Esperança no tratamento para AME
Redação DM
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 01:21 | Atualizado há 6 meses
Edivânia Matos Gonçalves, 30 anos, é portadora da doença Atrofia Muscular Espinhal (AME), do tipo 3. Considerada uma doença genética rara e severa, já existem cerca de 10 mil casos confirmados no Brasil. A possibilidade de tratar esse problema é recente e traz esperança às famílias que com ele convivem.
A doença ainda não tem cura, mas há dois anos foi desenvolvido um medicamento que pode mudar a história dos pacientes. Em dezembro de 2015 foi lançado o Spinraza, um medicamento que inibe a progressão da AME, além de proporcionar qualidade de vida aos portadores da doença. Inicialmente, foi disponibilizado para tratar os casos tipo 1, e depois, gradativamente, liberado para outros pacientes dos tipos 2 e 3.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a comercialização do medicamento em agosto do ano passado. O processo de registro do medicamento recebeu prioridade de análise, assim que foi protocolado junto à Anvisa, com imediato da avaliação, tanto da documentação referente à comprovação de segurança e eficácia, quanto do dossiê de tecnologia farmacêutica.
No entanto, o medicamento ainda não está disponível na rede pública no Brasil, e os pacientes lutam diariamente em busca de recursos e ações judiciais para conseguir dar início ao tratamento. Para comprar o Spinraza, os portadores da AME devem desembolsar 3 milhões de reais, o que está fora da realidade para muitas pessoas.
Portanto, ter a oportunidade de iniciar o tratamento o quanto antes é a luta diária de Edivânia, que tenta de várias formas ter acesso ao medicamento. Através da realização de bazares e rifas, ela tenta levantar algum dinheiro para ter acesso ao tratamento. Ela também já começou a organizar os documentos necessários para abrir uma ação judicial. “A atrofia é progressiva, a minha é mais leve, mas vai progredindo, vou perdendo a cada dia minhas forças, é uma correria contra o tempo. Com o medicamento posso ter qualidade de vida. Estamos lutando por direito a vida”, diz.
De acordo com Edivânia, o alto custo do tratamento tem dificultado o acesso através do Sistema Único de Saúde (SUS), pois o governo, além de arcar com a medicação, também precisa custear a fisioterapia, os aparelhos necessários e a cirurgia para aplicar o medicamento na medula do paciente. Alguns pacientes que conquistaram o direito ao remédio gratuito, via ação judicial, ainda não tiveram acesso ao medicamento.
Ela relata ainda que alguns portadores da AME, que possuem dupla nacionalidade, buscam outras alternativas, como ir a outros países que já possuem o tratamento custeado pelo governo. Os pacientes que já deram início ao uso da medicação vêm mostrando resultados positivos, até mesmo voltam a andar. “A meta é conscientizar o governo da importância do medicamento, pois uma vez iniciado não pode ser interrompido, o medicamento não foi criado para curar, só estabilizar”, relata Edivânia.
O diagnóstico da AME vem por meio de exames neurológicos e molecular, que identificam a mutação do gene SMN1. O tratamento é de suporte, com cuidados respiratórios, nutricionais, ortopédicos e fisioterapêuticos. Em fases avançadas da doença, o paciente perde a capacidade de mastigar e deglutir, sendo necessário o uso de sonda para poder alimentar, assim como do uso de aparelhos para poder respirar. Edivânia faz fisioterapia de manutenção duas vezes por semana, no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr Henrique Santillo (Crer) e, segundo ela, esse tipo de tratamento serve para aprender a conviver com a doença. “A cada dia vou perdendo as forças, vou atrofiando”.
São vários desafios: mãe, dona do lar e portadora da AME, tem várias atribuições e precisa abrir mão de muitas coisas em prol da sua saúde, como por exemplo, momentos de lazer que não é viável devido à falta de acessibilidade em Goiânia. “A renda não comporta momentos de lazer, a falta de acessibilidade faz com que tudo fique caro, tenho que optar pela minha saúde”.
DESCOBERTA
A mãe de Edivânia sempre desconfiou da fraqueza da filha e a levou ao médico. Com 7 anos, começou a evoluir uma escoliose. No entanto, sem saber que era portadora da AME, queriam operá-la na época, até que então foi orientada a fazer um exame de DNA, e com 8 anos descobriu a doença.
Aos 13 anos, foi perdendo as forças e já não conseguia mais andar e então começou a utilizar uma cadeira de rodas, que para portadores de AME deve ser a motorizada. Os médicos chegaram a dizer que ela só iria sobreviver até os 12 anos. Até os 20 anos ainda conseguia ficar em pé, mas hoje tem dificuldade de fazer coisas simples, como amarrar um cabelo. “Eu sou consciente, com 8 anos a geneticista falou para mim que eu ia perder minhas forças e ia para cadeira de rodas, que eu poderia ter uma vida normal e de acordo com as minhas limitações, eu sempre fui consciente”.
Mesmo com a evolução da doença que vem fazendo com que Edivânia perca as forças do corpo, ela busca maneiras de viver bem. Segundo ela, algumas pessoas entram em depressão. Em vista de outras pessoas, ela considera o seu caso simples e o segredo para ser feliz é não desanimar. “Não adianta chorar, questionar Deus, jamais, não adianta, tem que correr atrás das possibilidades, ser forte”.
Em meio a tantas dificuldades e limitações, Edivânia teve que buscar mais forças para cuidar de sua filha, na época com 4 anos, que foi diagnosticada com leucemia. Foram 4 anos de luta e finalmente, em janeiro deste ano, sua filha estava curada. “Houve a cura da minha filha e agora é a hora de cuidar de mim”. Edivânia e todos os portadores da AME comemoram a conquista de um medicamento para tratar a doença, e agora o próximo passo é ter acesso ao remédio e ter uma vida melhor e apostam ainda que a medicina um dia possa trazer a cura definitiva.
Doações para a Edivânia, entrar em contato através do número: 62 9 9120-3785