Intercom fala sobre programas de TV e rádio que violaram a Constituição Federal
Redação DM
Publicado em 18 de maio de 2016 às 16:20 | Atualizado há 9 anos
O impacto negativo das produções “policialescas” sobre a imprensa e a sociedade brasileiras será tratado na conferência da jornalista Suzana Varjão, na abertura do Intercom Centro-Oeste, em 19 de maio, a partir das 9h. Gerente do Grupo de Qualificação de Mídia da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) – Comunicação e Direitos, Suzana apresentará dados inéditos da pesquisa para contribuir com o debate sobre responsabilidade social no campo da comunicação de massa, promovido pelo Intercom. “Esperamos que este importante fórum amplie e fortaleça o debate, na perspectiva de defesa da instituição imprensa, do sistema democrático, da sociedade brasileira e do horizonte humanista”, afirma.
Segundo a jornalista, a imprensa ainda é uma das instituições mais respeitadas do país, porém, essa credibilidade vem sendo arranhada por algumas produções midiáticas “que operam em nome do jornalismo, mas o fazem completamente dissociadas dos parâmetros técnicos e éticos que sempre nortearam o exercício do jornalismo, combatendo-os”, explica. Suzana acrescenta que isso ocorre, entre outros fatores, pela falta de mecanismos adequados à fiscalização da comunicação de massa.
Como exemplo, a jornalista cita o programa “Cidade Alerta”, da Rede Record, que, de acordo com a pesquisa, em um pequeno espaço geográfico (Grande São Paulo) e de tempo (um pico de audiência de 11.4 pontos do IBOPE), atinge simultaneamente 2,3 milhões de pessoas. “Agora imagine mensagens justificando, legitimando ou estimulando diretamente os linchamentos, as execuções sumárias, a tortura, a violência policial, os grupos de extermínio, sendo disseminadas durante todo o dia, em todas, absolutamente todas as unidades da Federação. Essa “educação” midiática não pode fazer bem à sociedade”, avalia Suzana.
Para reverter esse quadro, a gerente do Grupo de Qualificação de Mídia da ANDI destaca que é importante promover um debate amplo e qualificado sobre as fronteiras que separam a imprensa de outros subcampos midiáticos. “Quando nos referimos à “mídia”, estamos nos referindo ao jornalismo, mas também ao entretenimento, à publicidade, à propaganda. Estamos falando de jornalistas, também de empresários de comunicação, agentes de Estado, publicitários, produtores. Estamos tratando de meios impressos, também de rádio, TV, cinema, internet, mídias sociais…”, ressalta.
Suzana faz um alerta aos profissionais do jornalismo. “Nós, jornalistas, precisamos recusar o tratamento em bloco que a sociedade em geral está nos dispensando, porque esse tratamento não tem beneficiado a instituição imprensa — essencial à consolidação da democracia.”
A coordenadora da Comissão de Organização do Intercom Centro-Oeste, professora Adriana Rodrigues Ferreira, avalia o debate como uma imprescindível contribuição à formação dos futuros profissionais de comunicação, bem como aos já atuantes, pois “reforça a urgente necessidade de alterar práticas de mercado que reduzem o cidadão a cifras de audiência, comprometendo o bem-estar coletivo.”
A Pesquisa
A ANDI é uma organização da sociedade civil, sem fins de lucro e apartidária, que articula ações inovadoras em mídia para o desenvolvimento. O “Programa de Monitoramento de Violações de Direitos na Mídia Brasileira” é uma ação da ANDI, de organizações da sociedade civil e do Estado brasileiro com o propósito de monitorar, expor e combater as violações de direitos e as infrações às normas nos programas policialescos.
Segundo Suzana Varjão, no âmbito do Programa, foi construída uma ferramenta inédita de pesquisa, registrada no livro “Violações de direitos na mídia brasileira — Guia de monitoramento” e empregada na investigação de 28 produções “policialescas” de rádio e TV de todas as regiões do País, no período de 2 a 30 de março de 2015. Os dados irão compor o volume III da publicação.
(Da Assessoria)