Controle de frequência dos funcionários da saúde é incerto
Diário da Manhã
Publicado em 5 de abril de 2018 às 03:34 | Atualizado há 4 meses
Um Projeto de Lei (PL) que propõe a implementação de ponto eletrônico para controle de frequência na rede estadual de saúde de Goiás pode ser apresentado na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). O texto surgiu do Projeto Politizar, que dá a oportunidade para estudantes simularem a condição de parlamentar, e foi apresentado pelo deputado estadual Karlos Cabral (PDT) ao Governo do Estado. O objetivo seria “evitar fraudes e assegurar aos profissionais de saúde transparência no exercício de seu trabalho”, e seria instituído por uma “empresa parceira”.
A Secretaria de Saúde do Estado (SES), disse que os servidores “estão sujeitos ao registro de ponto eletrônico” através do Sistema de Frequência (SFR), que é gerido pela Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN). Os hospitais geridos por Organização Social (OS) possuem sistema próprio para controle da frequência. De acordo com a SES, as OSs fazem controle independente devido à necessidade de adequações ao Sistema de Frequência que não foram implementadas pela SEGPLAN.
Em agosto do ano passado, o Ministério do Trabalho autuou pelo menos sete hospitais geridos por OSs em Goiás por irregularidades trabalhistas, entre elas, jornada de trabalho excessiva. De acordo com o auditor Ricardo Oliveira, que constatou os problemas, médicos chegavam a trabalhar 60 horas seguidas. O deputado Karlos Cabral afirma que, caso o PL seja apresentado, o texto deveria ser reavaliado para o controle dos servidores das OSs, “que são instituições privadas”. Atualmente, 17 unidades hospitalares do Estado são geridas por OSs.
Apesar da autuação, a SES garante que as OSs “não se eximem ao controle da gestão de frequência”, afirmando que as entidades precisam “comunicar formalmente, por meio de relatório, dados sobre a consolidação mensal das frequências dos servidores subordinados” às Organizações. A assessoria da SEGPLAN afirmou que, apesar de ser responsável pelo controle de frequências dos hospitais públicos, os responsáveis pelas OSs é que devem “exigir a rigorosa observância das normas estabelecidas para o registro, controle e apuração da frequência dos servidores”, que não são ligados diretamente ao Estado e são contratados pelas OSs pelo regime de CLT.
Pela legislação estadual, somente o Poder Executivo pode apresentar projetos que regulam a atividade dos servidores públicos. Por este motivo, o deputado Karlos Cabral apresentou o texto como anteprojeto de lei, ou seja, sugerindo a matéria ao governador, para que ele, então, apresente o Projeto de Lei. “Vai depender do governo estadual para ele avaliar se gostaria de encaminhar como PL para assembleia analisar”, disse Cabral.
A enfermeira Lorena Morena, de 28 anos, atualmente trabalha no Hugol (Hospital de Urgências Otávio Lage Siqueira), gerido pela Associação Goiana de Integralização e Reabilitação (AGIR), que foi uma das autuadas pelo Ministério do Trabalho. Morena diz que o controle de frequência no hospital é feito por biometria e os funcionários têm acesso aos pontos lançados diariamente através do “espelho do cartão de ponto”.
EDIÇÃO
A enfermeira, que já trabalhou no Hospital das Clínicas, atualmente gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), afirma que já testemunhou servidores “não cumprirem a carga horária ou utilizar o horário de trabalho para compromissos pessoais”. Morena ressalta ainda que “poucos hospitais de Goiânia respeitam a carga horária dos profissionais de saúde”. No caso dos enfermeiros, a legislação determina jornada de 30 horas semanais, que, segundo ela, é cumprida pelo Hugol, mas é uma exceção.
A ideia do Projeto de Lei surgiu na última edição do Projeto Politizar, realizado na Alego, apresentado pelo estudante deputado simulando Matheus Pereira. O Politizar é um projeto de extensão da Universidade Federal de Goiás (UFG), que tem como objetivo “oferecer aos estudantes e comunidade em geral uma simulação do processo legislativo brasileiro adotado na Alego, envolvendo os estudantes que se interessem pelo sistema na construção de leis, pareceres, alianças”
Poucos hospitais de Goiânia respeitam a carga horária dos profissionais de saúde”Lorena Morena, enfermeira