Goldman Sachs adverte: “Lava Jato quebrou o Brasil”
Diário da Manhã
Publicado em 22 de novembro de 2016 às 01:15 | Atualizado há 8 anosA Operação Lava Jato quebrou o Brasil. Calma, o diagnóstico não é de nenhum ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT) e sim do economista e presidente do Goldman Sachs Brasil, Paulo Leme. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Leme revela que empreiteiras destruídas pela Lava Jato financiavam metade dos investimentos no Brasil. Sendo mais claro, quase desenhando, Leme afirma: “metade do investimento do Brasil vem desse núcleo Petrobras–empresas de engenharia”, frisa.
E quais foram as empresas atacadas pela Operação Lava Jato? Justamente a Petrobras e todas as empreiteiras e empresas de engenharia e a indústria naval que fornecem (ou forneciam) equipamentos e serviços para a estatal.
Na entrevista, o economista do Goldman Sachs Brasil alerta que o endividamento alto das empresas é um dos fatores que dificultam retomada do crescimento. Desde 2014, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff os procuradores ligadados à Operação Lava Jato, juntamente com auditores do Tribunal de Contas da União, têm sido contrários ao acordo de leniência entre União e empreiteiras investigadas. Este acordo permitiria que as empresas devolvessem recursos aos cofres públicos e continuassem operando. Mas, como não sai acordo, as empresas simplesmente demitem, paralisam negócios e a economia e os trabalhadores pagam o preço.
E é sobre este impasse que Paulo Leme se debruça na entrevista ao Estadão: “Você precisa atuar em três grandes áreas. Primeiro, evitar a deterioração do que já está ruim. Estou falando do complexo óleo e gás, do setor de energia, da parte que está envolvida na Lava Jato. Isso é muito importante. Quando a gente olha, na economia brasileira, 50 anos de formação bruta de capital fixo (indicador que mede a capacidade produtiva), vê que metade vem de empreiteiras, vem do setor da construção. É preciso uma coordenação entre a área econômica e a jurídica do governo para resolver o problema dessas empresas”.
Paulo Leme afirma que sem o investimento do setor privado a economia brasileira não retoma o crescimento. Ele diz que o quadro atual não permite a recuperação do consumo privado. “As famílias têm de se ajustar, porque estão muito endividadas, o salário real está caindo e o desemprego, aumentando. Espero que o governo esteja se ajustando, então, não é com despesa do governo que o crescimento virá. As exportações já tiveram um ajuste importante, crescimento de 6% em volume, e as importações continuam caindo em termos de volume. Mas o setor externo tem participação pequena como porcentagem do PIB. Para sairmos de um PIB de -3,5% para um de 0,5% ou 1%, precisamos de taxas de investimento privado com alta de 15% a 20%. Mas as condições financeiras das empresas estão em outro ciclo”, frisa.
O economista salienta, mais uma vez, que enquanto não for equacionada a dívida das empresas, a economia vai continuar em queda livre: (as empresas) estão sobre-endividadas. A dívida corporativa brasileira chega a R$ 3,6 trilhões – 22% maior que toda a dívida doméstica e externa do Tesouro Nacional”, analisa.
Ex-ministro da Justiça, o sub-procurador da República, Eugênio Aragão, também critica a ação dos procuradores de Curiba: “A Lava Jato se gaba de ter trazido para o País cerca de R$ 2 bilhões supostamente usurpados. Mas o que dizer da quebradeira da indústria naval e do desemprego na construção civil? O pré-sal alavancou a indústria naval e veio a investigação e acabou com tudo. Apenas a Odebrecht demitiu cerca de 50 mil trabalhadores. No ramo da construção civil foram 150 mil empregos riscados no total. Como estimar esse prejuízo? Isso aí é bem mais do que R$ 2 bilhões”, argumenta o procurador.
Colaborando com a análise de Paulo Leme e a avaliação de Eugênio Aragão, manchete do jornal Valor Econômico em outubro também culpou a Lava Jato pela onda de desemprego. Em levantamento feito pelo jornal, em seis municípios que figuram no topo do ranking do desemprego, como Maragogipe, na Bahia, Altamira, no Pará, e Ipojuca, em Pernambuco, o fim de grandes obras de construção deixou um expressivo contingente de vagas suprimidas na construção civil. A reportagem destacou também Itaboraí, no Rio de Janeiro, que encerrou o ano com saldo negativo de 15,3 mil vagas, 36,8% do total de dezembro de 2014, por conta da paralisação das obras do polo petroquímico do Comperj.
A crítica à condução da Operação Lava Jato e seus males a economia brasileira também é compartilhada pelo Ipea – Instituto de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O diretor do Ipea, André Calixtre, confirma a opinião do economista do Goldman Sachs de que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, é a origem da crise de emprego no País.
“A crise do emprego começa com a desorganização da cadeia de petróleo e gás, que tem impacto muito importante sobre a construção civil. O emprego na construção civil cai 6%. É ali que começou o processo”, afirmou Calixtre.
Segundo ele, a Operação Lava Jato teve assim um custo social para os brasileiros, ainda que essa não tenha sido a intenção da operação, que investiga um grande esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. “Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto”, disse o diretor do Ipea em entrevista à Folha.