Cotidiano

Gasto com previdência é cinco vezes maior do que aplicado em educação em Goiânia

Redação DM

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 01:36 | Atualizado há 7 anos

Nos primeiros seis meses deste ano, os gastos da Prefeitura de Goiânia com previdência social foram 5,5 vezes maiores do que o aplicado em edu­cação. Levantamento realizado en­tre janeiro e junho mostra que a ad­ministração municipal aportou R$ 187.444.812,00 para o pagamento de pensões e aposentadorias de 8.853 servidores públicos. No mes­mo período, foram aplicados R$ 33,8 milhões na área educacional.

Ao se comparar com o valor aplicado em saúde, no mesmo período, o déficit da previdência tem uma fatia 4,7 vezes maior de recursos públicos. No mesmo pe­ríodo, os gastos com saúde realiza­dos apenas com os recursos muni­cipais chegaram a R$ 39,6 milhões.

O impacto da Previdência Social nas contas do município tem invia­bilizado investimentos em obras e serviços na cidade. Entre janeiro e junho, a prefeitura retirou, em mé­dia, R$ 31,2 milhões por mês para cobrir o déficit previdenciário. Por ano, esse déficit tem consumido um valor equivalente a 100% do arreca­dado com o Imposto Predial Terri­torial Urbano (IPTU). Ou seja, todos os moradores de Goiânia pagam uma dívida previdenciária histórica que tem afetado fortemente a eco­nomia da cidade e nada do que é ar­recadado com o imposto está sendo aplicado em obras, saúde, educa­ção e serviços para melhorar a qua­lidade de vida de toda a população.

Em 2017, a administração mu­nicipal arrecadou R$ 453,3 milhões com o IPTU e gastou R$ 455,6 mi­lhões com o pagamento da previ­dência social. A previsão para este ano de 2018 é de que os gastos che­guem a mais de R$ 500 milhões e supere novamente o valor arreca­dado com o imposto predial.

Para quitar essa dívida históri­ca, a Prefeitura de Goiânia apre­sentou um projeto de lei à Câmara de Vereadores. Com a proposta, a administração municipal quer ce­der áreas públicas e crédito rece­bido da dívida ativa do município ao Instituto de Previdência Social do Município (IPSM).

Com essa medida, que segue as normas da Secretaria Nacional de Previdência Social, Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a administração municipal pagaria a dívida histórica, garantin­do mais segurança aos servidores públicos, que deixariam de depen­der o tesouro municipal para rece­ber seus benefícios e, ao mesmo tempo, destinaria os valores arre­cadados em impostos para a exe­cução de serviços e obras para be­neficiar toda a cidade.

O atual déficit atuarial é de R$ 17,8 bilhões e foi gerado porque, no período entre 1984 e 2002, os servi­dores públicos municipais e os en­tes patronais não efetuaram o paga­mento de alíquota de contribuição previdenciária. Isso ocorreu porque não existia legislação específica re­gulamentando o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS).

O Projeto de Lei de Moderniza­ção da Previdência Social de Goiâ­nia, que está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Estado de Goiás eTribunal de Contas dos Municípios, tem como objetivo ga­rantir a sustentabilidade dos benefí­cios para as próximas décadas e im­plantar novos sistemas de controle e transparência. A proposta, que está em análise na Câmara Municipal de Goiânia, prevê o pagamento do déficit previdenciário histórico que está avaliado em R$ 17,8 bilhões a partir da cessão de áreas públicas em regiões nobres e de valores re­cebidos da dívida ativa.

Com a aprovação do Projeto de Lei de Modernização da Pre­vidência, a cidade deixaria de ter um regime previdenciário defici­tário para ter o de maior superávit no País, equalizaria as suas con­tas mensais e passaria a cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao pagar a dívida histórica, a pre­feitura vai garantir mais seguran­ça aos servidores públicos, que deixariam de depender o tesou­ro municipal para receber seus benefícios e, ao mesmo tempo, beneficiaria todos os moradores de Goiânia que teriam os recur­sos pagos em impostos destina­dos para a execução de serviços e obras pela cidade.

Para o prefeito Iris Rezende, o momento exige sensibilidade e sensatez para que a cidade não seja ainda mais penalizada com a crise financeira. “Temos um déficit his­tórico, que nunca foi discutido se­riamente. Agora, queremos pagar esse déficit para garantir investi­mentos para a cidade e seguran­ça para todos os nossos servido­res. Quem garante que no futuro a Prefeitura terá recursos para pagar as aposentadorias? A arrecadação diminuiu a cada ano e as despesas só aumentam. É uma conta que não bate e nós devemos tratar essa questão com seriedade. É a vida de muita gente que está em risco. Sem dinheiro, a prefeitura não conse­gue pagar nem os aposentados e nem melhorar a vida dos cidadãos”.

 

 Órgãos de controle cobram melhorias na previdência

A nova legislação proposta pela Prefeitura de Goiânia também tem como proposta a modernização dos processos de gestão do Insti­tuto de Previdência Social (IPSM), além de garantir a sustentabilida­de das aposentadorias. O projeto de lei é resultado de um ano de tra­balho e estudos técnicos, que ma­pearam a atual situação do sistema previdenciário que está deficitário e com vários indícios de erros admi­nistrativos, omissões ou fraudes no pagamento de benefícios.

Atualmente, os dados previden­ciários de Goiânia apresentam fa­lhas e inconsistências, a adminis­tração pública não conhece o perfil e o número dos servidores aposen­tados na esfera executiva e legisla­tiva. A análise da conformidade de uma amostra de processos de apo­sentadorias apresentou um grande conjunto de erros, um dos exem­plos é um elevado número de apo­sentadorias por invalidez e não ha­ver a revisão periódica.

A situação crítica da previdên­cia municipal fez com o que o Ministério Público de Goiás (MP­-GO) expedisse uma recomenda­ção para a prefeitura de Goiânia, reestruturar o Instituto dePrevi­dência dos Servidores Municipais de Goiânia (IPSM). Foram elenca­das 14 medidas pontuais. O Tri­bunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) e a Secretaria Nacional de Políti­cas de Previdência, vinculada ao Ministério da Fazenda, também emitiram comunicados oficiais ao IPSM e à Prefeitura de Goiânia sobre a necessidade urgente de ajustes no sistema previdenciário.

Segundo o promotor de justi­ça, Fernando Krebs, a iniciativa da Prefeitura de propor uma legisla­ção para equilibrar o déficit pre­videnciário é positiva. Ele afirmou que a proposta da Prefeitura pare­ce muito boa e é diferente da do go­verno do Estado de Goiás porque o município se propõe a aportar o fundo que é deficitário para que a previdência seja auto-suficiente.

No dia 17 de abril deste ano, o promotor recomendou a reestru­turação do Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Goiâ­nia (IPSM), com a adoção de 14 me­didas pontuais. O prefeito foi orien­tado a tornar o instituto o único gestor do Regime Próprio de Previ­dência Social (RPPS) do Município, conforme exigido pela Constituição, devendo ainda criar uma junta mé­dica previdenciária oficial e uma controladoria interna. A implan­tação destas medidas depende da aprovação do projeto de lei, que está em análise na Câmara Municipal.

O gestor terá que designar so­mente procuradores do municí­pio concursados para a advocacia setorial do órgão e também deter­minar a revisão imediata de todas as aposentadorias por invalidez do RPPS e recadastrar todos os servi­dores ativos, aposentados e pen­sionistas do instituto.

Entre as medidas sugeridas es­tão a transformação do Conselho Municipal de Assistência Previden­ciária do instituto no órgão gestor máximo do regime e a criação de quadro e carreira de servidores pró­prios, a fusão de alguns fundos, e outras providências relativas ao aporte de imóveis e transferências.

Krebs esclareceu que, assim que tomou conhecimento das irregu­laridades existentes na autarquia, tais como o descumprimento de lei federal, falta de transparência, inadequação e desatualização da sua base cadastral, atestadas pelo TCM, instaurou inquérito civil para acompanhar o cumprimento das recomendações da Corte de Con­tas. Ele acrescentou ainda que ou­tras falhas foram detectadas e que merecem a atenção dos órgãos fis­calizadores e que foram elencadas na recomendação do MP.

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