Cotidiano

Dia da TV e as gerações na tela: a reinvenção de um fenômeno brasileiro

DM Redação

Publicado em 16 de setembro de 2025 às 09:24 | Atualizado há 16 minutos

O Dia Nacional da Televisão, 18 de setembro, celebra um fenômeno que, há décadas, resiste e se adapta às transformações do consumo de mídia no Brasil. Apesar de um cenário de crescente concorrência com as plataformas digitais, como a Netflix ou a Amazon Prime, a TV continua a ser um pilar de informação e entretenimento. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o aparelho está presente em 96% dos lares brasileiros, e pesquisas do Kantar Ibope indicam que, em média, o brasileiro dedica mais de cinco horas diárias a assistir conteúdo televisivo.

É nesse contexto de relevância consolidada que a televisão busca sua próxima revolução para se manter no topo: a TV 3.0. O que, na superfície, aparenta ser somente mais um avanço tecnológico, na verdade, trata-se de uma resposta estratégica da radiodifusão em meio à era dos streamings. O novo padrão, que deve ser implementado em 2026, visa unir a robustez do sinal aberto com a interatividade da internet.

Seu funcionamento se baseia em uma interface nova, na qual os canais são apresentados como um catálogo de aplicativos, permitindo o uso de serviços interativos. Essa tecnologia deve unir o sinal de alta qualidade com a conectividade da internet, viabilizando uma série de funcionalidades que vão além da simples transmissão, como compras pelo controle remoto, votações em tempo real, acesso a conteúdos, serviços digitais, alertas de emergência e a personalização de comerciais para cada usuário.

Essa capacidade de adaptação do veículo é analisada pela mestre em sociologia e docente de Direito da Estácio, Gabrielle Silva, com doutorado em mídias e na sociedade brasileira. “O fenômeno da televisão na América Latina tem suas peculiaridades, visto que é uma espécie de espelho e motor em nossa cultura. As novelas, em particular, tem o poder tanto de gerar identificação refletindo características e crenças de nossas sociedades”, afirma.

Segundo Gabrielle, a TV 3.0 representa uma nova etapa nessa relação com o público, a qual ela define como “uma transição” para uma era cada vez mais digital. “É a mudança de um modelo de consumo passivo para um de cocriação, onde o espectador terá mais voz e mais ferramentas para personalizar sua jornada. A televisão está se reinventando para manter seu lugar, unindo o alcance e a credibilidade do modelo tradicional com as possibilidades do ambiente digital”, explica.

Para a professora, as novas gerações, sobretudo a da infância e juventude, já têm uma relação diferente com o entretenimento. “No passado, a programação da TV era rígida. A gente assistia a um programa em um horário fixo e, quando ele acabava, não havia mais nada para fazer. Com o conteúdo digital, as novas gerações têm acesso a um fluxo constante de entretenimento personalizado. No entanto, estudos sociológicos sugerem que essa abundância pode prejudicar a capacidade delas de lidar com o tédio. E o tédio é importante porque nele conseguimos pensar, refletir e produzir muitas coisas”, explica a docente.

As gerações da TV

A chegada da TV 3.0 não é a primeira grande revolução na história do veículo. Ao longo de seus mais de 75 anos no Brasil, a televisão passou por outras transformações que mudaram o comportamento de gerações inteiras. A primeira delas foi a era da TV 1.0, a da transmissão analógica. Foi a tecnologia que, a partir de 1950, levou som e imagem para as casas brasileiras e deu origem à programação como a conhecemos hoje. “A TV analógica foi o que de fato uniu o país sob uma mesma narrativa visual e sonora. Ela criou uma identidade coletiva e o hábito de nos reunirmos em frente à tela para consumir as mesmas histórias”, comenta a professora.

Já a TV 2.0, implementada no Brasil a partir de 2007 marcou a transição para a era digital. O novo padrão de sinal proporcionou uma evolução na qualidade de imagem e som, High Definition (HD). “A TV digital não só melhorou a qualidade técnica, mas também democratizou o acesso a novos canais e abriu caminho para uma diversidade de conteúdo. Foi o primeiro passo para o cenário de escolhas que temos hoje”, avalia Gabrielle.

Agora a revolução 3.0 significa uma adaptação da televisão a um formato para atrair as novas gerações. “A gente muda a interface e este aspecto de que é o editor da televisão que vai mandar na programação que vou ver. Assim, a gente se aproxima mais da vivência dessa nova geração, que está acostumada a ter o entretenimento na hora que ela quer, da maneira que ela quer e na palma da mão”, pondera.

A TV 3.0 é a adaptação da televisão para atrair as novas gerações, abandonando a ideia de que o programador decide o que o público assiste. Assim, a televisão se alinha com o comportamento de consumo atual, onde o entretenimento está sempre disponível na palma da mão. “Essa mudança reflete o que já aconteceu com o rádio, que, apesar de ser considerado obsoleto com o surgimento da televisão, soube se reinventar e se integrar a novas plataformas, como o YouTube. A TV está seguindo um caminho semelhante, adaptando-se para atrair o público que consome conteúdo pela internet”, pontua a docente.

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