Cotidiano

Crianças descobrem planta que limpa água

Diário da Manhã

Publicado em 5 de dezembro de 2015 às 00:25 | Atualizado há 4 meses

O Colégio Estadual Dom Velasco, representa Goiás entre as cinco finalistas do prêmio “Resposta para o Amanhã”. A premiação leva o tema “Como as ciências e a matemática podem contribuir para construção de uma sociedade sustentável. O colégio participa com o projeto de como melhorar a saúde pública da zona rural de Itumbiara, no combate de parasitoses pelo consumo de água não tratada. Por meio de trabalhos científicos, os alunos identificaram o potencial antimicrobiano das sementes da planta Moringa Oleífera validando sua eficácia na redução de bactérias presentes na água.

Em entrevista ao Diário da Manhã, a diretora Lauricea Ramos, do Colégio Estadual Dom Velasco conta que a ideia do projeto surgiu durante as aulas de biologia dos alunos da 2ª série – turma B do ensino médio, sobre o reino monera. Na aula, também foi explicada algumas parasitoses transmitidas pela água contaminada e alunos da zona rural comentaram que não ingeriam água tratada, devido ao saneamento básico não chegar até a região. “Alguns alunos até relataram que já tiveram manifestações de sintomas de parasitoses”, afirma.

Com isso, a busca pela solução na necessidade de tratamento de água começou. “A proposta foi buscar um método de tratamento da água disponibilizada na zona rural que fosse barato e de fácil acesso e possivelmente natural, com extrato de sementes de moringa oleífera”, explica a diretora. Ela conta ainda, que alunos de outras turmas também ajudaram no projeto com amostras de água para análise, visto que era o público alvo.

De acordo com a diretora, a redução da presença de bactérias e a eficácia da semente da planta Moringa Oleífera na redução da turbidez da água coletada foi o objetivo. O trabalho avaliou os resultados obtidos e os permitidos pela portaria vigente do Ministério da Saúde, em relação a qualidade da água para consumo humano armazenada em cisternas.

Lauricea Ramos também comenta da dificuldade dos alunos na compra de material para a realização do projeto, por isso, contaram com ajuda da comunidade. E uma instituição de ensino superior local auxiliou com a medição da turbidez antes e depois da aplicação do extrato de moringa.

Na zona rural é comum o uso de cisternas e a maioria são utilizadas para fins domésticos, inclusive para cozinhar e para beber, além do trato de animais e irrigação agrícola. A comunidade da zona rural beneficiada pelo projeto também contribuiu com o projeto também na coleta da água para análise, nas condições de higiene necessárias.

A diretora afirma que a expectativa para ganhar o prêmio nacional é grande. “Não pensávamos que chegaríamos tão longe, mas sabemos que a ideia é válida, mas ser reconhecido nacionalmente é algo inacreditável!”.

Ela finaliza com um recado para os alunos do projeto: “Sigam seus sonhos, trabalhem para o bem comum, acreditem vocês são capazes! Prova disso são os resultados positivos que estão recebendo neste momento, estudar e buscar soluções para problemas, muitas vezes com soluções simples, é enriquecedor”, conclui.

Projeto

O projeto seguiu a metodologia científica, observação da problemática, levantamento de hipóteses e justificativa, estabelecimento dos objetivos, experimentação e análise dos resultados. Além disso, a diretora conta que outro trabalho está sendo iniciado para dar continuidade a pesquisa. A análise da água e ação das enzimas por meio Colilert foi estudada pelos alunos com a identificação, morfologia, características químicas e físicas da planta Moringa Olerífera, além de parasitoses transmitidas pela água.

De acordo com a diretora, foram coletadas e analisadas cinco amostras, de águas de cisternas situadas na zona rural do município, com volume de 500 ml cada, no mês de maio. Elas foram acondicionadas em caixa isotérmica com gelo e transportadas ao laboratório e mantidos sob refrigeração até o início das análises em período não superior a vinte e quatro horas.

A turbidez das amostras foi determinada com turbidímetro. Após a homogeneização adequada da amostra, foram retiradas cinco porções de 100 ml, uma de cada amostra. Essas amostras receberam o meio Colilert e foram posteriormente seladas e incubadas a uma temperatura de 35°C por 24h, fornecendo desse modo os resultados por coloração e fluorescência.

Para o preparo do extrato foram considerados os parâmetros com resultados significativos, 30 gramas das sementes da planta foram descascadas, trituradas e homogeneizadas com agitação magnética à temperatura ambiente durante 30 minutos com 150 ml de água destilada. A coleta foi realizada no tempo de 120 minutos e realizada com o máximo de cuidado para não haver agitação da massa líquida no recipiente.  Utilizou-se a alíquota de 100 μL apenas na amostra de água da cisterna em que foi identificada a presença de E. coli, de forma similar às realizadas nas amostras in natura e um controle para caracterização físico-química e microbiológica.

De acordo com os ensaios realizados, o uso da semente da Moringa Oleífera pode vir a se tornar viável e aplicável em locais onde não há tratamento de água, pois foi observada eficiência na redução da turbidez e presença de coliformes totais nas amostras de águas subterrâneas. Porém, é necessário o prosseguimento do estudo de forma a otimizar as condições e confirmar a eficácia do tratamento.

A planta

Dentre as diversas espécies vegetais com propriedade antimicrobiana destaca-se a moringa oleifera, que se caracteriza por apresentar valor econômico e medicinal. É uma espécie de planta tropical que contém proteínas hidrossolúveis, dotadas de excelentes propriedades de coagulação, para o tratamento de água e água residual.

A semente se comporta como um coagulante natural, sendo comparada ao sulfato de alumínio, que, atualmente, é o produto químico mais usado nos processos de tratamento de água, mostrando-se também eficaz na redução da turbidez e paralelamente na redução de bactérias presentes na água.

Concurso

“Respostas para o Amanhã” está na segunda edição, é realizado pela Samsung e voltado para jovens de escolas públicas, que visa identificar práticas educativas que promovam a aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula sobre ciências, tecnologia, engenharia e matemática, na resolução de problemas que os alunos enfrentam no dia a dia de onde moram. Promove a aplicação prática das teorias, reforçando o engajamento e protagonismo dos jovens, ao mesmo tempo em que gera benefícios para as comunidades.

O surgimento do prêmio “Respostas para o Amanhã” deu início nos Estados Unidos em 2010, na última edição do país teve mais de 1,6 mil escolas americanas participando do concurso. No Brasil, a edição de 2015 teve 342 projetos inscritos. Desses, os 20 trabalhos que melhor aderiram à proposta foram selecionados como vencedores regionais e por isso, receberam um kit (composto por notebook, câmera fotográfica e filmadora) de edição para produção de um vídeo sobre seus projetos.

Premiação

O Colégio Estadual Dom Velasco, de Itumbiara, está entre as cinco ganhadoras da etapa nacional, mas para vencer o prêmio precisa ganhar na votação popular, através do site:

. Vencendo o prêmio, a escola será toda equipada com notebook.

 

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