Cotidiano

Goiás aumenta 97,34% número de homicídios em dez anos

Redação DM

Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 00:42 | Atualizado há 8 anos

No domingo, 22, um pai desesperado procurava juntar partes do corpo do filho morto, em Luziânia. O jovem Oseias Barbosa de Brito, 29, foi decapitado. Pais, tios e primos começaram a procurar nas ruas da cidade do Entorno do Distrito Federal a cabeça, já que o restante estava sob o poder do Estado. Oseias é o 17º homicídio em Luziânia desde o início do ano.  Na mesma época, explica o delegado Maurício Passerini, no ano passado, foram dez. O aumento de homicídios não ocorre apenas na região metropolitana do Distrito Federal. É, ao contrário, uniforme, na maioria das regiões do Estado.

A morte de Oseias ainda não foi pesquisada. Mas em breve será estatística e traços em gráficos e estudos qualitativos e quantitativos sobre a violência que não cessa no Brasil e, claro, em Goiás.

Um conjunto de pesquisas em violência realizadas nos últimos meses mostra que Goiás está no epicentro de uma barbárie: o Estado aumentou em 97,34% o número de homicídios em um comparativo entre 2005 e 2015. A variação coloca Goiás ao lado dos Estados mais violentos do Brasil, caso do Ceará, Maranhão e Amazonas.

E os crimes costumam ser chocantes – com decapitações, linchamentos, torturas e brutalidades indescritíveis. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que publica anualmente um estudo com dados quantitativos, existe nova configuração da criminalidade nos Estados mais violentos do País: os centros urbanos não estão mais sozinhos na proliferação da criminalidade. Municípios do interior também passaram a contribuir consideravelmente com o quantitativo de homicídios, caso do Entorno do Distrito Federal e Região Metropolitana de Goiânia.

Pesquisas qualitativas revelam também o aumento de violência escolar, conjugal, abusos contra adolescentes e crianças.  Os estudos publicados no âmbito das universidades federais e promovidos por entidades setoriais – caso do “Mapa da Violência” e “Fórum Brasileiro de Segurança Pública” – indicam que a falta de investimentos em contratação de policiais e políticas sociais são os motivadores para o incremento dos dados.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016 mostra que o Estado apresentou um aumento nos números de vítimas absolutas nos homicídios dolosos ocorridos entre 2014 e 2015: o Estado apresentou 2.580 mortes em 2014, frente a 2.651 ocorridas no ano seguinte.

Em termos de taxas, é quase o dobro de homicídios ocorridos, por exemplo, no Distrito Federal, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Apesar do acumulado, a partir dos dados computados pelo anuário, é possível perceber que ocorreu em Goiás redução de mortes no trânsito e latrocínios.  Mas aumentaram crimes não letais contra o patrimônio, suicídios e mortes a esclarecer – um dos índices mais altos do Brasil, com 1.887 casos. Este último quesito, inclusive, aumentaria consideravelmente os índices de homicídios caso parcela dele for computada aos 2.651 identificados como homicídios intencionais.

MOTIVOS

Um dos motivadores da violência – não o único e talvez sequer o mais importante – é o investimento no setor. Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os “Estados continuam sendo os principais financiadores das políticas de segurança, mas, proporcionalmente, vale notar que os municípios são os entes que mais cresceram seus gastos na área, com quase 400% de incremento. A União, por sua vez, mesmo tendo crescido seus gastos na função segurança público, o fez por aumento das despesas com as polícias Federal e Rodoviária Federal”. Ou seja, a União, que deveria atuar de forma sistemática, já que tem responsabilidade por proteger as fronteiras, não participa diretamente desta guerra. Apesar da Constituição Federal atribuir aos Estados a missão, questiona-se na atualidade o silêncio institucional do governo federal diante do horror.

Recentemente, o governador de Goiás, Marconi Perillo, se posicionou favorável à federalização dos presídios – outro problema motivado pela falta de investimentos na área. Um dos exemplos desta falta de recursos que atrapalha as políticas de segurança pública estaduais pode ser observado na diferença do quantitativo de PM’s em Goiás e no Distrito Federal, que é financiado pelo governo federal. Enquanto Goiás tinha 11.950 PMs em 2014, no DF, o quantitativo era de 14.350. O índice garante um policial para 538 goianos, enquanto no DF este parâmetro é de um policial para 194.

A situação é quase quatro vezes pior se comparados os efetivos da Polícia Civil. Enquanto no Distrito Federal existe um policial para 608 habitantes, em Goiás a diferença é de um policial para 2.117 populares.

Problema motiva estudos

Universidade Federal de Goiás (UFG), núcleos de pesquisa de violência e ONGs, como A Paz que Eu Quero, têm divulgado inúmeras pesquisas referentes à violência praticada em Goiás. As pesquisas ultrapassam as questões quantitativas e despertam novos temas e questões nunca antes estudadas.

Os estudos são fartos e elaborados em nível de mestrado, doutorado e pesquisas científicas específicas e dedicadas, que começam a se espalhar nas revistas acadêmicas e seminários. Estudiosos de direito, sociologia, comunicação, direitos humanos, geografia, estatística e ciências da saúde procuram formatar inúmeras abordagens tendo em vista o incremento das violências.

Exemplos de pesquisas não faltam, com predileção para a temática do homicídio e das demais violências físicas. “Violência escolar e formação de professores: Estudo em escola pública de Goiânia”, de Leia Oliveira; “Reescrever minha história, virar a página, seguir em frente: trajetórias de mulheres pós-situações de violência”, de Érika Borges; “Significados de violência na infância por profissionais da Estratégia Saúde da Família”, de Prisicila França  Zanelatto; “Violência Conjugal no  Âmbito Doméstico: as vozes de mulheres que romperam com a agressão”, de Elza Gomes Finotti; “Criminalidade em Goiânia: mapeamento dos crimes contra a pessoa nos contextos sociais de 2010 a 2014”, de Ivanilton José de Oliveira; “Avaliação da qualidade de vida dos servidores da segurança pública do estado de Goiás”, de Tereza Ikegmai, dentre outros, tratam de aspectos referentes ao aumento considerável da criminalidade que ocorreu nas duas últimas décadas.

 

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