Leite é jogado fora por causa da greve
Diário da Manhã
Publicado em 26 de maio de 2018 às 01:29 | Atualizado há 7 anos
A greve dos caminhoneiros, que perdura desde o dia 21, está afetando todos os setores da sociedade. A greve dos caminhoneiros tem causado fortes reflexos em todo o País, como o desabastecimento nos postos de combustíveis, dificuldades de acesso nas principais rodovias e, sobretudo, no escoamento de frutas e hortaliças nas regiões produtoras até os centros consumidores.
Atacadistas da Ceasa, situada na Goiânia-Brasília, o maior centro de distribuição de alimentos do Centro-Oeste, relataram dificuldades em receber cargas de boa parte das frutas e hortaliças. Assim, receosos se os produtos chegariam ou não ao mercado, muitos produtores consultados pelo Cepea deixaram de colher até que a situação nas rodovias se normalize.
Segundo Josué Lopes Siqueira, da área de comercialização, a Ceasa está “quase parando”. Há falta de compradores oriundos em sua maioria dos estados do Tocantins, Mato Grosso, Pará e Maranhão. Os compradores que aparecem nas instalações do centro distribuidor são da grande Goiânia. Os preços mantêm-se estabilizados para algumas hortaliças e frutos, como o tomate, mas sofrem alta para a batata, por exemplo. De R$90,00 a caixa subiu para R$250, correspondente ao peso em quilo de R$ 1,80 para R$4,00.
Há uma ameaça clara de acabar o suprimento de combustível e o Brasil assistir a uma paralisia sem precedentes. Mas, por incrível que pareça, apesar dos apertos com a falta de combustível, a manifestação de diferentes segmentos sociais é favorável ao movimento. A justificativa é decorrente dos altos impostos diretos e indiretos nos produtos oferecidos no mercado. E os caminhoneiros sentem a pressão nos próprios bolsos. Cerca de 60% do frete que faz é para pagar o óleo diesel que seu caminhão consome.
No segmento da cadeia da pecuária, um dos pesos da economia de Goiás, o gado não chega aos frigoríficos e a carne não sai. A história se repete em praticamente todo o País. Sem saber quando será encerrada a paralisação, a maior parte das indústrias está fora das compras e o mercado de carnes está congelado. Os frigoríficos que estão ativos nas negociações compram as boiadas sem garantir a data de abate. Vale destacar que o volume de negócios é pouco representativo e, assim, não é possível estabelecer uma referência para as cotações.
As cotações presentes são referentes a quarta-feira, último dia com volume razoável de negócios. No mercado atacadista de carne bovina o cenário é o mesmo, sem referência. Para o curto prazo fica a expectativa de como será o desfecho da greve. Greve dos caminhoneiros deixa mercado do boi gordo sem referência no mercado.
O DRAMA EM GOIÁS
Presidente da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, dá razão ao movimento dos caminhoneiros. Reconhece que o segmento agropecuário “sofre as conseqüências”, mas acha inconcebível a alta carga tributária existente no Brasil. “Os produtores estão no mesmo barco”, observa. Segundo o dirigente classista, ao invés dos governos federal e estadual “cortarem despesas, eles aumentam”. José Mário não sabe estimar ainda os prejuízos no setor rural motivados pela greve dos caminhoneiros.
Na pecuária de corte, as indústrias mantêm seus estoques parados. Os produtos não chegam aos seus destinos. Na pecuária de leite, as vacas não participam da greve e continuam a produzir leite. Isto é, a ordenha é necessária. Caso contrário, tende a sofrer mastite e morrer. São matrizes leiteiras de alto padrão genético, originárias da Holanda, do Canadá ou dos Estados Unidos. Como o leite é impedido de transporte na atualidade às usinas de pasteurização, então, é jogado fora.
LEITE JOGADO FORA
Os produtores têm sentido na pele a paralisação dos caminhoneiros. Mas, a grita geral é na área de lácteos, onde os depoimentos de cada um extravasam os seus sentimentos. Não podendo manter o leite no úbere das matrizes, porque uma decisão dessas poderia provocar mastite e até a morte, o produto culmina por ser jogado fora. Pintos morrem porque falta ração.
“A coleta do leite parou hoje na região. O laticínio Italac paralisou a captação”. É o que diz um produtor de Santa Cruz de Goiás. Alguns laticínios pequenos ainda estão coletando a cada 48 horas. Os maiores já pararam. “Sou produtor. Produzimos 1500 litros/dia. Desde terça-feira o leite não é coletado e estamos jogando fora toda produção. Hoje os caminhoneiros estão no trevo da nossa cidade em frente uma cooperativa. Não conseguem sair com os insumos para fazendas”,relata um outro.
Produtor em Varjão, José Lindoso diz que “tudo está parado enquanto a novela dos caminhoneiros e governo não acaba o produtor de leite mais uma vez no prejuízo”. De Nerópolis, Sarmento Júnior confessa: “A última coleta foi feita na terça-feira, porém, o caminhão não conseguiu descarregar na fábrica e está parado até hoje na estrada. Não tenho mais espaço para armazenar e terei que jogar leite fora”.
“Aqui em Anápolis, o leite não foi coletado e tive que ceder para queijeiros próximos à propriedade. Os tanques estão cheios, pegaram um pouco”, diz outro que prefere o anonimato. “Não estão coletando na região de Varjão”, assinala outro produtor. “Ainda estamos jogando no esgoto toda a nossa produção. Somos aqui em Bela Vista de Goiás está tudo parado!”
Os depoimentos se multiplicam. Shefa Campineira, também ressalta que não está mais tendo condições de fazer a coleta. “Tudo parado”. “Aqui em Mineiros está em sua grande maioria suspensa a coleta de leite os produtores estão jogando fora ou doando para a população”, ressalta um outro produtor.
“Em Paraúna/GO a última coleta foi no dia 21 de maio. Até agora pela manhã, sem previsão de nova coleta”. “Aqui em Goiás muitos produtores tendo que descartar leite, jogando fora. Alguns poucos com coleta”.
O presidente da SGPA, Tasso Jayme, mantém-se preocupado como líder classista com a situação em geral dos pecuaristas e dos agricultores. “Esse movimento grevista prejudica a todos. Tanto no campo quanto nas cidades”, diz,observando que na 73ª Exposição Agropecuária, que se encerra amanhã, não sofreu maiores prejuízos. Segundo ele, “até agora tudo transcorre bem”. E para a feira, as perspectivas são animadoras quanto à presença de público e de negócios.