Israel diz aos goianos como economizar água
Redação DM
Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 01:18 | Atualizado há 6 meses
Parece um contra-senso, o Brasil receber lições de Israel como economizar água. Afinal, os brasileiros detêm 12% dos recursos hídricos do mundo. E os israelenses aparecem com ridículos 1.500 milhões de metros cúbicos. O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Sheley, ensinou ontem em Goiânia as práticas de consumo econômico desse bem precioso. Embora, o país tenha adotado tecnologia pioneira de remover o sal da água do mar tornando-a potável para o consumo doméstico, os judeus não permitem abuso. E a população também é conscientizada quanto a isso.
É o que demonstrou o diplomata que esteve visitando nas últimas 48 horas os municípios de Rio Verde e Jataí, no Sudoeste Goiano. “Queria conhecer aquilo que os brasileiros fazem com muita competência: a produção de grãos e carnes”, disse ao Diário da Manhã. Yossi Sheley conheceu instalações de irrigação de lavoura durante o percurso, acompanhado representantes do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag). Por sinal, é a sua segunda viagem ao Estado.
Em sua fala, no auditório da Federação da Agricultura, o embaixador judaico disse da importância da tecnologia, mas teceu considerações sobre o uso econômico da água. A palestra estava gerando muita expectativa em cima dos recursos hídricos. Aliás, o Brasil tem sofrido a questão na pele. A seca, bastante conhecida no Nordeste, nos últimos abalou São Paulo, com a Cantareira chegando ao limite e desgastando a imagem do próprio governo Geraldo Alckmin.
Em Goiás, o governador inaugurou um sistema de abastecimento moderno, mas a fonte secou ante as adversidades climáticas como a falta de chuva e também houve desgastes oficiais. Faltou água em álbuns bairros.
CRESCENTE ESCASSEZ
Segundo ele, tomando por base imagens do data-show apresentado, mais ou menos 15.400 litros de água são consumidos em média na formação de um quilo de carne; 499 litros para construir um carro; e 130 litros para cultivar um café.
Até 2050, conforme os prognósticos apresentados, 66% da população mundial tende a sofrer escassez de água. O Brasil detém 12% dos recursos hídricos, mas o déficit de água doce no consumo beira 40% da população. Em sua visão, a distribuição é desigual, revela sem nenhuma insinuação negativa aos governantes.
Sheley discorreu como Israel, um país das dimensões de Sergipe encravado no Oriente Médio, como superou as adversidades da falta d’água, tema aguardado com inusitada expectativa pela platéia. O embaixador israelense no Brasil tocou no calcanhar de Aquiles, expressão popular que significa o ponto fraco de alguém, quando observou que seu país é o primeiro do ranking mundial em investimento de pesquisa e desenvolvimento ou P&D. Com essa política, os cientistas deram a solução.
Entre as quais, o reabastecimento de parte da água consumida, o reaproveitamento das torrentes das chuvas, aproveitamento dos efluentes de esgotos tratados, reutilização de 85% da água, prevenção de eventuais perdas, irrigação por sistema de gotejo nas fazendas, e conscientização da sociedade. É comum campanhas nas escolas, nas rádios e emissoras de televisão sobre economia de água.
CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICA
E a grande virtude chegou com a dessalinização da água do mar. “Hoje, 70% do nosso consumo doméstico advém dessa descoberta”, aponta, deixando no ar que vale a pena investir em pesquisas. O país ter pouca água doce. No sul do Neguev, deserto ao sul de Israel, o índice pluviométrico chega a apenas 100 milímetros ao ano. E no norte, onde há o maior índice pluviométrico, este chega a 811 mm, quase metade do registrado em média no Estado de São Paulo. Para tanto, a nação desenvolveu uma tecnologia que já possibilita suprir a defasagem de 45% entre a água disponível e a que é consumida pelos israelenses.
Com estratégia, vinda basicamente da central responsável pela gestão da água, em todo o país, estabeleceu-se um preço relativamente alto para o consumo da água e a consciência de que cotas que forem ultrapassadas geram um custo para a família, dentro de uma cultura que evita o excesso. As crianças já são educadas nessa cultura e, muitas vezes, chegam a alertar os pais quanto ao consumo exagerado.
Além da tecnologia e de leis claras, Israel se baseia em quatro frentes para trabalhar com a água. Sempre contando com a integração entre empreendedores (em Israel são criadas 1,3 mil startups por ano), governo e universidades.
“Temos atuado para desenvolver e exportar cada vez mais conhecimento em tratamento e reuso de água; gestão inteligente para evitar desperdício; dessanilização, que passou a ser desenvolvida há pouco tempo, em 2004; e irrigação por gotejamento, porque tanto a falta quanto o excesso de água são prejudiciais para a agricultura”, conclui.
MISSÃO DE GOIÁS EM ISRAEL
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Goiás, Euclides Siqueira, articula com a Federação da Agricultura e com a Câmara de Comércio Exterior (Comex) uma missão comercial à Israel.
A missão terá com objetivo um contato mais estreito com a tradicional feira de agro, parceria na área de pesquisa e desenvolvimento, estabelecimento de pontes comerciais, uso econômico da água, energia solar, entre outras oportunidades.
Segundo Euclides Siqueira, cem empresários demonstraram interesse em participar da primeira delegação de empresários a Israel.