Discórdia milionária em pecúlio da maçonaria
Redação DM
Publicado em 1 de outubro de 2020 às 18:34 | Atualizado há 6 meses
O presidente do Pecúlio Maçônico do Estado de Goiás (PEMEG), Thiago de Allan Kardec Ferreira, está determinado a vender o conjunto de salas onde fica a sede, na Avenida Goiás em Goiânia, comprar um outro imóvel por R$ 2 milhões e construir uma obra estimada em mais de R$ 6 milhões. Para isso ele convocou uma Assembleia Geral Ordinária e outra Extraordinária para esse sábado, 3, a ser realizada apenas de forma virtual, com os participantes com direito a voto apenas em uma chat de discussão pela internet.
O imbróglio está provocando uma discussão pra lá de acalorada e muitos maçons e lojas inteiras prometem ir ao Judiciário para suspender a Assembleia ou anular o ato do presidente. O PEMEG é uma entidade que completou 65 anos e se destina a amparar viúvas e órfãos em caso de morte do maçom inscrito. O patrimônio acumulado do pecúlio é de mais de R$ 16 milhões em aplicações bancárias. A cada mês, quando morre um maçom, os inscritos são chamados a socorrer com uma contribuição para pagar o pecúlio aos beneficiados no inventário que o indivíduo fez ainda em vida.
Acontece que ao longo das décadas as contribuições foram se acumulando e formou um patrimônio milionário e onde há dinheiro há interesses diversos, diz a máxima popular. Pois, a atual diretoria tentou convocar uma Assembleia Geral para mudar dispositivos do estatuto que lhe dariam amplos poderes para tomar decisões sem consultar as bases. Devido à pandemia a assembleia presencial foi cancelada. Mas, o presidente Thiago Ferreira resolveu convocar outra a ser realizada de forma virtual, por um aplicativo de discussão online em que ele controlará acesso, direito de voz e voto dos que vão representar as lojas maçônicas.
A insistência em fazer uma assembleia pela internet e o desejo incontido de vender patrimônio para comprar outro imóvel por quase R$ 2 milhões, além de construir uma suposta “Casa do Maçom”, ao custo estimado de mais de R$ 6 milhões tem provocado urticária, taquicardia e picos de pressão em centenas de maçons. “Isso é um absurdo completo, fazer uma assembleia pela internet em plena pandemia para movimentar milhões de reais de patrimônio de maçons que se destinam a socorrer viúvas e órfãos”, diz um maçom de mais de 30 anos de ingresso na instituição.
Dezenas de lojas já se manifestaram integralmente contrárias ao intento de Thiago e se movimentaram no sentido de barrar a assembleia e a venda. Não bastassem lojas tradicionais – algumas com mais de 80 anos de fundação – há outras entidades que se posicionaram contra tudo o que o presidente quer.
Advogados
A Associação Goiana de Advogados Maçons (AGAM) é uma dessas entidades que manifestaram forte contrariedade às intenções nebulosas sobre a mudança do estatuto, da venda e da construção. Vilmar de Oliveira, o presidente, foi taxativo no que pretendem os advogados maçons: “Não aceitamos, não concordamos, não vamos admitir e se insistir vamos à Justiça para impedir”. A AGAM não vai peticionar como autora da ação, mas, explica o presidente, vai atuar como “amicus curiae”, ou amigo da causa, como assistente para garantir legalidade, legitimidade e cumprimento de princípios de direito e Justiça.
Uma das lojas maçônicas mais antigas de Goiânia, Liberdade e União, subordinada ao Grande Oriente do Brasil em Goiás, emitiu uma nota dura e direta contra os interesses do presidente do PEMEG. A nota diz expressamente que o posicionamento da loja é “contrário às alterações estatutárias pretendidas pela diretoria do PEMEG, bem como o projeto de venda da sede atual, aquisição de terreno e construção de nova sede (Casa do Maçom) com o dinheiro hoje existente das sobras administrativas acumuladas em décadas e décadas de trabalho e economia das administrações anteriores”.
Manifestação de lojas contrárias
Assunto: Proposta do PEMEG para a venda da sede atual e compra de área e construção de nova sede e alteração estatutária.
Em reunião da Loja Liberdade e União nº 1.158 realizada no dia 29/09/2020 às 20h:00, os irmãos presentes decidiram à unanimidade que o V.´. M.´. apresentasse esta nota as Lojas Maçônicas filiadas ao PEMEG e a sociedade maçônica, o posicionamento de LIBERDADE E UNIÃO CONTRÁRIO às alterações estatutárias pretendidas pela diretoria do PEMEG, bem como o projeto de venda da sede atual, aquisição de terreno e construção de nova sede (Casa do Maçom) com o dinheiro hoje existente das sobras administrativas acumuladas em décadas e décadas de trabalho e economia das administrações anteriores.
Outra loja, a Azilo da Razão, da Cidade de Goiás, fundada em 1835, também emitiu nota oficial manifestando sua contrariedade integral por ser uma assembleia em momento inoportuno e contrária à venda da atual sede para construção de outra.
“Pesam suspeitas muito fortes sobre porque vender patrimônio em um momento de pandemia, com a economia em recessão e planejar construir outra coisa gastando ainda mais de R$ 6 milhões”, frisaram dezenas de maçons nos grupos de discussão.
O projeto (sic) de construir uma nova sede, numa obra milionária, não entusiasma nem mesmo o presidente Thiago de Allan Kardec Ferreira. Num ato falho ele gravou um áudio exprimindo que caso o projeto naufrague e se mostre inviável ele pode vender tudo de novo e torrar o dinheiro em outra coisa. “Se por acaso isso for um ‘elefante branco’ nós podemos vender e tudo mais”, disse Thiago em áudio que circula nesses grupos.

A debandada promete ser geral se o intento de Thiago prosseguir. Centenas de maçons avisaram que vão propor em suas lojas desfiliação maciça do PEMEG, caso essas mudanças sejam aprovadas em uma assembleia virtual e a negociação suspeita seja feita.
Os Grão-Mestres das duas potências maçônicas, Tito Souza do Amaral (Grande Loja) e Mauro Marcondes (Grande Oriente) disseram que o assunto é afeito às lojas e seus filiados, não sendo da competência das instituições entrarem na discussão.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do Pecúlio Maçônico do Estado de Goiás (PEMEG), Thiago de Allan Kardec Ferreira, que nos respondeu por meio de nota, na qual diz que o assunto está sendo discutido pelas lojas e que todo projeto tem oposição e situação, e que os valores mencionados não condizem com o que foi demonstrado anteriormente.
Confira a nota na íntegra:
As fontes usadas na reportagem não refletem a verdade dos fatos. E o assunto esta sendo discutido pelas lojas e como todo projeto existe oposição e situação, e os valores não são o que esta sendo dito sendo que a assembleia terá participação recorde e não terá a participação da diretoria em sua condução, ficando a cargo dos filiados a decisão. A assembleia que seria presencial e já estava prevista a mais de um ano, foi modificada para virtual a pedido dos membros da maçonaria devido a pandemia e foi acatado pelo diretoria. As propostas da diretoria são:
- Será adquirido um imóvel que vale mais de 2,2 milhões mas esta sendo ofertado 1,5 mi devido o momento em que o mercado esta propicio para aquisição.
-Será vendido a sede atual, somente no próximo ano quando o mercado re-aquecer. - E no próximo ano a diretoria pretende autorização para investir 2,5 mi para construir a nova sede e uma estrutura denominada “Casa do Maçom” que servirá de centro de convivência aos maçons idosos e deficiente na capital, e casa de apoio aos maçons do interior.
A maçonaria sempre foi atuante no filantropismo para a comunidade carente e agora queremos que também atue para auxiliar seus filiados em situação de vulnerabilidade. A decisão ficará DEMOCRATICAMENTE a cargo dos filiados.