Empreendedores goianos ganham o Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 15 de julho de 2016 às 01:43 | Atualizado há 4 mesesApesar de terem como sede a capital goiana, muitos empreendedores obtêm mais sucesso fora daqui
De acordo com o presidente da Federação das Associações dos Jovens Empreendedores e Empresários do Estado de Goiás (Faje), Cleidistonio Salvador de Moura Júnior, o Estado é um dos que mais possui jovens empreendedores no Brasil. No entanto, deve haver mais esforços para que o governo tenha engajamento e compromisso para não perder esse profissionais para outros países ou Estados. Além disso, o fator qualificação também é um entrave. Na ânsia de começar logo o negócio, as pessoas acabam pulando etapas e sem plano de negócios as chances de fracassar aumentam.
Entre os cases que têm tido grande êxito e partiram de empreendedores goianos, está a plataforma digital XporY, que tem como modelo de negócio a economia colaborativa, e o Smart Job, um aplicativo para celular que auxilia no processo de recrutamento e seleção.
O presidente da Faje explicou para a reportagem do Diário da Manhã os tipos de empreendedores: aqueles que surgem por necessidade ou por oportunidade. No primeiro caso, a pessoa está passando por um momento difícil e se vê em uma situação que a obriga a criar algo que gere renda. “Acontece muito, as pessoas inventam novas receitas, ou fazem artesanato e comercializam isso. No entanto, ela busca qualificação, o que é mais assertivo”, diz.
Já no segundo caso, a pessoa enxerga um nicho de mercado, uma lacuna de algo que está faltando para as pessoas e então busca suprir isso. “Neste caso, o negócio tende a sobreviver menos tempo, isso porquê as pessoas enxergaram uma oportunidade, mas antes de agarrá-la não buscaram se inteirar do mercado e de se capacitar. Mas não é uma regra, claro, há os que fazem diferente e conseguem se sobressair”.
Segundo Cleidistonio, essas pessoas acabam indo para outros lugares, já que em Goiás nem sempre encontram o incentivo e apoio que precisam. “No entanto, temos buscado diálogos que mudem esse panorama”, explica o presidente.
Smart Job
A goiana Liane Flach é fundadora e CEO da Smart Jobm, uma startup que surgiu de gargalos das empresas que têm dificuldade em contratar. “Após anunciar as oportunidades em diversos lugares, essas empresas acabavam recebendo pilhas de currículos fora do perfil almejado. Sem contar que não conseguem ler todos nem tampouco passar feedback para os candidatos”, explica.
Ela conta que tinha uma empresa tradicional de recursos humanos e sempre se sentiu engessada no perfil de negócio, não via muitas possibilidades de crescimento. “Percebia processos longos de seleção, perca de tempo, altos custos, deslocamento de candidatos sem necessidade, falta de feedback e outros pontos negativos”, diz.
Nesse sentido, ela viu a necessidade de algo para mudar, e foi então que surgiu a ideia do Smart Job. “Era uma sementinha e foi crescendo para se tornar um projeto à medida que fui entendendo que seria uma startup”, conta Liane. Ela começou sozinha, contratando uma empresa de prestação de serviços para programar o aplicativo, pois sua formação é em psicologia e administração de empresas.
No começo, Liane acreditava que o projeto teria fim após os três meses e não precisaria de tanto acompanhamento, mas logo descobriu que seria um trabalho contínuo e intenso. “Quando se trata da área de tecnologia percebi que as melhorias e inovações devem acontecer diariamente”, diz.
Sendo assim, ela convidou seu primeiro sócio, Felipe Andrada (CTO – desenvolvedor full stack). Algum tempo depois de melhorar o sistema foi a vez do comercial, com o diretor de negócios Victor Navarrete, o designer Pedro Recchia, Angel Junior e André Tomazetti, do marketing digital. “Hoje somos seis sócios no total, cada um em áreas chaves do negócio”, acrescenta.
“Acredito que seja uma característica minha ter uma atitude empreendedora, sou inquieta por natureza, inconformada. Estou sempre pensando desde o meu primeiro trabalho: ‘como posso fazer esse processo ser melhor ou mais rápido?’ É uma pergunta diária que faço a mim. Acredito que o Smart Job seja um pouco ‘filho’ desse meu jeito”, avalia Liane.
Ela conta que o Smart Job cresce de um jeito que até a assusta. Existem candidatos e empresas em diversas regiões do Brasil que nem esperava atingir tão cedo. No entanto, Goiás não é um dos que ressalta. “Poderia ter mais incentivo às empresas de tecnologia, o cenário ainda é tímido aqui, comparado com outros Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No entanto, não deixamos isso ser barreira, o que me encanta na área de tecnologia é que tudo se faz possível com dedicação e ousadia”, diz.
Liane acredita ser uma das poucas mulheres que atua de fato em Goiás como fundadora de uma startup. “No começo estranhava tão poucas mulheres em reuniões, mas acabei me acostumando e gostando. Os meus sócios são todos homens e acho tranquilo lidar com isso. O foco é o trabalho, não ser mulher ou homem”, ressalta. Ela conta que descobriu com o Smart Job espaços que poderiam ser preenchidos, que não enxergava quando começou. “Não considero este meu primeiro e nem o último negócio, hoje com certeza é o mais importante. Empreendedor é empreendedor – não para nunca!”, conclui.
XporY
A ideia de criar uma plataforma como a XporY.com no Brasil veio através de pesquisas de negócios inovadores ao redor do mundo, é o que conta o sócio-fundador da empresa Rafael Barbosa. Ele, que tem formação em Engenharia Mecatrônica, sempre teve os olhos voltados para análises mais focadas em inovações tecnológicas, e não muito inovações nos modelos de negócio. “Dessa forma, o conceito de economia colaborativa, que é no qual a XporY.com está inserida, passou despercebido por mim nos primeiros contatos que tive com esse assunto”, explica. No entanto, ele percebeu, em viagens que fez aos EUA, que o potencial desse conceito está no modelo de negócios e não na tecnologia propriamente dita.
Rafael precisou fazer algumas adaptações quando trouxe o modelo de negócios para o Brasil. Isso aconteceu para atender a legislação brasileira, que é diferente da americana, e também para se adaptar a algumas especificidades da cultura empresarial do País. “Nesse processo, tive ajuda de mentores com vasta experiência em negócios digitais e também no segmento varejista”, conta.
A constituição da equipe foi feita baseada nos pilares principais da empresa. Rafael buscou os melhores talentos disponíveis para cada um deles: marketing, comercial e TI. “Fiquei responsável pela Estratégia e a parte Financeira da empresa”, explica. Após alguns meses, foram procurados por alguns investidores anjos, que são pessoas físicas que investem em empresas nascentes com alto potencial de crescimento, ou seja, as startups. “Atualmente, há sócios investidores que também nos apoiam na parte financeira e com os seus relacionamentos empresariais”, diz.
“Tenho formação como engenheiro mecatrônico e comecei minha carreira como executivo de multinacionais. Com uma vivência profissional, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA, sentia uma grande motivação para montar meu próprio negócio”. “Em 2006, criei a TOP Automação, uma empreiteira de automação industrial e atendi grandes clientes. Em 2012, encerrei as atividades dessa empresa e comecei a peregrinação em busca de negócios inovadores”, conta.
Ele chegou a assumir cargos da diretoria de Inovação na Confederação dos Jovens Empresários (Conaje), em Brasília, e foi eleito para a diretoria da Associação Nacional das Empresas Inovadoras (Anpei), em 2013. Nesse contexto, montou a XporY.com em 2014. “Estamos desde então apresentando esse novo conceito para o mercado”, diz.
Para Rafael, o mercado goiano não é um dos mais inovadores no Brasil, por existir um ecossistema empresarial ainda muito conservador. “Mas isso está mudando nos últimos anos e espero contribuir para essa mudança para o nosso Estado. Fui um dos responsáveis por trazer para o nosso Estado a Anjos do Brasil, que é uma associação com sede em São Paulo que reúne investidores anjos que se interessam em investir em startups”, ressalta.
Nesse sentido, a XporY tem notado uma boa aceitabilidade com os clientes que entendem o novo modelo de negócios. “Mas, de fato, ainda temos um grande desafio. Muitos empresários ainda não sabem que existe essa forma de negociação dos seus produtos e serviços. Não é trivial para as pessoas entenderem que elas podem adquirir o que elas precisam sem necessitar de dinheiro e sim apenas disponibilizando seu produto ou serviço”.
“É muito comum para as pessoas entenderem que elas têm que vender seus produtos/serviços, receber em dinheiro e, aí sim, pagar suas contas e adquirir o que necessita. Nossa estratégia é similar, mas com uma diferença sutil. Na XporY.com, o empresário oferta seu produto ou serviço, recebe em X$, que é a moeda do site, e já adquire o que precisa no próprio site da XporY.com”, explica Rafael. Dessa forma, a XporY.com é ao mesmo tempo uma vitrine de venda, uma central de compra e uma bankline para o cliente da XporY.com.
Burlando a crise
Para o empresário, a XporY.com ajuda seus clientes a comprar e vender, e isso tem um impacto direto para tirar aquele profissional ou aquela empresa da crise. Vários dos clientes estavam ociosos antes de entrarem na plataforma, não tinham renda para comprar o que precisavam. “Com a entrada na XporY.com, eles conseguiram ter mais clientes, encheram suas agendas e já conseguiram ter renda para comprar o que precisavam na rede. Isso tudo sem transacionar em R$”, avalia. “A plataforma pega a ociosidade das empresas/profissionais liberais e monetiza isso de uma forma inteligente, evitando o desperdício de tempo e ineficiência. Eis o grande valor entregue aos clientes da XporY.com”.