Cotidiano

Impasse na saída de Teerã de jornalista lembra cena de filme

Redação DM

Publicado em 17 de janeiro de 2016 às 23:05 | Atualizado há 10 anos

WASHINGTON — As últimas horas do jornalista do Jason Rezaian, libertado pelo Irã no sábado em uma troca de presos com os EUA, lembrou cenas do filme “Argo”. Segundo o “Washington Post”, jornal para o qual ele trabalhava, as autoridades iranianas disseram para a mulher dele, a fotógrafa iraniana Yeganeh Salehi, e sua mãe, Mary Rezaiana, que não não poderiam embarcar com ele de Teerã. Assim, logo depois de os jornais começarem a soltar as informações sobre a libertação, as duas foram ao aeroporto da capital e ficaram isoladas e incomunicáveis enquanto o esperavam de longe, para ver se ele de fato tinha sido solto.

O que elas não sabiam é que o acordo da troca de presos incluía a ida delas na aeronave. Enquanto as autoridades buscavam as mulheres, pois Rezaian disse que não embarcaria sem a mulher, o impasse mobilizou esforços diplomáticos dois dois países, levando inclusivo o secretário de Estado americano, John Kerry a telefonar com urgência ao chanceler Javad Zarif. Só 12 horas depois do previsto, o avião com o jornalista, as duas e outros dois prisioneiros – o ex-fuzileiro naval Amir Hekmati e o pastor Saeed Abedini – finalmente decolou com destino à Suíça.

— Os iranianos, assim como fizeram durante todo o processo, continuaram manipulando eles e tentando impedir Yegi (a mulher) de viajar — disse o irmão de Jason, Ali Rezaian. — Mas graças aos suíços e aos americano, ela pode embarcar com ele.

Em Genebra, um enviado especial do governo americano tirou uma foto de Rezaia, a única divulgada até agora, e publicou no Twitter. Logo em seguida, eles entraram em outro avião para a Alemanha. No momento, os três presos passam por exames médicos no hospital militar na cidade de Landstuhl, perto da base de Ramstein. Ainda não está claro quanto tempo eles vão passar em solo alemão, nem quando vão retornar aos EUA. Um quinto americano, Matthew Trevithick, foi libertado em um processo distinto, segundo um funcionário do governo, e chegou na sua casa em Boston no domingo à noite.

Mesmo em liberdade Rezaian ainda não consegui ver o irmã, que foi para a Alemanha assim que soube do iminente acordo. Mas já falou por telefone com seus editores no “Washington Post“, que contaram a conversa:

— Jason está com um bom ânimo — disseram o editor executivo Martin Baron e o editor internacional Douglas Jehl. — Nos dissemos que havíamos falado sobre ele por 545 dias (quando esteve preso).— Perguntado como ele estava passando, ele disse: “Estou muito melhor do que nas últimas 48 horas”.

O reencontro entre o jornalista e os editores está previsto para ocorrer nesta terça-feira.

A família de Rezaian relatou que a saúde dele havia piorado na prisão, onde ele perdeu peso e estava sofrendo de pressão alta. Segundo os relatos, ele passou meses isolados sem acesso a advogados. O WP também disse que ele foi submetido a maus-tratos físicos e abuso psicológico antes de ser condenado por espionagem.

— Ele encontrou fuga nas ficções que era autorizado a ler, e hoje ele estaba lendo de forma voraz o que quisesse, comentando o quão estranho era ver que tinha virado assunto — disseram o editor executivo Martin Baron e o editor internacional Douglas Jehl. — Nos dissemos que havíamos falado sobre ele por 545 dias (quando esteve preso).

Desde a prisão de Jason, em 22 de julho de 2014, o Washington Post disse que ele estava sendo mantido refém por causa das negociações para o acordo nuclear, finalmente implementado neste sábado. Após a Agência Internacional de Energia Atômica constatar que o governo iraniano cumpriu as obrigações previstas no documento, as sanções dos EUA, ONU e UE contra o país foram levantadas.

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