Cotidiano

Desafios para bom uso do celular nas escolas

Diário da Manhã

Publicado em 19 de abril de 2018 às 02:37 | Atualizado há 7 anos

Nos últimos anos a hiper­conectividade virou reali­dade na vida dos brasilei­ros. As ligações telefônicas foram substituídas por mensagens em aplicativos. O celular deixou de ser objeto de entretenimento para se tornar necessidade cotidiana. Na sala de aula não é diferente. Essa prática, no entanto, ainda é motivo de discordância entre os profissio­nais da educação, que ficam divi­didos entre aprovações e rejeições.

Os smartphones deixaram de ser restritos à determinadas clas­ses sociais e faixas etárias e até mesmo os professores se veem dependentes da tecnologia para lecionar. Alguns profissionais acreditam que a ferramenta é pre­judicial ao aprendizado, outros defendem que ela pode ser uma aliada ao conhecimento. A dificul­dade de controlar a forma como os celulares são utilizados no in­terior das instituições de ensino é a maior dificuldade para a imple­mentação dos smartphones en­quanto medida pedagógica.

No segundo trimestre de 2013, os smartphones superaram em vendas, pela primeira vez, os ce­lulares tradicionais, respondendo por 51,8% das vendas de telefo­nes móveis, segundo a consulto­ria Gartner. Um estudo realizado por pesquisadores da Universi­dade da Coreia, em Seul, na Co­reia do Sul, mostrou que adoles­centes viciados nessas tecnologias têm maior chance de sofrer com problemas como depressão, an­siedade, insônia e impulsivida­de. Além disso, exames de resso­nância magnética revelaram que a dependência provoca alterações no equilíbrio químico do cérebro.

A pesquisa foi realizada com 38 pessoas, divididas em dois gru­pos iguais. De um lado, estavam jovens com idade média de 15,5 anos, diagnosticados com vício em smartphone ou internet, e do ou­tro, um grupo de controle também composto por 19 pessoas da mes­ma faixa etária e divisão de gêne­ro. Doze dos viciados, fizeram ses­sões de terapia comportamental por um período de nove semanas.

Os pesquisadores aplicaram aos voluntários questionários para medir a severidade da dependên­cia, com perguntas sobre como o uso da internet e do smartphone afeta suas rotinas diárias, vida so­cial, produtividade, padrões de sono e sentimentos. Os adolescen­tes viciados tiveram notas maiores para depressão, insônia, ansieda­de e impulsividade. Embora a pes­quisa tenha sido realizado em um país cultural, social e economica­mente distinto do Brasil e com um recorte pequeno de usuários, ain­da assim serve como alerta.

OPINIÕES

O estudante de mestrado em filosofia da UFG e professor da rede particular, Francisco Por­fírio, participou de um progra­ma que pesquisou a questão da utilização de aparelhos celular em sala de aula. A pesquisa con­cluiu que as tecnologias podem ser aliadas no processo de ensi­no e aprendizagem, utilizando as mídias digitais para a sensibi­lização dos estudantes. “Utilizar uma linguagem que é comum dentro das redes sociais pode ser um aliado para tornar a aula mais atrativa. Não é que o conteúdo da aula vai se resumir a isso, mas sim utilizar isso como instrumento de sensibilização”, explica.

Os memes de internet seriam uma dessas alternativas para es­timular o interesse nos estudan­tes. A expressão meme de internet é usada para descrever um con­ceito de imagem, vídeos, gifs e/ ou relacionados ao humor, que se espalha via internet. “Sensibi­lizar é isso, pegar um assunto que está próximo do aluno para apro­ximar ele do assunto a ser discu­tido”, emenda Porfírio. O professor também levanta a possibilidade de crianças de plataformas inte­rativas. “Através dessas platafor­mas cada aluno com smartphone ou tablet poderia acessar de onde ele estiver, para sair daquela coisa do caderno, pergunta e resposta, para algo mais interativo”, sugere.

A professora de história da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Aline do Carmo, apoia o uso de celular entre os alunos. Em 2014, quando lecionava no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) da UFG, para ensino médio e fundamental, os smartphones já estavam com alto nível de acessibilidade e já não era possível controlar o uso. “O que mais acontece hoje em sala de aula é eles quererem tirar foto da maté­ria. Alguns professores não gostam porque não treina a escrita”, expli­ca. A professora ressalta que não vê problemas em fotografar os con­teúdos repassados em sala, ao in­vés de copiá-los à mão. Entretan­to, ela pondera os problemas que essa prática pode se desencadear.

“Tem a questão da privacida­de. Os alunos podem te gravar dando aula e isso viralizar em gru­pos de WhatsApp e sei que muitos professores se incomodam como esse tipo de uso. (O uso de celular em sala de aula) tem avançado e não tem jeito de controlar e está havendo um desenvolvimento no sentido de adaptar o uso de celu­lar para o aprendizado dos alu­nos”, finaliza, ressaltando também a facilitação da comunicação que os grupos de turmas nas redes so­ciais proporcionam.

Aline Xavier, de 18 anos, con­cluiu o ensino médio no ano pas­sado e relembra situações curio­sas envolvendo os celulares na escola. Ela conta que um profes­sor idoso utilizava o celular para acessar calculadora, tabela perió­dica, vídeos e outros conteúdos, inclusive indicando aplicativos e cobrando o uso de celular nas au­las. Já uma outra professora, jo­vem, não permitia o uso dos apa­relhos durante as aulas e retirava de sala aqueles que violassem a determinação. “Eu nunca fui de usar celular na sala de aula, acho que me atrapalha”, opina Xavier.



 

Sensibilizar é isso, pegar um assunto que está próximo do aluno para aproximar ele do assunto a ser discutido”

Francisco Porfír

 

Os alunos podem te gravar dando aula e isso viralizar em grupos de WhatsApp”

Aline do Carmo

 

SUGESTÕES PARA BOM USO DOS CELULARES NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

 

  • Ensino (professor)

– Explicitar a política de uso de celular em sala de aula

– Propor a leitura de textos na aula com o uso do celular

– Estimular pesquisas sobre dados, notícias e assuntos que tenham relação com o conteúdo

– Incentivar o uso de aplicativos que estimulem a criatividade e a criação do estudante

– Utilizar aplicativos disponíveis, tais como mapas, calculadoras científicas, além de aplicativos de organização

– Propor a criação de um grupo da disciplina em alguma rede social e encaminhar conteúdos

  • Aprendizado (aluno)

Manter as notificações desativadas e o celular no silencioso

– Prefira sair da sala para utilizar redes sociais

– Utilizar as ferramentas de busca para acrescentar algo à discussão do conteúdo

– Fazer uso de aplicativos de texto para anotar tópicos importantes discutidos em sala

– Utilizar o celular para registrar o conteúdo da aula

 

 


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