Cotidiano

Lado bom do Pokémon Go

Diário da Manhã

Publicado em 17 de agosto de 2016 às 02:39 | Atualizado há 4 meses

Duas semanas após o lançamento do Pokémon Go no Brasil, a polêmica cerca os jogadores e o próprio game, que têm sido alvo de polêmica. Apesar dos possíveis lados negativos, diversas histórias provam os benefícios que as aventuras para se tornar um mestre pokémon têm trazido a pessoas com transtornos psicológicos, sedentarismo e até mesmo para o aprendizado de crianças.

O jogo foi inspirado na série de animação japonesa que leva o nome de Pokémon. Os jogadores criam seu personagem e têm de caminhar para encontrar os monstrinhos espalhados pela cidade. Interligado pelo GPS do celular, de acordo com cada região, um tipo de pokémon é encontrado.

O analista do comportamento Nicolau Chaud explica que o jogo tem sido encarado de forma positiva com pacientes com depressão, autismo, transtornos de ansiedade, porque fazem parte de um perfil de pessoas que enxergam as relações sociais como ameaçadoras. “Pessoas com esses perfis, tendem a se esquivar de contextos sociais, por um histórico que esses contextos socais foram negativos. Então, quando uma pessoa depressiva recebe um convite para sair com amigos, ela pode ficar se perguntando sobre como se portar diante de outras pessoas, sobre o que conversar, como eles podem aceitar alguém assim e acabam recusando o convite, isso pode acontecer tanto com pessoas com transtornos de ansiedade e com autismo. Então é nesse ponto que eu acredito que entra os jogos como o pokémon, ele é um jogo que induz a interações sociais, mas de uma forma bem especificada, bem delimitada, o jogador que vai conversar com outro jogador não é como dois amigos em um bar, eles já vão ter um assunto delineado”, explica.

Os relatos de resultados positivos do jogo têm se espalhado pelas redes sociais, amigos que não se viam a anos se encontram para, juntos, se aventurarem pelas cidades atrás dos pokémons. Kelly Cristiny, 24 anos, tem transtorno boderline. Ela conta que quase não tinha disposição para sair de casa. “Eu passava muito tempo no meu quarto, depressiva, senti uma melhora depois de começar jogar Pokémon Go”, relata. A plataforma do jogo estimula para que os jogadores caminhem pela cidade atrás dos pokémons para que eles possam evoluir seus monstrinhos e subir de nível.

Além do estímulo para caminhadas, o jogo conta com formação de clãs, que faz o jogador interagir mais com outras pessoas. “Ultimamente eu tenho saído mais, inclusive caminhado bastante. Meu amigo que sofre de depressão também tem tido vários benefícios com o jogo, ele inclusive tem se relacionado com mais pessoas, interagindo bastante. Tem sido muito bom pra nós”, explica Kelly. Com o mapa do jogo sendo conectado com a cidade, algumas pessoas desconheciam diversos pontos turísticos da cidade. Em suas aventuras, Kelly conheceu um pouco mais da cidade. “Andei muito em Campinas, conheci a  praça da Matriz de Campinas, conheci um pouco mais do centro de Campinas também”, lembra.

Benefícios da caminhada

A caminhada é um exercício físico simples de ser praticado. Ela não exige habilidade, pode ser feita a qualquer hora do dia é barata, e por que não transformar esse exercício em algo divertido? Praticar caminhada pode trazer importantes benefícios para a nossa saúde, a melhora da circulação sanguínea é uma delas, durante o exercício, o fluxo de sangue aumenta, levando os vasos sanguíneos a se expandirem, fazendo com que a pressão diminua.

Phellipe Bezerra é personal trainer, ele explica outras vantagens da caminhada, que pode até mesmo afastar a depressão. “Não há restrição de idade, peso ou horário para fazer caminhada. Mas existem alguns cuidados para se tomar, como fazer alongamentos antes e depois do exercício, se hidratar, utilizar calçados confortáveis. Entre os privilégios da caminhada estão a melhora do pulmão, combate a osteoporose, aumento da sensação do bem-estar. A caminhada pode afastar os sintomas de depressão, pois o cérebro libera endorfina durante o processo, além de ajudar pessoas com problemas de insônia”, revela.

Abandonando o sedentarismo

O estudante Daniel Mota, de 18 anos, passou, durante anos, por problemas de insônia. Daniel contou que a maioria das noites ele passava em claro, depois que começou a caminhar atrás de pokémons, ele já sentiu a melhora na qualidade do sono. “Só conseguia dormir depois das 6 horas. Mesmo assim, tinha dia que eram 10 da manhã e eu já estava acordado, agoniado. Fora que eu engordei uns 18 quilos por causa do sedentarismo.” lembra o estudante.

Após as aventuras como treinador pokémon, Daniel passou a caminhar cerca de 3 quilômetros por dia, o que acabava deixando-o cansado, agora com o sono renovado, ele passou a dormir mais cedo. “Acabo me cansando muito fazendo as caminhadas. Agora estou indo dormir às 10 da noite e acordando às 6 da manhã. Tem uma semana que eu voltei a dormir direito”, revela.

O preparador físico Phellipe Bezerra explica que o exercício aeróbico moderado pode reduzir a ansiedade de pessoas que sofrem de insônia crônica e pode aumentar em cerca de uma hora o tempo do sono.

Interação social

O psicólogo diz ainda que o potencial do jogo no tratamento de doenças não está ligado apenas ao fato de fazer com que o paciente tenha mais prazer em sair de casa, para ele, a partir do momento em que o jogo tira alguém de casa e facilita o início de uma interação com outras pessoas, a relação tende a se expandir. “Esse contato que começa motivado pela caça dos pokémons, ele pode se expandir para outro tipo de relações. Essas pessoas podem fazer amizades, conhecer lugares diferentes, ter contato com lugares aos quais não estão acostumadas. Isso acaba extrapolando o contexto do pokémon” afirma.

Ele cita dois pontos importantes que fazem com que as interações sociais sejam fortalecidas, a primeira é o direcionamento, as pessoas se relacionam de uma forma que já é esperado delas, o que elas devem conversar, que tipo de informação devem trocar. E a recompensa, que é um reforçamento, que neste caso é a captura dos pokémons. Então em muitos casos quando uma pessoa é ansiosa, ela se expõe a uma interação social e aquilo não é gratificante para ela. No jogo, a gratificação é bem clara e divertida, que é a captura dos monstrinhos. “Ressaltando um pouco das recompensas dadas pelo jogo, uma forma de ver isso é como as pessoas relatam a perda de peso. Por exemplo, alguém que faz uma hora de esteira em uma academia, ao final da prática vai estar cansado e em poucas vezes satisfeitos. Já alguém que passa uma hora fazendo o mesmo exercício, mas faz isso caçando pokémons, qual delas vai ter um senso de gratificação melhor ao final do dia?”, conclui.

Autismo

Nicolau Chaud diz que o jogo já esta sendo utilizado formalmente para auxiliar no tratamento de crianças com autismo. Em grupo ou individualmente, as crianças com autismo são ensinadas a interagir com o jogo, que em si já possui um sistema de recompensas que faz com que as crianças se motivem a sair de casa e interagir com outras pessoas. “Isso já esta sendo de forma sistemática, e acredito que muito em breve teremos pesquisas científicas sendo publicadas mostrando resultados disso”, afirma.

Mesmo com os benefícios, o psicólogo alerta para que os resultados trazidos pelo jogo devem ser sempre acompanhados por um profissional da área. Ele já ouviu relatos de seus pacientes que confirmam processos prazerosos com o jogo. “Eu acredito que o processo da melhora dos pacientes que estão jogando o jogo se deve, também, ao fato que, antes, eles já passavam por tratamento com profissionais e já mostravam melhoras no comportamento com o processo terapêutico. O jogo não substitui o tratamento terapêutico, mas ele é uma motivação a mais para que as pessoas busquem alternativas formas do mundo aos quais elas estão presas, que é o mundo da psicopatologia”, ressalta Nicolau.

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