Cotidiano

Irmão de Jorel é mais massa!

Diário da Manhã

Publicado em 20 de dezembro de 2021 às 13:42 | Atualizado há 3 anos

Imagine ser tão insignificante a ponto de ninguém saber qual é o seu nome, perder uma excursão que queria muito ir porque o motorista do ônibus escolar achou uma falta de respeito tremenda chegar milésimos de segundos atrasado, ver a jornada heroica da mãe perseguindo a condução para colocar o filho nela e assistir o furdunço que levou uma emissora de televisão sensacionalista cobrir ‘jornalisticamente’ isso.

Estranho? Bom, se é ou não, tanto faz. É que assim vive o irmão do Jorel, personagem da série-hit de mesmo nome premiada com o badalado Quirino de Melhor Série de Animação Ibero-Amerciana, em 2019. De fato, um clássico da animação brasileira.

Sim, com o irmão do Jorel, um inocente garoto de oito anos, o mais simples do cotidiano se transforma em alucinantes aventuras. O personagem se tornou um estouro assim que entrou na grade do canal pago Cartoon Nertowork, em 2015, e o “Irmão do Jorel” ganhou o HQ “Livro Fenomenal do Irmão do Jorel”, lançado neste ano, além de a série animada se preparar, agora, para ser disponibilizada inteiramente na plataforma de streaming HBO Max, ganhando um curta inédito para a estreia.

“Irmão do Jorel”, vitrine da animação produzida no Brasil, versa sobre a vida de uma criança caçula de uma família presa aos anos 80. Amarrado à sombra do irmão celebridade, ele é condenado a enfrentar os primeiros obstáculos da vida num ritmo maluco, como se a existência desse menino jamais diminuísse a velocidade na qual anda pelo asfalto da vida. Sem diferenciar fantasia de realidade, o irmão do Jorel, cujo nome nunca saberemos, consegue descolar sua imagem do irmão famoso.

Até que essa emancipação se materialize, no entanto, o baile da vida segue. Ou melhor, pra ser mais apropriado, corre. E numa família, digamos, constituída por tipos caricatos e folclóricos, porém todos com algum charme que lhes deixam pessoas atrativas e onde está o motivo pelo qual gargalhamos. Vejam o caso do pai: Edson é um jornalista esquerdista preocupado com as questões sociais e valores humanitários que ele verbaliza em ocasiões como a que ocorreu em “Excursão Alucinante Sem Freio”, episódio da segunda temporada, em cena descrita na abertura desta reportagem.

Humor ácido e trejeitos autobiográficos, a animação foi inspirada na família e infância dividida entre Rio de Janeiro e Espírito Santo do ex-VJ da MTV, ator e quadrinista Juliano Enrico. No início dos anos 2000, época em que a internet estava engatinhando no Brasil, Juliano mantinha um fotoblog com a HQ que, poucos anos depois, foi responsável por batizar um dos maiores sucessos da animação brasileira surgida na última década, capaz de prender em frente à tela tanto adultos sedentos por risadas quanto crianças que se impressionam pelo delírio das aventuras do irmão de Jorel.

Segundo Juliano Enrico, o desenho do irmão do Jorel começou a ser desenvolvido em 2002 como uma história em quadrinhos. À época, o artista publicava tirinhas na revista “Quase”. Quatro anos depois, as HQ´s viraram uma coluna semanal no site da publicação. Em 2009, meio sem nenhuma pretensão, Juliano se inscreveu num concurso do Cartoon Newtwoork para produzir um piloto de série animada. O projeto, campeão, conquistou o prêmio de desenvolvimento no valor de 20 mil dólares.

Premissa
O criador parte de uma premissa bem simples, mas que é uma receita interessante: toda família, em essência, é um pouco parecida, com seus dramas, com suas excentricidades, com suas particularidades, com suas intrigas. Então, ir além do nosso universo pessoal situado no umbigo de quem cria pode ser uma receita de sucesso. Para Juliano, foi: era comum, por exemplo, ele parar nas ruas para dar entrevistas, dizer que o avô, ou a mãe, ou o pai, ou irmã, qualquer familiar, era de certo modo semelhante ao que ele tinha criado em suas histórias em quadrinhos.

No roteiro, muito inteligente e bem amarrado, é possível sacar referências a Michael Jackson, Gugu Liberato e ‘O Ele’ das Meninas Superpoderosas. Aparecem também diálogos com clássicos da cultura pop, como as músicas de Pink Floyd e o cinema doidão de Tim Burton. Há ainda uma mistura bastante sui generis entre Steven Seagal e Sidney Magal, mas o Juliano Enrico já tratou de alertar que essas citações são clichês que estão no inconsciente coletivo e são imediatamente associadas quando vistas.

Numa das cenas mais marcantes, em que se rememora os tempos de ditadura militar, onde direitos básicos eram cerceados, o pai do irmão do Jorel recorda-se como era os tempos de ator durante os anos de chumbo – esse tema é recorrente no enredo. Em quatro temporadas, a série animada faz referências a períodos da história brasileira, como no episódio em que irmão do Jorel escuta uma história sobre revolução e precisa passar um dia na escola sem estragar seu shot camuflado série especial Steve Magal.

Os atores – não confundir com dubladores, por favor – participaram da criação dos personagens, adicionando toques pessoais e improvisos que pouco a pouco foram contribuindo para a assinatura de cada um deles, como Lara, papel interpretado por Melissa Garcia, criança que tem voz fanha e parece resfriada. A do irmão do Jorel, por sua vez, foi um achado bem particular, porém mostra o clima que cercou a produção: o ilustrador Andrei Duarte, criador dos cenários do desenho, fazia gracinhas no estúdio. Assim, meio despretensiosamente, virou protagonista da série.

Ah, Jorel até que é legal: tem um cabelo maneiro e uma risadinha irônica. Mas o irmão dele é mais massa!

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