Cotidiano

Consultório na rua

Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 20:53 | Atualizado há 4 meses

 

O céu nublado, o vento e a chuva contínua nesses dias de janeiro incentivam o goianiense a aproveitar uma parte do dia no aconchego de casa. Essa não é a realidade para quem mora na rua. Para essas pessoas em condição de vulnerabilidade e com vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, as praças e avenidas da capital são os únicos ambientes que podem chamar de lar. Pensando nestes cidadãos, o Ministério da Saúde instituiu o Consultório na Rua.

Para garantir o acesso integral, universal e igualitário à saúde para a população brasileira, preconizado pelo Serviço Único de Saúde (SUS), o Consultório na Rua amplia o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde. Uma equipe multiprofissional atua de forma interdisciplinar realizando ações de promoção, prevenção e cuidados em saúde no próprio espaço da rua.

A abordagem é diferenciada, sem priorizar a demanda espontânea e a abstinência do usuário. Através de princípios como o respeito aos direitos humanos e à diferença, a redução de danos e a inclusão social, o Consultório na Rua propõe garantir o acesso desse público às redes sociais e de cuidados em saúde. O trabalho da eCR é realizado em conjunto com as equipes de abordagem da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas).

Equipes

A responsabilidade pela atenção à saúde desta população em situação de rua é de todo e qualquer profissional que atua no SUS, mesmo que não seja componente de uma equipe de Consultório na Rua (eCR). O Centro de Saúde do Setor Leste Universitário é o ponto de apoio das eCRs de Goiânia e base de suas equipes. O grupo se divide em dois, sendo que um atua no período matutino e outro no vespertino, de segunda a sexta-feira.

Faça chuva ou faça sol, as equipes percorrem as ruas a Capital em busca de seus pacientes, atendendo as demandas que surgirem. A psicóloga Glênia Milhomem de Almeida, integrante da eCR, destaca que o processo de aproximação e acolhimento das pessoas em situação de rua é delicado e feito com muito cuidado e atenção, como feito com qualquer outro paciente: “Cada indivíduo tem sua particularidade. O papel da equipe é respeitar a rotina dessas individualidades”.

Demandas diárias

Depois da abordagem o homem aceitou ajuda e foi acompanhado até o Cais Deputado João Natal, no Setor Vila Nova

Às terças-feiras, a principal atividade da equipe do período vespertino é uma ação conjunta com a equipe do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do Negrão de Lima na Praça Dom Emanuel, em Campinas. O encontro é tido como um momento de entretenimento às pessoas em situação de rua, quando a eCR utiliza a música e o violão como exercícios de redução de danos. A atividade atrai as pessoas que ficam na praça durante os horários de celebração da igreja local.

A educadora social Mariana Cardoso ressalta que a ação realmente funciona, principalmente para os usuários de drogas, que interrompem o uso durante a atividade. “Como usar drogas cantando e se divertindo? É um momento positivo de escape e de redução de danos”, pondera. Os participantes da ação participam ativamente, escolhendo, inclusive, o repertório musical. “Rap, funk e gospel são os sons mais pedidos pelo pessoal”, conta o educador social Wanderley Alves.

Receptividade

Em uma das visitas ao Mercado Municipal da Vila Nova, os técnicos da eCR encontraram um homem com uma ferida na sola do pé. O contato com o asfalto quente provocou queimaduras na pele adjacente ao corte e agravou o machucado. Durante a abordagem, o homem aceitou ajuda e foi acompanhado ao Cais Deputado João Natal, no Setor Vila Nova. Essa boa receptividade não foi um caso isolado. Na maioria das vezes, as pessoas em situação de rua respeitam os profissionais e aceitam ajuda.

A assistente social Juracy Gomes conta que nesse mesmo grupo que vive nos arredores do Mercado da Vila Nova, há uma gestante que já está em acompanhamento pré-natal e outra mulher já mostrou interesse em realizar uma avaliação preventiva de ginecologia. “A equipe se compromete em mediar o atendimento médico e avisá-los sobre a data da consulta”, esclarece Juracy Gomes.

As eCR fazem todo o trabalho de agendamento de consultas e procedimentos para as pessoas em situação de rua. Cada indivíduo tem seu prontuário com dados, informações pessoais e histórico médico. No dia do atendimento, a equipe busca o paciente no ponto combinado e o leva até a unidade de saúde. Lá, esperam toda a concretização do atendimento e depois levam a pessoa de volta ao ponto de origem.

O Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica Cândido José Santiago De Moura (CRDT), no Setor Norte Ferroviário, é uma unidade bastante procurada pelas pessoas em situação de rua, já que há incidência de casos de tuberculose e doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e HIV/AIDS entre esse público.

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