana pouco sentiu os efeitos da greve dos caminhoneiros, até agora. Para o presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), Carlos Alberto Moresco, não houve prejuízos para os cotonicultores da região de Cristalina e Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. Conforme o presidente, a colheita ainda não começou e ainda há combustível para a realização das atividades básicas. “Estamos racionalizando o uso de diesel para o caso de um agravamento da greve”, pondera.
Na região de Chapadão do Céu, os produtores se anteciparam à crise de abastecimento e estocaram combustível, conforme informou o ex-presidente da Agopa, Luiz Renato Zapparoli. O único inconveniente relacionado à cotonicultura, diz, foi o atraso na entrega de alguns defensivos, o que já foi resolvido. “O prejuízo foi muito limitado”, avalia. Para Zapparoli, as fazendas produtoras de algodão estão funcionando e podem se manter ativas por mais uma semana, caso persista a greve.
DAIA COMPROMETIDO
No Distrito Agro-Industrial de Anápolis (Daia) os empresários apontam indústrias paralisadas por falta de matéria prima. Na BR-060, via estratégica na região, ocorreram alguns piquetes. A Base Aérea, uma das principais da Força Aérea Brasileira, foi reabastecida. Em Anápolis vários postos encontram-se fechados por falta de combustível. O mesmo se repete em Caiapônia, Jataí, Itumbiara, Catalão, Entorno de Brasília, Goiatuba, região da Estrada de Ferro, entre outras cidades do Estado. Em São Simão falta gás.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, demonstrou preocupação com a paralisação de caminhoneiros. Segundo ele, com o movimento, que completa oito dias, “a economia brasileira está sendo asfixiada”. “Todos estamos na iminência de um grave conflito social”, relatou em comunicado, demonstrando estar o quadro difícil no País.