Cotidiano

Compulsão para consumo

Redação DM

Publicado em 6 de fevereiro de 2017 às 10:27 | Atualizado há 7 meses

Os motivos que levam uma pessoa a comprar são os mais variados, dentre estes podemos citar a necessidade, a importância do produto, os modismos, o status e principalmente o apelo mercadológico do comércio. Nesta seara de razões e motivos para se realizar uma compra há aquelas pessoas que compram pelo simples prazer de comprar, de adquirir alguma coisa independente da sua utilidade ou significado.

Mas o que pessoas que compram sem ter um motivo aparente têm em comum? Quando avançado para um quadro patológico estas pessoas têm em comum uma vontade incontrolável de comprar sem critério e consciência da sua verdadeira necessidade e até mesmo condição financeira. Pesquisas apontam que portadores do transtorno de compra compulsiva representam 5% da população geral, sendo que ele é identificado com maior frequência nas mulheres.

Em entrevista à reportagem do Diário da Manhã a psicóloga Mara Suassuna descreve que as pessoas compram por diferentes motivos: necessidade, desejo, carência, dentre outras razões. Ela esclarece que o que caracteriza a compulsão é a frequência e intensidade. Acentua que, comprar uma coisa aqui outra ali de acordo com as possibilidades financeiras é normal. Observando que um dos fatores que induzem as pessoas ao consumo são as persistentes ação mercadológica.

“As pessoas são movidas pela indústria do consumo que faz com que elas desejem, e estas não se perguntam antes de comprar: eu preciso ou eu desejo, essa é a grande questão. Agora a pessoa que compra com muita frequência e intensidade, sem haver uma necessidade premente, pode apresentar um distúrbio psiquiátrico e portanto precisa de tratamento medicamentosos e psicológico, as compulsões precisam ser tratadas”, avalia.

A especialista define o perfil dos compradores compulsivos ao observar que a compulsão por compra é uma doença que apresenta ciclos de ansiedade antes da compra, prazer durante o pagamento e arrependimento logo em seguida. “O consumo vem como um mecanismo de compensação e não como algo necessário e útil”, esclarece.

Ela acrescenta que são muitas as carências humanas e na ausência do suprimento dessas carências é natural que as pessoas busquem satisfazer de outras formas, muitas vezes direcionando para bebida, drogas, sexo, jogo toda energia na tentativa de ver minimizadas suas necessidades e angústias. “A pessoa compra por que deseja e com a tentativa de suprir um vazio interior, é como se buscasse algo fora para tampar o vazio interno, e busca as compensações em coisas que após serem compradas não tem o mínimo valor”, afirma.

Suassuna menciona ainda que uma compulsão pode vir acompanhada de pensamentos obsessivos ou não. “Uma característica muito importante é que as compulsões podem mudar de “objeto”. Explicando melhor: uma compulsão por compras pode se associar ou se transformar em compulsão por comida ou compulsão por jogo, sexo e assim por diante”, afirma.

                                                                                   

Compro por impulso

Alguns estudos mostram que 90% dos compradores compulsivos são mulheres e o consumo destas está, normalmente, relacionado com a dependência de shopping centr, compra de comida e cleptomania, desejo irresistível de furtar. Maia, nome fictício, Trabalha desde os 13 anos de idade, mas foi a partir do momento que recebeu o primeiro salário que se sentiu impelida a realizar uma ação que lhe geraria prazer, comprar.

“A partir do momento que comecei a ganhar meu próprio dinheiro percebi os impulsos em relação às compras. Às vezes compro por impulso coisas sem a menor finalidade, apenas por acreditar que naquele momento eram necessárias, ou por achar bonito, ou atrativo”, descreve. Apesar de reconhecer que compra por impulso ela avalia que de certa forma tem controle de suas ações.

“Até o momento não tive problemas quanto a isso, uma vez que nunca me endividei. Mas, acredito que caso não haja um controle da minha “razão” esses impulsos possam vir a piorar. Creio que o único ponto que pesa às vezes, é o fato de comprar coisas realmente sem nenhum objetivo. Isso me causou prejuízos, pois em seguida, precisei de algo realmente necessário e o dinheiro  tinha sido empregado em algo sem fundamento algum”, conta.

A estudante Várvara Ivanova Sena Moura, 20 anos, descobriu sua compulsão por compras quando deixou de morar com a mãe e teve que administrar as finanças. “Assim que saí da casa da minha mãe passei a ir mais a supermercados e coisas do tipo e sempre que vejo algo que me interesso compro, independe de estar precisando ou não, vejo algo gosto e já quero comprar”, define.

A mestre em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Go) Mara Suassuna alerta que gastadores compulsivos podem destruir o patrimônio da família, desestruturar a vida financeira, visto que ao fazerem suas aquisições são movidos por aspectos emocionais e não racionais.

“A compulsão por compras é tratada juntamente com os demais distúrbios de impulso e é considerada um distúrbio quando produz um sofrimento ao paciente, tanto desconforto psíquico quanto ao acarretar prejuízos financeiros e pessoais e interferir nos relacionamentos afetivos e familiares”, define.

Várvara Ivanova admite comprar sem nenhum critério de utilidade e brinca ao afirmar que não ver o dinheiro como sinônimo de felicidade, mas sim, seus cartões de crédito. “Tenho muitos cartões de crédito e 90% das compras que faço são com eles tudo bem que quando a fatura chega a gente sente uma dorzinha no peito, pelos altos valores, mas no final sempre acaba dando tudo certo”.

 

Ela avalia que comprar por impulso pode ser prejudicial e pode se agravar. “Acredito que o meu comportamento de comprar por impulso e muito prejudicial para mim, principalmente por comprar muito em cartões de crédito o que pode ser muito perigoso quando não se tem um controle”.

Tratamento

Para a psicóloga Mara Suassuna o perfil de pessoa mais propensa a desenvolver esse tipo de distúrbio, está relacionado a pessoas mais ansiosas visto que a  compulsão por compras vem sempre acompanhada de ansiedade, e de depressão, o que ela chama de comorbidades doenças relacionadas.

Pondera que podem existir excessos nos períodos de euforia ou de mania nas pessoas com transtorno bipolar, mas afirma que são comportamentos os quais não podem ser caracterizados como compulsão. “Encontramos a compulsão em portadores de Transtornos Obsessivo-Compulsivos”, atesta.

Alguns dos tratamentos para portadores do transtorno de compra compulsiva, o qual só foi considerado uma doença recentemente em 1980, consiste em oferecer ao paciente um acompanhamento psicológico que tem como proposta fazer com que a pessoa entenda o que acontece com ela, por que compra demasiadamente e quais são os gatilhos que a leva a esse descontrole.

“Existem diversas abordagens terapêuticas eficazes, desde o uso de modernos fármacos específicos da classe dos novos antidepressivos, alguns ansiolíticos também podem ajudar. Acompanhamento psicoterapêutico e importante salientar o apoio familiar para a superação do problema, ao invés de uma postura crítica e discriminativa”, conclui Mara Suassuna.

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